ELN ameaça rejeitar acordo de paz na Colômbia

ELN ameaça rejeitar acordo de paz na Colômbia
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A euronews, em exclusivo, nas bases de treino militar do Exércio de Libertação Nacional, a maior guerrilha colombiana depois do desarmamento das FARC.

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O Exército de Libertação Nacional (ELN) é atualmente o maior grupo rebelde armado da Colômbia. Depois do desarmamento das Forças Armadas Revolucionárias (FARC), tornou-os na última grande guerrilha no país.

Com uma negociação de paz com o governo colombiano a decorrer em Quito, no Equador, até 09 de janeiro, o ELN concedeu à euronews acesso exclusivo a bases remotas do grupo na selva colombiana para que pudéssemos testemunhar o dia-a-dia da guerrilha ao mesmo tempo que o processo de paz avança.

Vemos el barco de la Armada colombiana llegando al lugar del Encuentro Regional en Chocó. ELN_RANPAL_COL</a> luchoceliscnai@VerdadAbierta pic.twitter.com/S1G6FP4ztT

— Comandante Uriel (@UrielComandante) 12 de dezembro de 2017

Ao contrário das FARC, cujo financiamento estava ligado ao tráfico de droga, os fundos do ELN provêm maioritariamente de raptos e de extorsão.

Tal como a guerrilha rival, que declarou em meados deste ano “o adeus às armas e o adeus às guerras”, o ELN está a negociar o seu próprio acordo de paz e, após meio século de luta, a 01 de outubro acordou tréguas.

Frágeis, contudo, e com várias ameaças ao sucesso.

O comandante da frente de guerra ocidental “Omar Gómez” acusa o Governo pela instabilidade das negociações.

“Dizem da boca para fora que querem a paz, mas na prática não o vemos. O que vemos são ações de guerra. Vemos mais líderes assassinados e a saúde mais deteriorada”, afirmou o líder militar apelidado “Uriel” à nossa reportagem.

Saboteo por parte del Estado colombiano a las iniciativas de paz del #ELN en #Chocó

Uma publicação partilhada por Comandante Uriel (@comandanteuriel) a Dez 12, 2017 às 8:45 PST

O ELN não esconde a desconfiança perante o governo colombiano e justifica-a com as mudanças impostas no respetivo acordo por comparação com o das FARC.

“Pensávamos que os acordos estavam blindados. Foi isso que foi apresentado à opinião pública. Blindados pela Justiça Especial de Paz (JEP), que foi pactuado um ano antes do acordo final e que lhes garantia segurança jurídica. Diante da ONU e da comunidade internacional supostamente estavam blindados. E agora o que estão a fazer? Alteraram-no”, acusou “Uriel.”

O ELN alega pretender um acordo que acabe com as desigualdades na Colômbia.

https://t.co/rGzsAraWFa

— Noticias RCN (@NoticiasRCN) 3 de dezembro de 2017

As FARC e o ELN formaram-se em 1964 com o objetivo de lutar pelo direito à terra e proteger as pobres comunidades rurais.

O ELN acredita que o acordo das FARC não garante esses princípios, como nos contou o comandante da frente de guerra “Ernesto ‘Che’ Guevara.”

“Nós somos o Exército de Libertação Nacional. Os velhos que estão lá sentados [em Quito] a negociar devem ser muito cuidadosos e olhar para isto com óculos. Porque esse pacto assinado com as FARC, em Havana, é uma demonstração e um exemplo para nós não seguirmos”, referiu o líder militar apelidado “Julio.”

Chefe negociador do governo colombiano com o ELN pede para deixar cargo https://t.co/SEgNNELpJ5#Colombiapic.twitter.com/4Be1jn9KvA

— Agência EFE Brasil (@BrasilEFE) 4 de dezembro de 2017

Enquanto prosseguem as negociações no Equador, o ELN mantém as rotinas.

A história da guerrilha é ensinada. Espingardas misturam-se com cadernos de apontamentos nas salas de aula.

Tal como as FARC, o ELN nasceu há pouco mais de cinquenta anos, mas viveu sempre ofuscado pela guerrilha rival.

“Fomos ignorados pela imprensa. Nos tempos das FARC, tudo era FARC. Inclusive ações do ELN eram atribuídas às FARC. O ELN não existia”, lamentou “Uriel”.

O líder militar da chamada “Omar Gómez”, a frente de guerra ocidental, acrescenta que “uma vez desmobilizadas as FARC”, as forças no poder “precisaram de um novo inimigo” até “porque grande parte do eleitorado e grande parte da legitimidade de quem manda”, acusa “Uriel”, “é baseado no medo da população.”

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Algumas zonas antes dominadas pelas FARC, são agora palcos de confrontos por grupos rivais em busca de poder e do controlo dos respetivos recursos locais.

El ELN asume la autoría del asesinato de 13 personas en el sur de Colombia https://t.co/1D2PjQC00E

— EL PAÍS (@el_pais) 9 de dezembro de 2017

O ELN tem cobrado impostos sobre o tráfico de droga e a prospeção mineira clandestina, mantendo também os raptos. Por isso, é considerado pela União Europeia como uma organização terrorista.

“Sabemos que a União Europeia faz parte do imperialismo mundial. [Os países europeus] juntaram-se exatamente para fazer um contrapeso mais forte ao imperialismo dominante norte-americano”, defende “Uriel.”

O ELN está convencido de que o recurso às armas ainda será necessário na Colômbia. “Uriel” garante que o poder de acabar com a guerrilha “está nas mãos” dos governantes. “Como? Tirem-nos os argumentos”, disse.

“Quando o povo tiver todo o necessário para viver, todas as oportunidades, por que motivo irá continuar a considerar a guerrilha como opção? Quem é capaz de levantar uma guerrilha na Noruega ou na Finlândia?”, questionou o líder da frente de guerra ocidental, comparando a realidade social destes dois países europeus com a da Colômbia.

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Justificada pela desconfiança e pela fragilidade das negociações, a preparação militar não para. O ELN acredita que se não for possível prolongar as tréguas para lá de 09 de janeiro, vão ser atacados em força pelo exército colombiano.

Um dos guerrilheiros do ELN assumiu mesmo à euronews a necessidade do grupo “estar preparado”. Mesmo quando acabar, vamos continuar a lutar”, anteviu um guerrilheiro identificado como “Jonathan.”

Sin armas ni uniforme Frente de Guerra Occidental dialoga con comunidades, etnias y organizaciones sociales del Chocó. Sumamente grave la llegada de tropas del Ejército fuertemente armadas. pic.twitter.com/QIN5rIJP8T

— ELN Paz (@ELN_Paz) 12 de dezembro de 2017

Após meio século de conflito, mais de 250.000 mortos e sete milhões de refugiados, o processo de paz para a Colômbia prossegue numa mesa do Equador, mas frágil.

O nosso enviado especial ao esconderijo da guerrilha conta-nos que “o ELN mantém os exercícios militares prevenindo um eventual fracasso das negociações de Quito, mas também por causa das eleições em meados do próximo ano na Colômbia.”

“Uma vitória da oposição liderada por Álvaro Uribe, que já se mostrou contrário aos acordos de Havana com as FARC, pode introduzir novos termos nas negociações com o ELN. Termos que talvez não sejam aceites por esta guerrilha”, adverte Héctor Estepa, em representação da Euronews algures nas florestas húmidas de Chocó, um dos trinta departamentos colombianos, situado na região noroeste do país.

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Seguimos empeñados en la construcción conjunta, a pesar de los sabotajes. DiariodelSur</a> <a href="https://twitter.com/DeCurreaLugo?ref_src=twsrc%5Etfw">DeCurreaLugoluchoceliscnai</a> <a href="https://twitter.com/VerdadAbierta?ref_src=twsrc%5Etfw">VerdadAbiertapic.twitter.com/Ov8KRhpXZw

— Comandante Uriel (@UrielComandante) 13 de dezembro de 2017

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