Presidente da Nicarágua deu entrevista a canal de informação panamericano, dias depois da morte de estudante brasileira em Manágua.
Manuel Ortega disse que seria "ideal" um diálogo com Donald Trump para travar o que definiu como a "política dos Estados Unidos contra o seu país," que pensa ser "de intervencionismo." Ortega disse ainda que o diálogo e o consenso são "os seus princípios", estando, por isso, aberto ao diálogo com os empresários do país e com a Conferência Episcopal.
Para Ortega, o "veneno" que existe na Nicarágua relaciona-se com o "intervencionismo norte-americano" e com "grupos de extrema-direita."
As declarações do presidente nicaraguense foram recolhidas pelo canal de informação panamericano Telesur, com sede em Caracas, Venezuela.
Daniel Ortega disse ainda que a violência que se faz sentir na Nicarágua, desde o mês de abril, fica a dever-se a grupos financiados por interesses internos e externos, mas cuja base política se encontra em Miami.
"É lá que se encontram os membros do Congresso e do Senado que sentem que têm o dever acabar com o sandinismo. Podemos ver como estes congressistas e como estes senadores têm como alvo Cuba, Venezuela e a Nicarágua."
O presidente nicaraguense disse ainda à Telesur que, durante os protestos no seu país, houve semelhanças com as manifestações do ano passado na Venezuela e garantiu que há fundos disponíveis para "levar essa experiência à Venezuela."
"Vieram mesmo venezuelanos aqui," disse. "Participaram nas guarimbas" - nome dado aos protestos violentos - "porque são peritos na gestão de redes sociais e viajaram com jóvens financiados pelos Estados Unidos."
Entretanto, o Governo brasileiro convocou a embaixadora da Nicarágua em Brasília, depois da morte de uma estudante no mais recente episódio dos confrontos.
Juntamente com a jovem, morreram também seis manifestantes, três sandinistas e três opositores ao Governo de Ortega. Vários polícias ficaram feridos.
A brasileira, que estudava medicina, terá sido morta por paramilitares, alegadamente apoiados pelo Governo.
CIDH responsabiliza Estado nicaraguense
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos aumentou terça-feira o número de mortos por causa dos protestos na Nicarágua para 295, no contexto da crise social e política, que teve início no passado 18 de abril.
O secretário executivo da CIDH, o brasileiro Paulo Abrão, deu a conhecer o mais recente número na rede social Twitter. No entanto, várias organizações nicaraguenses dizem que o montante é bastante superior e falam em mais de 350 mortos.
Paulo Abrão disse que 76 mortos foram contabilizados durante a visita da CIDH à Nicarágua, no fim do mês de maio, 212 em junho e 264 no princípio deste mês de julho. Foi dia 24 que chegaram a 295.
O secretário executivo da CIDH disse à agência EFE que o Estado nicaraguense é o "único responsável" pela violência no país centro-americano. Abrão diz que pensa que Manágua utilizou as forças de segurança para "reprimir, matar, ferir" e levar a cabo "detenções arbitrárias."
O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, disse que a violência na Nicarágua é patrocinada pelo Estado e que o Executivo deve ser responsabilizado pelas mortes que têm acontecido desde abril.
"A propaganda de Ortega não engana ninguém e não muda nada. (...) O Governo dos Estados Unidos pede que o Governo de Ortega ponha fim à violência e JÁ e que leve a cabo eleições antecipadas," escreveu Pence na conta oficial da rede social Twitter.
A Nicarágua atravessa a mais sangrenta crise da história do país centro-americano em tempos de paz e a mais grave desde os anos 80. Na altura, Daniel Ortega era também o presidente da República.
Os protestos contra Daniel Ortega e contra a vice-presidente Rosario Murillo começaram a 18 de abril.
São o fruto de um conjunto de reformas frustradas levadas a cabo pelo Executivo a respeito da Segurança Social. Os manifestantes, muitos dos quais, estudantes, exigiram a demissão do presidente.
José Daniel Ortega Saavedra foi presidente da Nicarágua entre 1985 e 1990.
Voltou ao cargo em 2006 e foi reeleito em 2011 e 2016. Encontra-se há 11 anos no poder e enfrenta acusações de abuso e de corrupção . É membro da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN, esquerda) desde 1962.