“Eu quando votei pensei que era uma escolha clara, ou sim ou não, e afinal esse acabou por não ser, óbviamente, o caso.”-Alan, residente em Boston.
À medida que o dia 29 de março se aproxima a passos largos, o repórter Alexander Smith arrancou para uma volta pelo Reino Unido, com vista a avaliar o sentimento geral do eleitorado em relação ao brexit e fazer o ponto da situação.
Depois da paragem em Lambeth e Cardiff, o destino foi o distrito eleitoral de Blaenau Gwent, no coração da região do País de Gales, onde o brexit foi mais votado (62.03% votaram a favor da saída e 37.97% contra).
William Jenkins é agricultor em Blaenau Gwent e trabalhou a sua vida inteira na criação de ovelhas e de bovinos, um negócio de família que remonta a 1911.
“A Europa deu aos agricultores, e em particular ao País de Gales, estabilidade e segurança. Nós tínhamos um nível estável de procura para os nossos animais. E é por isso que estou com um pouco de medo porque vamos perder o negócio com a Europa por que lutámos ao longo de tantos anos. A verdade é que produzimos um produto que a Europa quer e precisa. E vamos perder essa segurança,” afirmou.
“Estou desapontado por irmos saír da União Europeia, mas chegámos aonde chegámos e temos que lidar o melhor possível com esta situação. Se sairmos da Europa sem qualquer tipo de acordo poderemos estar em sérios apuros, especialmente no setor agrícola aqui no País de Gales,” acrescentou.
A convicção de William Jenkins é perfilhada por outros adeptos da permanência na União Europeia pelo país fora. Mas, de acordo com sondagens, existem ainda milhões de pessoas que continuam a discordar. Para sabermos o porquê, fomos até Boston, a cidade inglesa que deu o nome á cidade do estado de Massachusetts, nos Estados Unidos. A cidade é uma verdadeira capital do brexit, já que a esmagadora maioria dos seus habitantes, votaram a favor da saída da União Europeia (75.56% votaram a favor da saída e 24.44% contra).
Fomos saber se o presente impasse político mudou ou não a opinião dos locais.
Alexander Smith: “Se houvesse outro referendo, votariam de maneira diferente?”
Alan: “Se os argumentos me pudessem convencer a mudar de idéia, sim. Eu quando votei pensei que era uma escolha clara, ou sim ou não, e afinal esse acabou por não ser, obviamente, o caso. Por isso se houvesse outro referendo teria que ser oferecida muito mais informação ao público para as pessoas ficarem absolutamente conscientes daquilo que está em causa e em que é que estão a votar, bem como das consequências."
Alan e Jenny, que viveram em Boston toda a vida, não nos disseram como votaram mas explicaram porque foi que tantas pessoas na sua cidade votaram a favor da saída da União Europeia.
Jenny: “Se fosse dar uma volta pela cidade à noite, teria dificuldade em encontrar um local.”
Alan: “Ter um influxo tão grande de nacionais de outros países na nossa região, cuja população é relativamente estavél, e num período de tempo tão curto, destabilizou o equilibrio populacional."
O surto de imigração para a cidade de Boston atingiu o auge em 2004, após a acessão à União Européia de dez novos países. No contexto da livre circulação de pessoas no espaço europeu, cidadãos de países incluíndo a Letónia, a Estónia e a Polónia estableceram residência no Reino Unido.
Ao fechar a conversa, Alexander Smith perguntou ao casal se está preocupado com a sua vida futura em Boston, dadas as muitas incertezas do momento, ao que Jenny se apressou a responder que não se pode preocupar porque “o que será, será.”
O próximo destino da nossa viagem pelo Reino Unido será por terras da Escócia, que quer permanecer na União Europeia.