Jornalistas húngaros espiados pela "Pegasus" estão preocupados

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De  Francisco MarquesÁdám Magyar
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Aplicação de espionagem desenvolvida pela empresa israelita NSO foi adquirido e usado pelo governo de Viktor Orbán, denuncia um consórcio de jornalistas internacional.

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Pelo menos quatro jornalistas terão sido espiados pelo governo da Hungria, com recurso à aplicação informática "Pegasus", desenvolvida pela empresa israelita NSO. A Euronews falou em exclusivo com dois deles, que se revelaram preocupados.

De acordo com o consórcio de imprensa internacional, do qual fazem parte o jornal britânico Guardian e o francês Le Monde, há uma lista de 50 mil números descoberta pela organização francesa de investigação "Forbiden Stories" que foram alvo de espionagem em diversos países do todo o mundo recorrendo a este "software" invasivo.

Há fortes indícios de que a aplicação israelita de espionagem foi utilizada por diversos governos contra opositores e ativistas de direitos humanos por exemplo no México, na Arábia Saudita ou na Índia, entre diversos outros países. Na Europa, até ver, apenas a Hungria está implicada.

Poderá ter sido utilizada inclusive contra o jornalista Jamal Khashoggi, um conhecido crítico do regime saudita assassinado e esquartejado na Turquia em outubro de 2018.

Entre os números de telemóveis implicados descobertos na Hungria há pelo menos quatro jornalistas, 10 advogados e um político da oposição ao Fidesz, o partido liderado pelo atual primeiro-ministro Viktor Orbán.

Análise forense aos telemóveis de dois jornalistas do jornal "Direk36", Szabolcs Panyi e András Szabó, determinou de forma conclusiva que os dois aparelhos estavam "infetados" e tinham sido alvo de espionagem pela aplicação "Pegasus" durante pelo menos sete meses em 2019.

Fiquei curioso se eles estavam interessados nas minhas fontes, se pretendiam saber com quem eu estava em contacto, com quem falei ou quem eram as minhas fontes.

Obviamente, fiquei preocupado mesmo sem saber se teria colocado essas pessoas em perigo. Infelizmente, não sei.
András Szabó
Jornalista no "Direkt36", da Hungria

Um outro jornalista húngaro alegadamente espiado pelo governo de Viktor Orbán é Dávid Derscényi.

"A vida privada da minha mulher, as mensagens e, bem, as nossas crianças [foram espiadas]. Claro, as pessoas agora têm toda a vida nos telefones. Trocamos mensagens, partilhamos fotografias e estas informações familiares não têm de ser expostas por nenhum serviço secreto", afirmou à Euronews Dávid Derscényi.

A investigação da "Forbiden Stories" recebeu o nome "Projeto Pegasus" e foi relatada esta segunda-feira por um consórcio de 17 órgãos de comunicação, denunciado a espionagem de mais de 180 jornalistas em todo o mundo, mas também dissidentes, ativistas e advogados de direitos humanos terão sido controlados.

A israelita NSO, que desenvolveu o programa de espionagem, alega que o "Pegasus" foi concebido para ser usado apenas contra organizações terroristas e criminosos perigosos e ameaça cortar ligações a clientes que usem a aplicação de forma considerada incorreta.

Numa resposta ao consórcio de imprensa, a NSO negou que as gravações descobertas provassem o uso da "Pegasus" para espiar opositores e disse que iria "continuar a investigar todas as queixas credíveis de mau uso e tomar as devidas ações baseadas no resultado dessa investigação", lê-se no Guardian.

Para o gestor de programas Áron Demeter, da Amnistia Internacional na Hungria,"esta história prova ser possível comprar aplicações informáticas de espionagem num mercado totalmente sem controlo e depois usa-las para espiar pessoas e, nalguns casos, até destruir a vida de pessoas."

O correspondente da Euronews em Budapeste sublinha que "este escândalo de espionagem foi notícia nos maiores jornais internacionais, mas na Hungria, na imprensa próxima do governo magiar, quase não teve cobertura nem sequer pelo ângulo internacional".

"Da parte do executivo, o primeiro a abordar o caso foi a ministra para as Famílias, Katalin Novák, mas apenas para dizer que não comentava rumores da imprensa", conclui Ádám Magyar.

Outras fontes • Guardian

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