Prova de fogo para Theresa May em cimeira centrada no Brexit

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De  Isabel Marques da Silva
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Para analisar o que está em jogo na cimeira da UE sobre o Brexit, a euronews entrevistou Charles de Marcilly, diretor da delegação em Bruxelas da Fundação Robert Schuman.

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A primeira-ministra britânica, Theresa May, falhou a sua última tentativa de lóbi para que a segunda fase das negociações do Brexit, sobre o acordo comercial, seja paralela à fase do divórcio.

Esse foi o tema do jantar com o presidente da comissão europeia, Jean-Claude Juncker, segunda-feira, em Bruxelas, na véspera da reunião dos chefes da diplomacia da União Europeia sobre a cimeira de líderes.

Os ministros dos Negócios Estrangeiros prepararam o rascunho do documento de conclusões da cimeira (que decorre quinta e sexta-feira), que deverá realçar a necessidade de fechar as três questões pendentes.

Em causa estão os direitos dos cidadãos, os compromissos financeiros e a fronteira na Irlanda.

“Falar agora sobre a fase de transpiração é uma proposta do Reino Unido, mas só poderá ser levada em consideração se for obtido o acordo sobre o divórcio, como previsto no artigo 50, o que ainda não é o caso. Espero que possa sê-lo em dezembro”, disse o ministro luxemburguês, Jean Asselborn.

Theresa May também tentou obter mais flexibilidade por parte do chamado eixo franco-alemão, mas nem o Presidente francês nem a chanceler alemã se desviaram da rota traçada depois do artigo 50 ter sido invocado, em março passado.

A segunda fase negocial poderá vir a ser desencadeada na cimeira da UE de dezembro.

Para analisar o que está em jogo na cimeira, o correspondente da euronews, Grégory Lory, entrevistou Charles de Marcilly, diretor da delegação em Bruxelas da Fundação Robert Schuman.

euonews: É de esperar que haja progressos no Brexit após esta cimeira?

Charles de Marcilly: Essa é a grande questão. Deveremos ter algum progresso, que é necessário, mas não espero um entusiasmo transbordante. É verdade que as negociações são demoradas e que não avançam à velocidade desejada. Os chefes de Estado e de governo mandataram a Comissão Europeia e o negociador-chefe, Michel Barnier, para fazerem esse trabalho mas, chegados à quinta ronda de negociações, temos a sensação de que ainda estamos no ponto em que estávamos da primeira ronda. Haverá um debate e sabemos que a estratégia da Theresa May é tentar colocar o tema ao nível mais alto possível, sem entrar nos detalhes. E temos a impressão de que isso irrita toda a gente.

euronews: Theresa May jantou com Jean-Claude Juncker no início desta semana. Saiu daí alguma coisa que possa fazer avançar as negociações?

Charles de Marcilly: Sabemos que após a ronda de negociações da semana passada, e a conferência de imprensa com os dois principais negociadores, as coisas ficaram muito frias. Vemos que existem claras divergências, até na percepção sobre o real progresso das negociações. A mensagem geral que passou é que a situação se cristalizou. Depois da reunião de segunda-feira à noite, foi emitido um comunicado de imprensa por parte da Comissão Europeia que se revelou bastante paradoxal. Quando se lê o comunicado, percebe-se que não tem absolutamente nada de novo. Se este comunicado tivesse sido apresentado em janeiro, teríamos o mesmo conteúdo. Mesmo do ponto de vista da imagem não se mostrou muito: vimos Theresa May a apertar a mão de Juncker, a entrar no carro e a ir-se embora. Poderíamos ter um pouco mais de calor humano.

euronews: No entanto, a União Europeia fez desta cimeira um passo importante no calendário das negociações….

Charles de Marcilly: A União Europeia e o Reino Unido! Devemos lembrar que, diante da falta de progresso, Theresa May fez vários discursos, especialmente um em Itália, apelando a que se avance mais. Normalmente, tal deveria mostrar a determinação dos britânicos, que pensam que isso é em si um sinal de progresso pela sua parte. Agora, esperam o mesmo dos europeus. O problema é que os europeus compreendem essa lógica política, mas não consideram que traga nada de novo do ponto de vista prático. E é aí que existe uma divergência. Mais uma vez, os britânicos querem debater o assunto de um ponto de vista apenas político, enquanto os europeus querem passar para o plano técnico.

euronews: Na questão da fronteira entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte, qual é a posição da União e qual é a do Reino Unido? Há avanços nessse ponto?

Charles de Marcilly: Sim e não. Tem sido uma das prioridades dos europeus. Após a segunda ronda negocial, os britânicos reconheceram que era realmente uma prioridade. Os europeus dizem: “É o Reino Unido que se vai embora, por isso cabe-lhe ser criativo e encontrar uma solução. No entanto, em todos os documentos de propostas não existe uma solução que seja realmente explícita. Fala-se de repor alguns pontos de fronteira, estimamos entre cinco a 10. Do ponto de vista prático, é muito complicado de implementar, por iso continua a ser uma interrogação. Noutros assuntos, nomeadamante no chamado cheque britânico, ou a fatura que devem pagar, também não há compromisso firme por parte dos britânicos. Houve fugas de informação para a imprensa nas quais se dizia que aceitariam pagar entre 20 e 40 mil milhões de euros. Já as estimativas dos europeus estão mais próximas dos 100 mil milhões de euros. Portanto, temos aqui um problema de fundo, porque a conclusão destes dossiês deveria conduzir à segunda fase negocial, mas não houve avanços.

euronews: Falava-se de começar a segunda fase negocial, mas vemos que é demasiado cedo para isso. A nova meta aponta para a cimeira de dezembro. Isso é realista, dadas as dificuldades de progresso entre as duas partes?

Charles de Marcilly: Os europeus acabaram por não fazer muitas concessões porque sentem que os britânicos não fizeram reais progressos. Do lado britânico, existe um sério problema ao nível da sua política interna. Em vez de negociarem em Bruxelas como uma frente unida, vemos que membros do Partido Conservador, e mesmo ministros de Teresa May, têm percepções muito divergentes. Nestas condições, o único modus operandi que podem ter quando chegam a Bruxelas é mostrar firmeza sobre o ponto de partida das negociações. Essa é a razão pela qual há o sentimento de que, entre a primeira e a quinta ronda negocial, na semana passada, está tudo num impasse, quase não há progresso. Cabe a Theresa May demonstrar o seu talento diplomático, esta semana, para convencer os chefes de Estado e governo de que há progressos, conseguindo, talvez, ficar mais perto de ganhar o braço-de-ferro. Contudo, enquanto os europeus mantiverem a frente unida, Theresa May estará sempre numa posição de fraqueza.

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