Reino Unido depois de Trump. Que futuro para as relações transatlânticas?

Reino Unido depois de Trump. Que futuro para as relações transatlânticas?
Direitos de autor Jose Luis Magana/Copyright 2020 The Associated Press. All rights reserved
Direitos de autor Jose Luis Magana/Copyright 2020 The Associated Press. All rights reserved
De  Tadhg Enright & Euronews
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

A amizade entre Boris Johnson e Donald Trump pode não minar as relações comercias dos EUA com o Reino Unido. No entanto, Joe Biden já se mostrou mais interessado numa reaproximação à União Europeia.

PUBLICIDADE

Houve tempos em que o Brexit prometia ser uma ponte para os Estados Unidos da América. Numa visita a Bruxelas, em novembro de 2016, o então ministro dos Negócios Estrangeiros Boris Johnson comentava com os jornalistas que Donald Trump era "um negociador" e que isso poderia "ser bom para o Reino Unido". Anos mais, em 2019, o próprio presidente norte-americano admitia que estar "a trabalhar num acordo comercial muito importante". No entanto, para o atual sucessor de Trump, Joe Biden, a Europa parece valer mais em união.

A campanha de Biden sentiu a hostilidade dos britânicos pró-Brexit quando Barack Obama entrou no debate para defender os laços com a União Europeia. Boris Johnson chegou mesmo a sugerir que o "presidente parcialmente queniano" tinha uma "antipatia ancestral pelo Império Britânico".

Hoje, as declarações podem fazer ricochete nas relações transatlânticas com o Reino Unido. 

"Alguns dos insultos em relação ao presidente para quem trabalhei, Barack Obama, vão certamente ser recordados, porque grande parte da equipa está agora a trabalhar para Joe Biden", afirma Brett Buen, antigo diplomata da administração Obama.

No entanto, Buen acredita que serão outros os obstáculos a prevalecer sobre a relação entre os dois países.

"Penso que eles terão uma boa relação de trabalho. Joe Biden é uma pessoa de trato fácil. Dá-se bem com quase toda a gente. Onde eu penso que o Reino Unido vai ter dificuldades é no que diz respeito a acordos comerciais. Esses vão ser quase impossíveis. Biden vai colocar a classe média no centro da sua política externa, tentar captar o apoio de pessoas da cintura industrial e não vai fazer isso com acordos de comércio livre", diz.

Os interesses instalados têm um peso significativo na realização de acordos comerciais.

Um dos maiores entraves para o Reino Unido, pode vir a crescer no próprio solo. A ideia é defendida pelo investigador da Universidade de Oxford Nigel Bowles, para quem "a agricultura é um grande problema político para qualquer governo do Reino Unido [e] é um problema político particular para um governo conservador, devido à dependência que tem dos votos rurais". 

Dar resposta aos padrões alimentares e agrícolas representa já um desafio para o governo britânico.

"Já vimos o peso que os pequenos círculos eleitorais podem ter no caso da pesca. Esse efeito será multiplicado várias vezes", afirma o investigador.

Mas, comércio à parte, outras questões se colocam perante a aliança transatlântica, quando novas potências militares emergem.

Para Brett Buen, "encontramo-nos agora em plena era pós-americana. Vai haver mais crises, mais confrontos. Estamos a ver os esforços de potências medianas como a Arábia Saudita, a Turquia, a Rússia".

Nigel Bowles relembra ainda o papel da China, que "coloca problemas graves e profundos para qualquer nova administração dos Estados Unidos" e com a qual o risco de guerra "apesar de razoavelmente baixo, não é negligenciável".

É neste xadrez mundial que Buen acredita que "papel do Reino Unido será extremamente importante [enquanto] como membro de uma federação de países que parece um pouco diferente da estrutura das nossas alianças mais antigas, seja através da NATO ou da União Europeia. 

Com o Reino Unido fora da União Europeia, Biden não descarta estabelecer um acordo comercial com o governo britânico. No entanto, já em setembro, expôs o principal entrave para que esse acordo aconteça: o regresso de uma fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda. 

Para Biden, se Boris Johnson quiser reforçar os laços comerciais com os Estados Unidos da América, terá de garantir o respeito pelo processo de paz.

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Desfile de estrelas na investidura de Joe Biden

"A América está de regresso"

Jovem de 13 anos morre após ataque com espada em Londres