O "Ato XII" do movimento incluiu uma homenagem às vítimas da repressão violenta das forças de segurança e teve um lusodescendente em destaque
O "Ato XII" do protesto dos "coletes amarelos" ficou marcado por novos confrontos violentos entre manifestantes e forças de segurança.
A 12.ª manifestação contra as políticas do Presidente Emmanuel Macron incluiu uma homenagem as vítimas da violência policial excessiva, reforçada pela decisão de véspera do Governo de continuar a autorizar o uso pela polícia das balas de borracha.
De acordo com os números das autoridades, este "Ato XII" contou com a mobilização por toda a França de 58.600 "coletes amarelos", o que significa uma redução face aos 69.000 estimados no "Ato XI", há uma semana.
Só em Paris, alega o Ministério do Interior, terão participado no protesto deste sábado 10.500 "coletes amarelos".
A estimativa do Gabinete de Ocorrência, um coletivo constituído por diversos meios de comunicação franceses, aponta para 13.800 manifestantes no protesto de sábado em Paris.
Certo é que entre os "coletes amarelos" mobilizados em Paris voltou a estar Jérôme Rodrigues, o lusodescendente ferido no olho direito há uma semana, na sequência da presumível deflagração de uma granada de gás lacrimogéneo GLI-F4.
Rodrigues foi inclusive aclamado como herói da resistência dos "coletes amarelos" e por várias vezes ao longo do dia dirigiu às palavras aos camaradas de protesto, ao mesmo tempo que ia partilhando o decorrer do dia pelas redes sociais.
"A coesão conduzirá à vitória", escreveu o lusodescendente no Facebook, na legenda a duas fotografias em que surge, de pala no olho, na companhia de vários manifestantes.
Rodrigues foi o mais mediático das recentes vítimas da alegada violenta repressão policial dos protestos dos "coletes amarelos", mas não foi o único.
Presentes estiveram também Antonio Barbetta e Patrick Galliand, dois manifestantes feridos no decorrer do "Ato II" do movimento, a 24 de novembro.
"A violência policial é abusiva. Estive em contacto com muitos dos feridos e posso garantir que são pessoas não violentas. Eu sou contra a violência de ambos os lados. Lamento as vítimas existentes dos dois lados, mas devo sublinhar ainda assim a existência de mais vítimas do lado dos 'coletes amarelos' do que do lado da polícia", afirmou Barbetta à agência Associated Press.
Outra vítima da repressão policial no "Ato II", Galliand disse à Reuters ter sido "importante partilhar o testemunho enquanto vítima".
"Nunca devia ter sido ferido. Não sou um vândalo, não sou um 'black bloc' nem o tipo de pessoas que atira coisas à polícia", defendeu-se Galliand.
O protesto deste sábado fez-se com muitos cartazes a criticar o uso pelas forças de seguranças das LBD-40, as espingardas de balas de borracha de calibre 40mm, e as GLI-F4, as granadas de gás lacrimogéneo com TNT no interior para ajudar a propagar fragmentos após a deflagração.
Os "coletes amarelos" alegam que o recurso a estas armas têm-se revelado um abuso das autoridades no confronto com os manifestantes.
Este sábado, as autoridades voltaram a fazer uso das armas de repressão, nomeadamente o gás lacrimogéneo, as balas de borracha e os canhões de água.
Mais de 30 manifestantes foram detidos pela polícia, na capital francesa, dos quais 21 ficaram em prisão preventiva, revelou a procuradoria de Paris.
em Bordéus, pelo menos 17 manifestantes foram detidos. Em Nantes, de acordo com a France Press, pelo menos dois polícias resultaram feridos em confrontos no âmbito do "Ato XII" dos "coletes amarelos.
Na Finisterra, em Morlaix, outro polícia necessitou de receber assistência e quatro pessoas foram detidas.
No leste do país, em Estrasburgo e Nancy, também se registaram confrontos. Pelo menos 32 pessoas foram detidas.
O ministro do Interior francês, Christophe Castaner, admitiu que a LBD é uma arma com capacidade de provocar ferimentos, mas defendeu a utilização pelas forças de segurança como medida de defesa "contra os desordeiros."
Entretanto, já ao final da tarde de sábado, Castaner condenou "fortemente", pelas redes sociais, "os danos e a violência cometidas" pelos manifestantes. "Obrigado às nossas forças da ordem pela mobilização, pelo sangue frio e pelo profissionalismo", escreveu o ministro francês do Interior.