Quase 60% dos refugiados do Mali na Mauritânia são crianças. O que pode ser feito para protegê-las do casamento precoce e do trabalho forçado?
Dos 55 mil refugiados malianos que vivem na Mauritânia 58% são crianças.
Desde 2012, mais de 135 mil pessoas foram obrigadas a abandonar o Mali. O campo de refugiados de Mbera é o único, na Mauritânia, que acolhe a população do Mali. Todos os dias chegam novas pessoas.
Atualmente Mbera acolhe vinte mil crianças em idade escolar. A vida num campo, longe do país de origem, em condições difíceis, tem um enorme impacto na educação das crianças. A ajuda humanitária da União Europeia tem vindo a apoiar a construção de escolas em Mbera.
"Estou feliz porque a educação é muito importante para mim, ajuda-me a ver o mundo de forma diferente", contou Sadio, uma jovem refugiada do Mali.
Educação ajuda a diminuir casamentos precoces
Sadio tem 17 anos e é mãe de uma menina de 2 anos. Para muitas crianças e adolescentes, os casamentos forçados e as gravidezes precoces são experiências traumáticas a que se juntam a violência da guerra e a impossibilidade de ir à escola.
"Fui obrigada a casar quando tinha 15 anos. O casamento falhou porque tive uma gravidez muito difícil. Quando sobrevivi a essa situação, os meus pais sugeriram que viesse para a Mauritânia", contou Sadio, refugiada Maliana.
Além dos casamentos precoces, as crianças que vivem em campos de refugiados correm um risco acrescido de serem obrigadas a trabalhar.
O Serviço de Ajuda Humanitária da União Europeia tem vindo a apoiar a Unicef e várias ONG para permitir que as crianças possam estudar.
"Perguntei-lhe se ela já tinha frequentado a escola. Ela disse-me que sim. Perguntei-lhe se ela era casada. Ela disse-me que era divorciada. Perguntei-lhe se ela queria voltar à escola e ela disse-me que sim, porque uma criança que tem um filho é uma criança vulnerável", explicou Rougi Deme, assistante social da ONG Ensemble pour la Solidarité et le Dévéloppement.
Mais de 4.600 crianças integradas na escola
Em Mbera, há oito escolas primárias. O elevado número de crianças é um desafio para a Unicef e para o Alto Comissariado para os Refugiados devido à escassez de professores e de salas de aulas. Apesar disso, há mais de cinco mil estudantes a frequentar as aulas no campo de refugiados maliano da Mauritânia.
"Algumas crianças chegaram em 2012, traumatizadas com o que se passou no norte do Mali. Ajudamo-las a reintegrarem a escola ou no caso dos jovens mais velhos, integramo-los em centros de alfabetização e educação informal", explicou Cheikou Wane, responsável pelo centro de proteção das crianças da Unicef.
Um dos projetos apoiados pela União Europeia é a construção de uma nova escola secundária em Mbera. Para a ajuda Humanitária da União Europeia, promover a educação em situações de emergência, é uma das melhores formas de garantir uma vida melhor para as crianças.
"A educação é um dos setores menos financiados na ajuda humanitária. Em primeiro lugar, apoia-se a alimentação, o alojamento, a saúde e o acesso à água. A educação recebe apenas três por centos dos fundos. Por isso, a Europa decidiu apoiar o setor. Conseguimos aumentar de um para dez por cento a parte do nosso orçamento dedicada à educação", explicou Isabel Coello, responsável da Ajuda Humanitária da União Europeia.