Fonte da PGR de Angola disse à Lusa que o casal pode aproveitar a fase de conciliação dos respetivos processos cíveis para tentar entendimento. Sindika Dokolo admite "ser do interesse do todos encontrar uma saída o mais rápido possível"
Isabel dos Santos e a o marido, Sindika Dokolo, têm porta aberta para negociar com as autoridades de Angola um acordo no âmbito dos processos em são acusados de abuso de dinheiros públicos. O estado angolano reclama de ambos mais de 5 mil milhões de dólares (4,4 mil milhões de euros).
De acordo com uma fonte da Procuradoria-geral de Angola ouvida pela agência Lusa, o casal pode tentar um acordo através de uma fase preliminar: "Os processos cíveis têm uma fase de conciliação onde as partes podem negociar ou transacionar se chegarem a um entendimento."
Já no âmbito do processo-crime no qual o procurador-geral de Angola, Hélder Pitta Grós, acusa Isabel dos Santos de má gestão e desvio de fundos na Sonangol, a antiga presidente da petrolífera está convocada para ser ouvida em presença e pode ser alvo de um mandado de captura internacional para o conseguir.
Fonte da PGR revelou agora à Lusa que essa audição em presença até pode acontecer em Portugal.
"Se está disposta a colaborar com a justiça, poderá não haver a emissão de um mandado de captura, mas essa colaboração passa por uma audição presencial que pode ser feita em Portugal ou outro país onde se encontrar", disse a fonte não identificada, explicando que essa audição pode ser solicitada através de uma carta rogatória.
Se o solicitar e cumprir, a filha do antigo presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, pode evitar o mandado de captura internacional.
Sobre o andamento do processo contra Isabel dos Santos, a fonte não quis adiantar detalhes por se encontrar ainda em fase de instrução e estarem a decorrer "diligências investigativas", mantendo-se o segredo de justiça.
Aproximação difícil
Uma aproximação por parte da empresária à justiça angolana parece, no entanto, difícil nesta altura.
Na segunda-feira, Isabel dos Santos emitiu um comunicado, reforçado com publicações na rede social Twitter, acusando a justiça angolana de a ter impedido de se defender e de ter recusado a alegação de ter sido vítima de provas falsas usadas em dezembro pelo procurador-geral para lhe congelar contas e bens em Angola e Portugal.
Isabel dos Santos contesta a rejeição do embargo e alega que as acusações de que é alvo se baseiam em provas falsas e emails fabricados.
“Os tribunais angolanos deturparam os factos, manipularam o processo judicial e as autoridades portuguesas”, criticou.
Dokolo em defesa da mulher
O marido de Isabel dos santos, Sindika Dokolo, também deu a cara à defesa e na sexta-feira falou à rádio MFM, de Angola, reiterando que a mulher "está a ser vítima de perseguição política" por ter "descoberto e tentado organizar buracos financeiros deixados pelos anteriores gestores" da Sonangol.
Dokolo teceu também duras críticas ao atual Presidente de Angola, dizendo que o governante conseguiu "todo o seu património, incluindo casas nos Estados Unidos da América, à custa de corrupção" e afirmou ainda não conhecer em Angola "nenhuma governante que consiga justificar respetivo o património com o salário".
O empresário e assumido colecionador de arte foi acionista de uma joelharia entretanto falida na Suíça, a De Grisogono, conhecida por ter comprado em 2016 o maior diamante encontrado em Angola.
O congolês e a angolana são suspeitos de ter usado dinheiros públicos angolanos através da joelharia, de acordo com a divulgação do Consórcio Internacional de Jornalista de uma investigação intitulada "Luanda Leaks", onde são revelados alegados documentos detalhando esquemas financeiros do casal.
O marido de Isabel dos Santos terá dito ainda, na mesma entrevista, ser "do interesse de todos encontrar-se uma saída o mais rapidamente possível", mostrando estar disponível para negociar com as autoridades angolanas.