Morreu Madalena Iglésias, representante portuguesa no Eurofestival de 1966

A cidade do Luxemburgo era, na altura, a capital da Eurovisão. O Grão-Ducado enviava canções em francês, muitas vezes, cantadas por intérpretes franceses, como France Gall, que tinha ganho um ano antes, em Nápoles.
As vitórias do pequeno país sucediam-se. Portugal tinha começado a participar apenas dois anos antes. O Salazarismo e as colónias faziam o país Ibérico algo impopular.
O ano era 1966. Madalena foi a oitava a subir ao palco do Villa Louvigny, no Parque Municipal.
Ainda que longe do êxito europeu de Gall ou Hardy - a língua não era a mesma e o país, muito menos - Madalena tinha uma presença cativante.
Naquele intervalo que separa as canções e durante o qual os comentadores aproveitam para descrever os representantes, o comentador da ORTF disse que tinha Madalena Iglesias "Un très joli nom".
Por trás de Madalena, a decoração resumia-se a algo parecido com três espanta-espíritos gigantes. Os tempos eram outros e os led demorariam a chegar, como demoraria uma vitória como a de Salvador Sobral, mais de 50 anos depois.
Os violinos deram a nota e Madalena deu, como sempre, o seu melhor. O cabelo armado, o vestido curto, os gestos das canções do anos 60, demasiado modernas para alguns.
A prestação merecia mais, mas Portugal recebeu apenas seis pontos e ficou em 13º lugar, de 18 representantes - o Eurofestival era, na altura, mais popular do que nunca.
A vitória foi para o austríaco Udo Jürgens, com merci chéri, num pódio dominado pela Escandinávia e pelos países do nordeste europeu.
Madalena, muito mais do que 1966
Mas a vida de uma das grandes cantoras portuguesas da época da TV não se resume ao Eurofestival.
Madalena Lucília Iglésias Doval nasceu a 24 de outubro de 1939, na freguesia de Santa Catarina, em Lisboa. Iniciou carreira no Centro de Preparação de Artistas, da antiga Emissora Nacional.
Antes de vencer o Festival RTP da Canção, a artista já se tinha apresentado a um festival, em 1959 na televisão espanhola. Em 1960, foi eleita por votação popular, através de subscritos, Rainha da Rádio e da Televisão.
Em 1962 representou Portugal no Festival de Benidorm, o que lhe abriu as portas do mercado internacional. Realizou digressões por Espanha e pela América do Sul, gravou para a discográfica Belter e concorreu a festivais internacionais.
"Meu nome é Madalena Iglésias"
Em 2008, em declarações à agência de notícias Lusa, disse que sempre se sentiu perseguida pelo complexo da beleza, apesar de reconhecer que "estava à frente" do seu tempo.
A entrevista teve lugar quando foi publicada a fotobiografia da cantora, com o título, “Meu nome é Madalena Iglésias”, de autoria de Maria de Lourdes de Carvalho.
No texto de abertura, a cantora referiu-se à sua carreira como “um caminho percorrido com entusiasmo, alegria, êxitos e algumas nuvens”, ao mesmo tempo que garantia: “Tenho um pouco do que vibrei!”.
Madalena Iglésias morreu, aos 78 anos numa clínica da cidade espanhola de Barcelona.
Além de “Ele e Ela”, do repertório da cantora fazem parte canções como "Silêncio Entre Nós", "Poema de Nós Dois", "Canção para um poeta", "Canção Que Alguém Me Cantou", "É Você, "Oração Na Neve" e "De Longe, Longe, Longe…", “Canção de Aveiro”, “Cuando Sali de Cuba”, “Ven esta noche”, “La frontera” e “La más bella del baile”.