Presidente da Câmara dos Comuns rejeita colocar a votação acordo alcançado pelo primeiro-ministro em Bruxelas porque seria "repetitivo e uma desordem" faze-lo
Boris Johnson sofreu esta segunda-feira mais uma derrota na câmara baixa do Parlamento britânico ao ver rejeitada a proposta para que fosse votado, "sim" ou não", o acordo para o Brexit alcançado na semana passada em Bruxelas.
Com o tempo a esgotar-se para a data prevista de 31 de outubro e com um pedido controverso de adiamento enviado para Bruxelas, a rejeição foi explicada ao chefe do Governo britânico pelo presidente da Câmara dos Comuns.
"A moção desta segunda-feira é, na substância, a mesma de sábado e o Parlamento já decidiu a questão. Portanto, a minha decisão é a de que esta moção não será debatida nesta sessão porque seria repetitivo e uma desordem fazê-lo", afirmou John Bercow, no topo da Câmara.
No sábado, o acordo celebrado por Boris Johnson com os "27" foi debatido e acabou ultrapassado pela decisão do Parlamento de primeiro votar a legislação que o compõe, tendo sido o primeiro-ministro mandatado a pedir a Bruxelas um novo adiamento do Brexit até final de janeiro.
O que Boris Johnson fez numa carta não assinada enviada para os responsáveis europeus, seguida de uma outra, assinada, para os mesmos destinatários, a rejeitar um novo adiamento do processo.
Uma atitude reprovada pela oposição. "Está a comportar-se como um menino mimado. O Parlamento tomou uma decisão, ele deve cumpri-la. Enviar uma segunda carta a contradizer a primeira, para mim, é uma bofetada nas decisões do Parlamento e do tribunal", afirmou John McDonnel, "ministro sombra" das Finanças, uma figura de escrutínio do executivo existente na política britânica.
Na Escócia, o Supremo Tribunal de Sessão decidiu adiar a decisão sobre a legalidade da carta não assinada enviada por Boris Johnson a pedir o adiamento por três meses do Brexit.
Com Bruxelas ainda a analisar o pedido de adiamento, sem dar sinais de qual pode vir a ser a decisão dos "27", que terá de ser unânime, o Reino Unido vive horas de incerteza à espera de fumo branco nesta longa novela em que se está a tornar a saída da União Europeia.
O texto do acordo do Brexit alcançado na semana passada por Boris Johnson com os líderes dos restantes 27 Estados-membros foi publicado esta segunda-feira, pelas 20 horas (hora de Londres e de Lisboa), na página oficial do Parlamento britânico depois de ter sido brevemente apresentado aos deputados.
Esta terça-feira, os "Comuns" vão então começar a debater e a votar os vários pontos do acordo.
O governo espera conseguir completar todo o processo até quinta-feira - mesmo que tenha de obrigar os deputados a trabalhar até à meia-noite, diz-se - para permitir à Camara dos Lordes, o nível superior do Parlamento britânico, poder debruçar-se na sexta sobre o acordo, agora designado como Projeto-lei do Acordo de Saída.
Na bancada dos conservadores, há deputados à espera de ajuda da Comissão Europeia para forçar o Parlamento a acelerar a aprovação do projeto-lei do Brexit. É o caso de Nigel Evans, na BBC, a afirmar que a União Europeia deve rejeitar o pedido de adiamento para pressionar os "comuns".
Há também quem já antecipe uma sessão simultânea dos comuns e dos lordes, como sucedeu a 03 de setembro de 1939 na decisão de o Reino Unido avançar para a Segunda Guerra Mundial.