A Hungria escolhe este domingo um novo governo. O primeiro-ministro Viktor Orbán, da União Cívica Húngara (Fidezs), era o favorito nas sondagens para se manter à frente do executivo magiar e confirmou-o, reforçando o título de líder europeu há mais tempo à frente do governo.
"Conseguimos uma vitória tão grande que pode ser vista da lua. Certamente pode ser vista de Bruxelas", afirmou Orbán, num recado para a Comissão Europeia com quem tem mantido um braço de ferro devido a reformas nacionais criticadas pela liderança do bloco.
Aos compatriotas, o primeiro-ministro reeleito disse: "Não tenham medo, aguentem, a pátria está convosco."
No discurso de vitória, Viktor Orbán disse ainda pretender manter a oposição à Comissão Europeia e disse que, juntos, os húngaros podem "derrubar todos os muros" e "nenhum dinheiro" os poderá parar.
"Deus acima de todos e a Hungria primeiro", foi a frase com que o primeiro-ministro reeleito selou a primeira declaração após assegurar o quinto mandato à frente da Hungria e com dois terços do Parlamento praticamente garantidos.
"Fomos escolhidos porque podemos garantir que a Hungria ficará de fora da guerra", afirmou István Hollik, o diretor de Comunicação do Fidezs.
Do lado da oposição, Péter Márki-Zay atirou a toalha ao chão. "Estou tão dececionado como toda a gente. Não quero esconder a minha desilusão. Nunca imaginámos este resultado. Não há como adoçar isto", afirmou o líder da Oposição Unida pela Hungria, que concentrou seis partidos num só candidato, mas falhou.
A participação acabou por confirmar-se abaixo dos números de há quatro anos, fixando-se nos 68,45% (em 2018, ficou nos 69,73%). A contagem dos votos está a decorrer, mas ainda longe de se poder adiantar uma tendência concreta.
Os resultados
Os resultados oficiais começaram ser conhecidos às 21 horas. Com 91% do escrutínio realizado, o Fidezs lidera com 53,3% dos votos depois de já ter começado acima dos 60% e a oposição continua a recuperar, mas lentamente, e soma 34,7% do escrutínio.
No "quartel-general" do Fidezs, o ambiente era de natural festa perante a perspetiva de poder voltar a conquistar dois terços do Parlamento magiar, revelavam diversas fontes no local.
Acima dos 5% necessários para entrar no Parlamento surge apenas nesta altura o Partido Movimento pela Nossa Pátria (Mi Hazánk), com 6,2% dos votos contados.
Nos resultados individuais já apurados, acima dos 92%, o Fidezs garante 88 assentos parlamentares e a Oposição Unida pela Hungria soma 18. Com os votos nas listas nacionais, o partido de Viktor Orbán chega aos 135 lugares contra 56 da coligação de oposição.
O Mi Hazánk soma 7 deputados pelas listas nacionais. O Partido Autogoverno dos Alemães Húngaros (MNOÖ) tem um deputado.
"Uma narrativa claramente falsa está a ser difundida pela ala pró-governo como se a paz fosse o problema que divide uma parte do país da outra. Enquanto todos desejam a paz, há consenso nisso, há uma parte do país que pensa que a outra quer entrar na guerra (da Ucrânia)", afirmou à Euronews, em Budapeste, a líder do Partido Momentum, Anna Donath, membro da Oposição Unida pela Hungria.
Cerca de uma hora após o fecho oficial das mesas de voto, Péter Márki-zay mostrava confiança na vitória e desejava não ter de depender dos votos no estrangeiro, ao revelar que a comissão eleitoral lhe teria dito não ser possível verificar a legalidade desses votos.
O líder da coligação da oposição admitia que as eleições podiam vir a resultar numa crise constitucional na Hungria caso o Fidezs vencesse.
István Ujhelyi, do partido Socialista húngaro, acusou o governo de ter utilizado fundos públicos na campanha eleitoral do Fidezs.
O secretário de Estado para a Comunicação e Negócios Estrangeiros, Zoltán Kovács, defendeu que estas eleições não podem ser questionadas e assegurou que todos os envolvidos no processo, dentro e fora do país, cumpriram o trabalho de acordo com a lei.
Gergely Gulyás, ministro do gabinete do primeiro-ministro, apontou à vitória: "Vemos que a participação será alta e os dados mais recentes sugerem que será a mesma de há quatro anos."
A ONG "20K" está a acompanhar o processo eleitoral húngara e diz ter recebido 1.600 denúncias de irregularidades cometidas no sufrágio, nomeadamente no recursos ilícito a eleitores e à compra de votos. Alguns relatos indicam que o valor de um voto terá chegado aos 30 mil florins (82 euros).
Uma sondagem do "Fundo Húngaro para a Democracia" pela diáspora, nomeadamente com cerca de 10% dos eleitores nas mesas de voto de Viena, Berlim, Bruxelas, Londres e Munique sugere que 77,7% dos votos no estrangeiro beneficiaram a oposição a Viktor Orbán.
Às 18h30 locais (menos uma hora em Lisboa), tinham votado 67,8% dos cerca de 8,2 milhões de eleitores inscritos. Há quatro anos, a participação tinha sido de 68,13% à mesma hora e de 69,73% no final.
As mais de 10 mil mesas de voto em 3.154 municípios da Hungria fecharam às 19 horas. Só os eleitores que estavam nas filas para votar ainda o puderam fazer inclusive num referendo pela primeira vez em curso em dia de eleições parlamentares.
O referendo tinha por base a Lei da Proteção da Criança e procura saber a opinião popular, por exemplo, sobre "a exibição, sem qualquer restrição, de conteúdos mediáticos de natureza sexual capazes de influenciar o desenvolvimento de menores" ou a suposta promoção da homossexualidade junto dos menores.
O resultado do referendo foi claramente favorável aos desejos de Viktor Orbán, em linha com a proposta legal do governo para bloquear a informação de cariz sexual junto dos menores, mas os votos válidos não chegaram aos 50% necessários para legitimar a vontade do primeiro-ministro agora reeleito.
As mais de 10 mil mesas de voto em 3.154 municípios da Hungria fecharam às 19 horas. Só os eleitores que estavam nas filas para votar ainda o puderam fazer inclusive num referendo pela primeira vez em curso em dia de eleições parlamentares.O dia de voto ficou marcado por vários incidentes na Hungria. Em Jász-Nagykun-Szolnok, o delegado de uma das mesas de voto terá sido agredido por eleitores, noticia o portal Index.
Em Óbuda, terá sido um ativista idoso da oposição que terá sido espancado, lê-se no jornal Blik.
Como se elege?
As eleições húngaras dividiam-se em duas, com um voto a ir para uma lista partidária e outro para um circulo eleitoral. Dos 199 assentos disponíveis no Parlamento magiar, 106 foram decididos pelos círculos eleitorais, nos quais é elegido o candidato mais votado e não o partido ou coligação.
Os restantes 93 lugares foram escolhidos proporcionalmente de acordo com os votos nas listas nacionais.
Todos os cidadãos húngaros com idade adulta puderam votar e esses representam atualmente 8,2 milhões de eleitores. Os que têm a residência registada no estrangeiro apenas podiam votar nas listas nacionais e pelo correio.
Havia 146 mesas de voto abertas fora da Hungria para os cidadãos nacionais com residência no país, mas que estivessem a trabalhar no estrangeiro ou simplesmente fora do país no dia das eleições, mas tinham de se inscrever pelo menos uma semana antes para poder exercer esse direito.
A importância das eleições húngaras
As eleições na Hungria realizaram-se num momento crucial para a Europa. A retoma da pandemia de Covid-19 e a guerra em curso na Ucrânia estão a ter um enorme impacto na União Europeia.
O executivo de Viktor Orbán revelou-se um peso para a Comissão Europeia devido a reformas realizadas no país contrárias aos valores europeus, nomeadamente a repressão sobre meios de comunicação não alinhados com o Fidezs, o partido no poder, e também a proximidade a Vladimir Putin, o Presidente da Rússia e provavelmente o líder mais odiado do momento na União Europeia.
Orbán acabou por ser inclusive atacado pelos países vizinhos Chéquia, Eslováquia e Polónia pela maior proximidade diplomática ao Kremlin do que a Bruxelas.
Os candidatos
O líder húngaro afastou-se também dos princípios europeus com a reforma do sistema judicial, que ficou mais dependente do governo e com isso colocou em causa o Estado de Direito. A gestão da migração é outro ponto de discórdia entre Budapeste e Bruxelas.
A comissão Europeia ameaçou a Hungria com a suspensão dos fundos europeus até que o governo se alinha-se com os pilares do bloco.
Conotado com a extrema-direita, Orbán é primeiro-ministro da Hungria desde 2010 depois de já ter ocupado o lugar entre 1998 e 2002, e conseguiu nestas eleições o quinto mandato à frente do governo.
O principal adversário era Peter Marki-Zay, líder de uma coligação de seis partidos da oposição, que defende uma Hungria alinhada com a União Europeia e prometia reaproximar Budapeste de Bruxelas, combatendo a corrupção no país.
O objetivo principal desta coligação era derrubar Orbán do governo e, para isso, concentraram-se num só candidato, eleito numas primárias. Marki-zay é um católico conservador, tem sete filhos e há quatro anos venceu uma autarquia numa região conhecida pela habitual supremacia do Fidezs: Hódmezővásárhely.
Orbán e Marki-zay eram os principais favoritos à vitória, com vantagem para o primeiro-ministro cessante, que se confirmou largamente.
Aparte deles, havia dois partidos de pequena dimensão também na corrida e com possibilidades de conseguir os 5% de votos necessários na Hungria para garantirem representação parlamentar.
O Mi Hazánk Mozgalom é um partido da direita mais moderada que acolheu alguns antigos militantes do Jobbik, uma força nacionalista radical. Este partido de direita subiu nas preferências durante a pandemia, sendo o único na oposição às vacinas anticovid e acabou por ser premiado com sete deputados.
O outro é um partido irónico chamado "Partido do Cão de Duas Caudas", fundado em 2006 e registado oficialmente em 2014, sendo famoso por parodiar a elite política magiar.
As prioridades dos principais candidatos é a retoma económica após a pandemia e agora, com o impacto da guerra na Ucrânia e as respetivas ondas de choque a afetar sobretudo o mercado energético e o abastecimento de matérias primas e produtos essenciais como o trigo ucraniano e russo.