Organização financiada pelo governo português montou uma escola para devolver alguma normalidade às crianças que perderam quase tudo com os conflitos no norte de Moçambique
Ao Pavilhão Desportivo de Pemba chegaram cerca de 200 novos refugiados de Palma, o último alvo dos grupos armados radicais no norte de Moçambique. Juntam-se aos cerca de 11 mil deslocados que foram empurrados para a cidade. Metade são crianças e muitas perderam a família. Com o apoio do Instituto Camões, de Portugal, uma organização não governamental montou um programa de integração escolar que é para muitos o único espaço de normalidade.
Leandro Martins, coordenador do projeto "Karibu", explica que num primeiro momento tentam "ajudá-los a preencher os documentos de matrícula e com material escolar". Mais tarde, está também previsto apoio para a regularização da documentação das crianças, fornecimento de uniformes e até alimentos.
"Estamos também a começar a fazer alguma formação em apoio psicossocial para a podermos fornecer aos refugiados. Estas crianças estão muito traumatizadas e vemos que isso reflete no seu comportamento mesmo depois de terem estado aqui durante tanto tempo," conta Leandro Martins.
Margarida Loureiro é representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados em Moçambique. Diz que o trauma é transversal a todos os deslocados que chegam a Pemba, vindos de Palma. Viram familiares e amigos mortos e ficaram com as casas destruídas.
O rasto de destruição ainda se impõe nas ruas de Palma depois dos violentos ataques de dia 24 de março. O presidente moçambicano garantiu esta quarta-feira que os militares conseguiram finalmente tomar controlo de toda a cidade.