"A Europa ou a Morte": os migrantes que arriscam tudo na Tunísia

Naufrágio de migrantes no Meditterâneo em novembro de 2020
Naufrágio de migrantes no Meditterâneo em novembro de 2020 Direitos de autor AP Photo/Sergi Camara, Arquivo
De  Francisco Marques com AFP
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Reportagem na cidade costeira de Sfax, um dos atuais pontos de partida privilegiados nas perigosas travessias do Mediterrâneo

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Estão na Tunísia cerca de 20 mil migrantes oriundos da África subsariana. "Para a maioria, o destino é chegar à Europa ou a morte" a tentar a travessia do Mediterrâneo, avisou o responsável de uma associação de migrantes oriundos da Costa do Marfim na cidade costeira de Sfax.

Dois terços dos migrantes subsarianos na Tunísia são da Costa do Marfim e, entre eles, está Inao Steave e a família, agora em Sfax.

"Eu procuro um melhor futuro para a minha família. Para proporcionar, como se costuma dizer, um futuro radioso para a criança. Permanecendo aqui, isso não é assim tão claro", afirmou Inao Steave à agência France Press.

A também marfinense Prista Kone tentou a travessia ilegal para a Europa no ano passado. Esta mulher, de 28 anos, chegou à Tunísia em 2014 com um diploma de gestão e foi a este país que voltou após a travessia falhada.

Prista teve a sorte de encontrar trabalho nas limpezas, mas tem sido vítima de racismo: a patroa não a deixa tocar nas criança; é acusada de roubo sempre que algo desaparece de casa; e, na rua, insultam-na chamando-lhe "macaco" e atiram-lhe pedras.

“É de facto muito difícil. Aos olhos das outras pessoas, é mal-visto tentarmos atravessar o Mediterrâneo, mas atualmente sentimo-nos seguros para arriscar a travessia do Mediterrâneo e chegar ao outro lado onde seremos vistos de uma forma mais positiva", considera Prista Kone, confiante de que será "melhor tratada na Europa, seja em Itália, França, onde for". "Na Tunísia, é muito difícil", reforça.

Para o responsável da Associação de Marfinenses em Sfax, estes migrantes representam muitas vezes a esperança das famílias, mas foram enganados logo desde o início.

"Quando os subsarianos chegaram aqui, não era forçosamente para a travessia do mar. Há muitos que vêm para a Tunísia para trabalhar, mas não lhes foi dita a verdade", explicou à AFP Oumar Coulibaly.

O líder da associação lembra que "quando chegaram ao país, foram prometidos" a estes migrantes "enormes salários".

"Há alguns que venderam os seus negócios, estavam bem no seu país, mas, quando aqui chegaram, perceberam que lhes tinham mentido e não tiveram escolha", acrescenta Coulibaly.

Sfax tornou-se num dos principais pontos de partida dos migrantes africanos tentados pelo sonho de uma vida melhor na Europa. A 16 de abril, pelo menos 40 pessoas morreram no naufrágio de uma embarcação que teria como destino Itália. em março, num incidente similar, 39 migrantes perderam a vida ao largo de Sfax.

De uma forma geral, quase 300 pessoas já morreram este ano a tentar cruzar o Mediterrâneo rumo à Europa. Desde 2014, a Organização Internacional para as Migrações, presidida pelo português António Vitorino, estima já terem sido perdidas 20 mil vidas a tentar alcançar de forma clandestina a Europa.

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