Direitos humanos pressionam arranque do Dakar2020

A aventura do "Dakar" muda-se este ano para o deserto saudita
A aventura do "Dakar" muda-se este ano para o deserto saudita Direitos de autor AP/ Ricardo Mazalan
De  Francisco Marques com afp
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Emblemtico rali todo-o-terreno estreia-se na Arábia Saudita, um reino islâmico ultraconservador onde só no ano passado terão sido executadas 180 pessoas

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O Rali Dakar prepara-se para se estrear domingo, na Arábia Saudita, um país denunciado por diversas organizações devido a alegadas violações de direitos humanos, incluindo a execução de penas de morte.

Os organizadores da prova e os pilotos estão a ser pressionados para não virarem a cara à realidade que vão encontrar.

Este é um novo e controverso capítulo na história de uma competição outrora com tiro de partida em França e meta no Senegal.

Anulado, por alegada falta de segurança em África, em 2008, quando a partida já se fazia de Lisboa, em Portugal, no ano seguinte o rali todo-o-terreno mais famoso do mundo mudou-se para a América do Sul.

Onze edições depois, à entrada para a segunda década do século XXI e ainda sob o nome "Dakar", a prova vai ter agora como cenário o deserto de um país islâmico ultraconservador onde as mulheres só começaram a poder conduzir há um ano e meio.

O príncipe herdeiro Mohamad bin Salman, tem vindo a abrir o reino ainda mais às mulheres, que já podem conduzir, assistir a jogos de futebol, viajar sem necessitarem de autorização masculina, pedir o divórcio, registar e ser tutoras legais dos filhos.

Para a Federação Internacional para os Direitos Humanos não chega e por isso esta associação de organizações humanitárias escreveu uma carta à empresa organizadora, a ASO, e à televisão oficial, a France Télévisions.

"Apelamos aos valores de compromisso e responsabilidade da empresa ASO para assegurar que os direitos humanos sejam tidos em conta e que a situação desastrosa no país não seja uma mera anedota nas bermas do rali", lê-se na missiva, citada pela agência France Press.

A FIDH apelou também "à emissão do serviço público da France Télévisions" para que "a difusão do 'Dakar' não seja uma plataforma oferecida ao regime saudita para restaurar a sua imagem e fazer esquecer os seus crimes".

As associações denunciam um "'apartheid' sexual" na Arábia Saudita pela "subjugação" das mulheres "à tutela masculina" e também a "repressão sistemática de todas as formas de oposição" para defenderem que "a realidade da Arábia Saudita está tristemente longe do espírito de liberdade que a ASO procura promover" e da "vocação" do serviço público de televisão em França de promover "o respeito pelos direitos da pessoa, o pluralismo e o debate democrático".

"A Arábia Saudita é uma verdadeira ditadura. É um país onde se sucedem as execuções. Só no ano passado, 180 pessoas foram decapitadas, incluindo uma criança", denuncia Antoine Madelin, diretor jurídico da FIDH.

Há um ano, no Peru, o Dakar bateu o recorde de participação feminina na prova, com 17 mulheres. Agora, há apenas 12 mulheres entre os mais de 570 inscritos.

O Dakar2020 está previsto terminar a 17 de janeiro, em Al Qiddiya, um megaprojeto de cidade de entretenimento, em construção desde 2017 e que só deverá estar terminada em 2023.

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