Uma das mais marcantes figuras do século XX vive hoje num isolamento quase absoluto
O homem que levantou a cortina de ferro celebrou 90 anos. São raras as imagens recentes de Mikhail Gorbachev. Diz-se que a pandemia agravou o isolamento a que a frágil saúde já o obrigava. O Nobel da Paz foi o último líder da União Soviética - governou o gigante euro-asiático entre 1985 e 1991.
Foi com ele que glasnost se passou a conjugar com liberdade de expressão e que perestroika apontou caminho à descentralização da decisão económica. De Berlim a Vladivostok, as reformas de Gorbachev semearam mudança e esperança.
János Zolcer, amigo do antigo chefe de Estado, foi também seu biógrafo. Diz que o maior legado que deixou às gerações futuras foi a liberdade.
"O facto de estarmos aqui e falarmos livremente. Este é o maior legado. Há 30 anos, praticamente deu liberdade à União Soviética e aos povos da Europa de Leste. Ele disse que eramos soberanos. A forma como lidámos com isso determina a forma como vivemos hoje as nossas vidas," afirmou Zolcer à Euronews.
A verdadeira mudança no regime aconteceu depois do trágico acidente da central nuclear de Chernobyl, em 1986. Só muito tempo depois se soube a informação que tinha sido escondida. Mas a catástrofe empurrou a transparência - a glasnost - para cima da mesa. O objetivo, assumido, era alcançar o socialismo com um rosto humano.
A popularidade externa de Gorbachev não colhia internamente. A perestroika não melhorou, de facto, a vida dos cidadãos na União Soviética. A reestruturação tão desejada tornou-se arma de arremesso político.
O verão de 1991 foi dos mais quentes em Moscovo. Quatro meses depois de um golpe de Estado falhado, Mikhail Gorbachev demite-se e a União Soviética colapsa.
O último líder ainda tentou manter-se à tona no novo país e num mar de novos políticos, mas não voltou a ganhar a confiança da população.