Museu Nacional renasce das cinzas: tudo o que precisa de saber

"Quando Nem Tudo Era Gelo", a nova exposição do Museu Nacional do Brasil
"Quando Nem Tudo Era Gelo", a nova exposição do Museu Nacional do Brasil
De  Francisco Marques
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O palácio do antigo Museu Real, fundado por portugueses em 1818, e o acervo de quase 20 milhões de peças foram praticamente arrasados pelo incêndio de setembro

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O Museu Nacional do Brasil renasceu das cinzas esta semana com a abertura na quinta-feira da primeira exposição após o incêndio de setembro.

O fogo destruiu quase por completo o Palácio São Cristóvão, onde estava guardada uma das maiores coleções antropológicas e de história natural das Américas.

Perdido nas cinzas ficou também grande parte do acervo de quase 20 milhões de peças recolhidas ao longo dos mais de 200 anos de história do original Museu Real, fundado por portugueses a 06 de junho de 1818.

A nova coleção pôde abrir portas graças à cedência de duas salas pelo Museu da Casa da Moeda do Brasil, situado no centro do Rio de Janeiro, e que foi a primeira casa do Museu Real.

"Quando Nem Tudo Era Gelo - Novas Descobertas no Continente Antártico", a nova exposição, resulta do projeto Paleoantar, que se dedica à recolha de rochas e fósseis daquele continente inóspito.

A mostra conta com 160 peças em exibição, das quais oito fazem parte de um lote de 1500 resgatadas dos escombros do Palácio São Cristóvão até dezembro.

Entre as peças recuperadas, mas alheia ao conceito desta primeira mostra, estão o crânio e o fémur de "Luzia", tido como o esqueleto humano mais antigo das Américas.

Esta primeira exposição após o incêndio de setembro já estava prevista antes do incidente. Devia ter aberto ao público em outubro, mas teve de ser suspensa.

A curadora de "Quando Nem Tudo Era Gelo", Juliana Sayão, explicou a importância desta mostra sobre a Antártica, onde "nunca nenhuma população humana habitou". "É um continente com essa assinatura pura", reforçou.

A paleontóloga da Universidade Federal de Pernambuco e investigadora cedida ao Museu Nacional salienta ainda a importância desta nova exposição no alerta para os impactos na vida humana das alterações climáticas.

"Mexendo com o clima, mexe-se com a diversidade. Altera-se a flora, a fauna e a cadeia alimentar", resumiu Juliana Sayão.

"Quando Nem Tudo Era Gelo - Novas Descobertas no Continente Antártico" vai estar em exibição no Museu da Casa da Moeda do Brasil até 17 de maio. Kellner já está porém a trabalhar no futuro desta primeira exposição pós incêndio.

"Estamos à procura de parceiros para fazer com que a exposição viaje", disse o diretor do Museu Nacional.

Trabalhos de recuperação do museu

Os trabalhos de resgate de peças no edifício onde funcionava o Museu Nacional, e que estava já visivelmente degradado meses antes do incêndio, está ainda no início, sublinha Alexandre Kellner.

"De dentes de tubarão, por exemplo, tínhamos uma coleção maravilhosa, mas estava numa sala onde ainda não entrámos", revelou o diretor, que aguarda uma resposta do novo governo de Jair Bolsonaro aos pedidos de reuniões sobre o processo de reconstrução do Palácio de São Cristóvão.

"Queremos mostrar o nosso plano ao Presidente. O Museu Nacional não está à deriva e esta exposição é a maior prova", afirmou Alexandre Kellner.

Os trabalhos de resgate estão a ser realizados por uma equipa de 10 investigadores coordenadores, 47 assistentes e colaboradores.

O diretor do Museu Nacional revelou que "os funcionários" estavam "ávidos para voltar à atividade da melhor forma possível" para "mostrar que o museu continua vivo e a desempenhar a sua função."

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Alexandre Kellner garante que o museu continua a investir na investigação. "É fundamental entender que o Museu Nacional continua vivo e a gerar pesquisa com diversos países", reforçou.

O Museu Nacional tem em caixa cerca de 85 milhões de reais (€20 milhões), incluindo 15 milhões de reais (€3,5 milhões) disponibilizados pelo Ministério da Educação para as obras mais urgentes e a elaboração de um novo projeto museológico, numa parceria com a UNESCO Brasil.

Outros 56 milhões de reais saíram do Orçamento da União para 2019, aprovado em dezembro pelo Congresso Nacional e ratificados recentemente pelo Presidente Bolsonaro, e que devem ter como destino a reconstrução da infraestrutura básica do edifício, incluindo paredes e teto definitivo.

O Ministério da Ciência e Tecnologia cedeu mais 10 milhões de reais para a reconstrução do prédio, a compra de equipamentos para os laboratórios do museu.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligado ao Ministério da Educação, comparticipou com 2,5 milhões de reais para retomar as investigações interrompidas pelo incêndio.

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O restante dinheiro em caixa resulta de doações do governo da Alemanha, da empresa Vale e de campanhas realizadas pelo próprio Museu Nacional.

Desde o final do ano passado, os interessados em conhecer o Museu Nacional do Brasil podem aceder a uma visita virtual, desenvolvida pela plataforma Google Street View, com imagens das principais salas e coleções que estavam acessíveis antes do incêndio.

Editor de vídeo • Francisco Marques

Outras fontes • Agência Brasil e Folha Press

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