Polícia pede desculpa a mulher de atleta português mas nega racismo

Bianca Williams admite fazer queixa pela alegada perseguição policial a Ricardo dos Santos
Bianca Williams admite fazer queixa pela alegada perseguição policial a Ricardo dos Santos Direitos de autor Frank Augstein/AP/ Arquivo (2014)
De  Francisco Marques com AP
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button

Comissária Cassida Dick, da polícia metropolitana de Londres, não encontrou evidências de má conduta na operação em que Ricardo dos Santos e Bianca Williams foram algemados e separados do filho bebé. Casal admite fazer queixa

PUBLICIDADE

A Polícia Metropolitana de Londres (PML) pediu desculpa a Bianca Williams, a atleta olímpica britânica e companheira do também atleta português Ricardo dos Santos, pela forma como o casal foi detido e algemado no sábado à tarde, durante uma alegada operação de busca.

Perante a comissão dos assuntos internos do Parlamento britânico, Cressida Dick revelou que na terça-feira "dois agentes" da PML "falaram com a senhora Wiliams".

"Pedimos ontem desculpa à senhora Williams e eu reitero o pedido de desculpa pela aflição que esta detenção claramente lhe provocou", disse a comissária.

Em nenhum momento, Cassida Dick referiu ser o pedido de desculpa extensível ao português Ricardo dos Santos, atual recordista nacional dos 400 metros.

O casal de atletas foi detido no sábado à tarde, numa operação policial que registaram em vídeo com o telemóvel de Bianca Williams, quando regressavam a casa, com o filho de ambos de três meses de idade no banco de trás.

Parte da interpelação policial foi revelada num curto vídeo filmado com o telemóvel por Bianca e partilhado nas redes sociais por Ricardo, revelando a agressividade com que a polícia se acercou.

O português foi retirado intempestivamente retirado do veículo e, tal como a mulher, algemado.

A polícia disse suspeitar haver armas dentro do carro e alegou que o português apresentava um odor a marijuana.

"Acho que todos nós, vendo o vídeo, podemos sentir empatia com alguém que é parado num veículo, com uma criança atrás, que não sabe exatamente o que se passa e, consequentemente, é ilibado juntamente com o companheiro de transportar qualquer coisa ilícita", reconheceu Cassida Dick.

Comissária nega racismo na polícia

A comissária defendeu a polícia metropolitana das acusações de racismo acentuadas com este caso, envolvendo um casal de pele negra.

A comissária disse terem sido revistas as evidências do caso, incluindo vídeos registados pelas câmaras nos veículos da polícia, por duas equipas distintas e foi concluído não ter havido comportamento incorreto dos agentes da polícia.

"Se há lições a reter, vamos aprende-las e estou a olhar para a questão do uso de algemas em particular", reconheceu a comissária.

Dada a natureza do caso, as acusações de racismo por parte do casal e o interesse público, o caso foi ainda remetido para o regulador das autoridades, o Gabinete independente da Conduta Policial.

A polícia alegou que o veículo foi visto a circular de forma suspeita, incluindo em sentido contrário, o que o casal desmentiu referindo o vídeo que Bianca Williams registou durante a perseguição até pararem de forma voluntária.

A atleta britânica denunciou detenções como a sábado já terem ocorrido umas 15 vezes com o companheiro, em especial desde Ricardo dos Santos adquiriu um novo veículo de marca Mercedes.

"A polícia pensa que ele está a conduzir um carro roubado ou que esteve a fumar canábis. É comportamento racista. A maneira como eles falaram com o Ricardo, como se ele fosse lixo, foi chocante. Foi horrível assistir", descreveu Bianca Williams.

Em entrevista ao The Times, a atleta britânica disse que a revista da polícia ao carro demorou 45 minutos. Nada foi encontrado e a polícia alegou ter-se tratado de uma operação no âmbito do aumento das patrulhas naquela zona de Londres devido ao aumento da violência armada.

Em declarações à BTV, o canal de televisão do Benfica, clube português que o atleta representa, Ricardo dos Santos contou que o casal estava "a caminho de casa" depois dos treinos.

PUBLICIDADE
"Estávamos a cinco minutos de casa e começaram a seguir-nos. Como sabia que não tinha feito nada, disse à minha namorada que não ia parar porque estávamos a chegar a casa.

Quando chegámos, a polícia saiu do carro e mandou-nos sair da nossa viatura. Agarraram-me e colocaram-me fora do carro. Depois agarraram a minha mulher, que estava no banco traseiro com o nosso filho.

Isto acontece várias vezes comigo, mas foi a primeira vez que a Bianca viu ao vivo. Ela, como mulher, teve medo porque não sabia o que poderia acontecer comigo e o que haveria de fazer.
Ricardo dos Santos
Atleta internacional português

O treinador dos dois atletas, o antigo campeão de atletismo britânico Linford Christie, também questionou a conduta das autoridades londrinas.

"Foi o carro que era suspeito ou foi a família negra a bordo que motivou um confronto tão violento e uma acusação de que o carro cheirava a erva embora recusassem realizar um teste rápido de consumo de droga? Não foi a primeira vez que aconteceu. Estou certo que não será a última", sublinhou Christie, pelo Twitter, logo no sábado.

No dia seguinte ao sucedido, o próprio Ricardo dos Santos recorreu ao Instagram com uma foto da operação policial em que foi algemado, para dizer: "Isto tem de acabar. Está a perder o controlo." 

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Primeiro-ministro Giuseppe Conte no funeral de Willy Monteiro Duarte

Eurodeputada negra queixa-se de violência policial em Bruxelas

Mais um negro morto pela polícia nos EUA