O impacto da digitalização na indústria do turismo

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Viajar começa muitas vezes em casa, com alguns cliques no computador.

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Viajar começa muitas vezes em casa, com alguns cliques no computador. A digitalização mudou o turismo. Explorar novos destinos, reservar, planear atividades para as férias e até fazer comentários pós-férias sobre as experiências vividas acontece, quase sempre, através da Internet.

Como é que a revolução digital mudou o turismo e as viagens? Fomos até ao principal mercado do setor para perceber melhor.

Sebastian Saam, euronews – Na Feira Internacional de Turismo de Berlim, ITB, a digitalização é a palavra-chave para os 10 mil expositores de 186 países.

Aplicações, redes sociais, realidade virtual, vídeos a 360º marcam o fim do turismo tradicional como o conhecemos. O mundo digital tornou-se num tópico do qual não é possível escapar em feiras de turismo. Independentemente da pessoa com a qual se falar todos são unânimes em reconhecer que é muito importante e inovador.

Os turistas de hoje interagem a todos os níveis das respetivas viagens. Uma boa experiência e, paralelamente, uma má, pode agora, mais do que nunca, ser exposta através das redes sociais.

Sebastian Saam, euronews – A digitalização mudou as expectativas dos turistas e a indústria precisa de adaptar-se. Como é que os destinos fazem isto?

As praias das Seicheles são de cortar a respiração. Mas de que forma é que este paraíso tropical, distante de grande parte dos clientes potenciais, pode espalhar a palavra de forma efetiva?

O arquipélago no Oceano Índico usa cada vez mais aos canais digitais deixando os chamados “influenciadores” assumirem, temporariamente, o controlo das contas nas redes sociais. O Conselho Nacional de Turismo diz que estas pessoas não são pagas. Em troca podem usar a beleza do país como pano de fundo para impressionar e alargar os próprios seguidores.

“O que fizeram foi redirecionar muito do tráfego deles para as nossas páginas nas redes sociais. Uma vez que as pessoas estão lá, ficam lá. Agora são nossos seguidores mesmo uma semana depois de os influenciadores nos devolverem o controlo da página”, explica Sherin Francis, do Conselho de Turismo das Seicheles.

Um casal romeno venceu, com um vídeo, um concurso que pede aos turistas para filmarem as respetivas experiências. O prémio foi outra viagem às Seicheles, desta vez à villa presidencial do North Island.

Pode ser um pouco excêntrico e fora do comum, por vezes, mas todos os participantes produziram gravações gratuitas para as Seicheles.

“A quantidade de conteúdo é fantástica. Teríamos de pagar 50 mil dólares para uma empresa produzir este conteúdo. Conseguimos fazê-lo através de uma competição. Claro que faremos mais iniciativas do género”, acrescenta Sherin Francis.

De que forma é que se consegue envolver o público-alvo? Esta é uma das questões centrais para a indústria do turismo na era digital. Quanto maior o público potencial, mais tem de se pensar numa escala macro.

“As pessoas estão coladas aos telefones. Por isso criámos aplicações, filmes para grande ecrã para ajudar as pessoas a saber mais sobre os destinos”, refere Cathy Domanico, vice-presidente na Brand USA.

Os EUA acabam de lançar não o primeiro website ou página nas redes sociais mas a primeira, no seu género, rede de televisão conectada chamada “Go USA.” É uma fonte para conteúdo de vídeo on-demand sobre experiências de viagens nos EUA, em episódios isolados ou até em séries de viagens.

A Brand USA diz que o objetivo é gerar três milhões de visualizações no primeiro ano da rede de televisão.

“É uma excelente plataforma, carregada de conteúdo sobre vários destinos e o público pode ver facilmente”, acrescenta Cathy Domanico.

Sebastian Saam, euronews – O mundo em peso está na Feira Internacional de Turismo de Berlim, ITB. De certa forma é como se as férias começassem aqui. E a viagem dos EUA ao Cazaquistão dura apenas dois minutos.

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O Cazaquistão, o maior país da Ásia Central, procura envolver digitalmente os turistas também através de jogos e aplicações. Vai lançar um jogo online através do qual os turistas poderão explorar cem lugares sagrados.

“Haverá uma aplicação na qual se obtém uma espécie de divisa, como moedas. Quanto mais se progredir a visitar e conhecer estes cem lugares mais títulos se conseguirá. O prémio máximo será Khan. As moedas que se conseguir enquanto se viaja poderão ser convertidas em dinheiro ou usadas para fazer um upgrade no voo, dependendo dos parceiros que tenhamos neste programa”, sublinha Kairat Sadvakassov, vice-presidente do Turismo do Cazaquistão.

A aplicação terá conteúdo quer para jogar virtualmente quer relacionado com geolocalização, o que significa que só se pode descobrir no terreno, nas várias paisagens e ecossistemas do Cazaquistão.

Apesar de neste momento o jogo ser maioritariamente para um público interno, o Turismo do Cazaquistão diz que o “engagement” é um domínio ainda longe de estar completamente descoberto, quer nacional quer internacionalmente.

Tempo para respirar fundo. Apenas diversão ao sol para as férias parece ser coisa do passado. Atualmente os turistas querem mais. Experiência do utilizador, personalização e proatividade das ofertas. Todas estas coisas contam. Destinos como a Índia estão a par destas mudanças.

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“Atualmente as pessoas não viajam apenas por viajar. As pessoas querem ter experiências individuais. Por isso, tudo depende do feedback no conjunto. Penso que isso influenciou a tomada de decisão das pessoas. Isto é verdade para os jovens, mas quando se refere jovens qualquer pessoa até aos 60 anos de idade é bastante jovem hoje em dia”, diz o ministro indiano do Turismo, Alphons Kannanthanam.

Independentemente da idade, as expectativas são elevadas. O Estado Indiano de Orissa tenta atender a essas expectativas com conteúdo diversificado para as redes sociais. O conteúdo é uma palavra-chave nos canais digitais. Os destinos de viagens precisam de produzir o máximo de conteúdo possível e de forma constante.

“A nossa presença é quase em tempo real. Quando algo de importante acontece enquanto estamos na Feira Internacional de Turismo de Berlim – o nosso stand foi inaugurado pelo ministro do Turismo da Índia por exemplo – enviamos atualizações em tempo real e é assim que conquistamos muitos seguidores”, explica Nitin B. Jawale, diretor de Turismo do Governo de Orissa.

Das praias e templos indianos a uma zona de tragédia. A Realidade Virtual – uma tecnologia bem posicionada para mudar as nossas vidas diárias – também entusiasma a indústria do turismo.

O interessante da realidade virtual é que é possível ir a lugares como Chernobyl, que não convidam necessariamente a um passeio mas que despertam muita curiosidade.

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Uma empresa polaca desenvolveu um projeto que não é apenas visual mas também narrativo. Fala do destino das pessoas envolvidas na tragédia de Chernobyl. A visita ao reator nuclear e ao meio envolvente também tem uma função educativa.

A exploração virtual dos espaços é cada vez mais importante para a indústria do turismo também por outra razão.

Sebastian Saam, euronews – O que vemos na Feira Internacional de Turismo é apenas uma parte da realidade. Mas na realidade virtual estamos completamente imersos. A palavra-passe é vídeos de 360º, uma das maiores tendências na Feira. Torna-se relevante para o turismo quando se fala de visitas virtuais o que significa descobrir novos destinos potenciais a partir de casa.”

Naturalmente, os visitantes da Feira de Berlim não se deslocam para ver apenas o impacto do nuclear através dos óculos de realidade virtual. Bem pelo contrário. Procuram mais praias virgens com céu azul, como na República Dominicana. E parece funcionar para alguns.

“É interessante porque consegue ver-se tudo em 360º e tem-se a sensação de estar lá e de olhar ao redor. Também é um pouco estranho, mas cria a vontade de ir ao local imediatamente”, diz Tanja Sierts, visitante da Feira Internacional de Turismo de Berlim.

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A nação caribenha quer aumentar a vertente virtual no futuro.

“Na minha perspetiva, como profissional da indústria, posso dizer que se trata apenas do começo”, sublinha Petra Cruz, diretora do Ministério do Turismo da República Dominicana para a Europa.

O mundo digital está em todo o lado. Mas o que dizer em relação aos países já bem estabelecidos como destinos turísticos e que todos querem visitar? Como Itália, por exemplo. Precisa disto? A resposta é sim.

“No turismo, neste momento, o importante é contar uma história. É importante saber o que o turista sente depois de ter visitado uma certa região, a sensação de ter visto algo único”, explica Giovanni Bastianelli, diretor da Agência Nacional de Turismo Italiano.

Trata-se de uma questão de narrativa. A região de Friul-Veneza Júlia deixa as próprias pessoas fazerem o trabalho. 300 escritores locais selecionados de diferentes setores assumem as rédeas do marketing relacionando tudo com as experiências domésticas reais.

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Os visitantes podem falar diretamente com eles através das redes sociais.

“Escrevem sobre as experiências em três línguas: italiano, inglês e alemão. A informação é carregada num blogue e alimenta todos os canais de Facebook não só do destino mas também dos bloggers. Isto cria ‘engagement’, para uma partilha alargada do conteúdo que alcança muito mais pessoas do que a forma tradicional de publicidade”, diz Bruno Boter, diretor de Marketing para a promoção do turismo na região de Friul-Veneza Júlia.

Hospitalidade no turismo é um elemento chave para o sucesso. Mas a internet, em particular no campo da hospitalidade e apesar das possibilidades que oferece, também tem um poder disruptivo. Plataformas como o Airbnb revolucionaram o modelo de negócio.

“O Airbnb é uma plataforma que deu uma grande oportunidade a uma comunidade para crescer no mercado. Por isso, damos-lhes as boas-vindas para operarem na Malásia. Contribuem para a comunidade no que diz respeito à economia”, ressalva Dato Sri Abdul Khani Daud, vice-diretor-geral do Conselho de Promoção de Turismo da Malásia.

A Malásia diz que tem de abraçar plataformas digitais como o Airbnb. Afinal de contas, o país do sudeste asiático recebe cerca de 27 milhões de turistas por ano. Muitos recorrem a formas alternativas de alojamento o que é uma tendência que países como a Malásia têm de lidar.

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A digitalização é verdadeiramente global? De que forma é que os viajantes podem recorrer ao digital na China, por exemplo, onde as redes sociais ocidentais muitas vezes não funcionam?

A plataforma chinesa de redes sociais multi-propósito WeChat, já usada por cerca de mil milhões de pessoas, ainda tem limitações para os visitantes estrangeiros.

“Desenvolveu-se muito rápido, mas é apenas na língua local. O próximo passo, no futuro, é desenvolvê-la em inglês, o que significa que poderá ser usada pelos turistas de fora também”, explica Luo Jian Zhang, da Comissão de Desenvolvimento de Turismo Municipal de Guilin.

Viajar para a China no futuro pode tornar-se muito mais acessível para os ocidentais. E o WeChat pode, potencialmente, transformar-se numa grande ferramenta para explorar regiões como Guilin, entre os destinos mais populares na China apesar de desconhecido no Ocidente.

Que futuro para as formas tradicionais de marketing? Tudo tem de ser digital? Quais os custos de tudo isto?

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“Não é caro tornar-se digital. Isto surpreendeu-me. É bastante barato se comparado com os anúncios tradicionais na televisão. Definitivamente, a combinação de ambos é a mais rentável em termos de publicidade e de resultados”, refere a ministra búlgara do Turismo, Nikolina Angelkova.

Nem tudo se resume a preparar, gastar e avaliar as férias digitalmente. Mais: nenhum vídeo de 360º pode substituir experiências vivas como a tradição secular da apanha das rosas na Bulgária. Ainda assim o digital abriu novos horizontes para o mundo do turismo. Por vezes também se produzem histórias fantásticas.

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