Escândalo de abusos sexuais na patinagem francesa

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De  Maria Barradas
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O presidente da Federação Francesa de Patinagem recusa demitir-se na sequência das acusações de abusos sexuais contra o antigo treinador Gilles Beyer.

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O presidente da Federação Francesa de Patinagem nega ter protegido um treinador que está a ser acusado de abuso sexual de antigas patinadoras francesas, quando estas eram adolescentes.

Didier Gailhaguet, há duas décadas no cargo, afirmou, em conferência de imprensa: "Senhoras e senhores, não existe uma federação perfeita porque a sociedade e as pessoas não são perfeitas. Para me demitir, eu teria que ter sido culpado e não acho que tenha sido culpado. Certamente cometi erros, vários erros, mas não uma falta grave".

O treinador que está a ser acusado é Gilles Beyer. Num livro publicado em finais de janeiro, Sara Abitbol, medalha de bronze mundial, acusa o treinador de a ter violado no início dos anos 90. Depois disso, surgiram mais 3 acusações. O ministério público abriu um inquérito.

Didier Gailhaguet está a ser pressionado a demitir-se, por um coletivo de atletas de alta competição, que o acusam de estar ao corrente do comportamento inapropriado de Bayer.

Também a ministra dos Desportos, Roxana Maracineanu, lhe pediu diretamente que se demita: "Tendo em conta o contexto que conhecemos neste momento de uma federação, com os testemunhos de desportistas que sofreram e vão sofrer para o resto da vida, é simplesmente a responsabilidade humana de um presidente voluntário de uma associação, qualquer que ela seja, onde quer que seja no território francês, de se demitir".

O presidente diz que aguardará no seu posto o fim da investigação desencadeada pela ministra. No livro "Um longo silêncio", Sarah Abitbol acusa Gilles Beyer de violação e agressões sexuais durante dois anos, quando a patinadora tinha entre 15 e 17 anos.

Para o antigo patinador Gwendal Peizerat, foi uma falha grave da federação: "A federação não soube proteger e evitar estes casos de falta de respeito humano durante os 20 anos de presidência de Didier Gailhaguet. A decência moral seria ele dizer que há uma causa maior a defender que o seu interesse pessoal".

Denúncias desde 2000

Quatro membros da direção, incluindo um tesoureiro, renunciaram na terça-feira à noite aos seus mandatos.

Os pedidos de demissão do presidente baseiam-se no facto de ter havido denúncias nos início dos anos 2000 e de Beyer ter continuado a desempenhar cargos na Federação - apesar de longe das atletas - até 2018.

Já na altura um relatório apontava "atos sérios" cometidos contra jovens patinadoras. Didier Gailhaguet defende-se, acusando a antiga ministra do Desporto, Marie-George Buffet, de ter permitido que Beyer continuasse a trabalhar, apesar das acusações contra ele. A ex-ministra, por seu turno, dizer ter enviado o caso para a procuradoria, que não deu seguimento.

Gailhaguet estava à frente da federação de patinagem quando Beyer foi nomeado líder da equipa de França durante o Campeonato Mundial de Juniores de 2011, realizado em Gangneung, na Coreia do Sul. Questionado sobre esta decisão, alega que foi "provavelmente por ingenuidade ou confiança" que permitiu que Beyer assumisse esse papel, dadas as suspeitas que pesavam sobre ele. Na altura, o presidente da federação foi pressionado a falar com os pais dos patinadores juniores envolvidos no Mundial de 2011, para os advertir sobre Beyer, mas diz que não o fez.

Outros casos

Mas este está longe de ser caso único na patinagem francesa. Outro treinador de patinagem artística, Pascal Delorme, foi condenado a dez anos de prisão, em 2003, acusado pela patinadora Anne-Line Rolland de abuso sexual quando esta tinha 12 anos de idade.

Segundo a patinadora, o presidente da federação não compareceu ao julgamento em 2003 e ela nunca recebeu nenhum sinal de apoio da federação. Anne-Line Roland diz que se sentiu "negligenciada e ignorada" e que outros patinadores se calaram com medo.

Para além do desporto e da política, o caso Beyer, que está agora nas mãos da justiça, agita toda a sociedade francesa.

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