O que precisa saber sobre o caso de envenenamento de alunas no Irão

O caso provocou reações entre a comunidade internacional
O caso provocou reações entre a comunidade internacional Direitos de autor AP Photo via les services du Guide de la Révolution
De  Euronews
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Quase três meses após os primeiros casos de envenenamento de estudantes em diferentes partes do país, as autoridades iranianas anunciaram as primeiras detenções. Fique a par de tudo sobre este caso que provocou reações fora do Irão

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No Irão, os casos de envenenamento em série, principalmente entre alunas de escolas femininas, continuam envoltos em mistério. Nos últimos três meses, as autoridades deram conta de milhares de casos.

A Euronews analisa este assunto que surge na sequência da vaga incessante de protestos precipitada pela morte de Mahsa Amini, a 16 de setembro de 2022.

A jovem curda foi detida pela polícia dos costumes por alegada violação do código de vestuário que exige que as mulheres usem o “hijab”, o véu islâmico tradicional que cobre a cabeça e os ombros.

Onde é que começaram os envenenamentos no Irão?

Foi na cidade de Qom, localizada 150 quilómetros ao sul da capital Teerão, que surgiram os primeiros casos de envenenamento, de acordo com os meios de comunicação locais.

A 30 de novembro de 2022, o portal Qom News noticiou 18 casos de intoxicação respiratória entre alunas de uma escola da cidade de mais de 1,2 milhões de habitantes.

Dias mais tarde, a mesma fonte revelou uma nova vaga de intoxicações em outra escola da cidade sagrada do xiismo. Desde então, têm-se registado centenas de casos em Qom, envolvendo, principalmente, meninas de 10 anos de idade.

Qual é a situação atual?

Depois de Qom, surgiram relatos de casos idênticos em muitas cidades incluindo Teerão, Abhar (oeste), Ahvaz (sudoeste), Zanjan (oeste), Mashhad (nordeste), Shiraz (sul) e Isfahan (centro), de acordo com as agências de notícias iranianas.

Ao todo, foram afetados “mais de cinco mil alunos” de “cerca de 230 escolas” em 25 das 31 províncias do país desde o final de novembro, anunciou Mohammad-Hassan Asafari, da comissão parlamentar de inquérito encarregue de esclarecer as causas desta vaga de envenenamentos.

Além disso, as autoridades prenderam um jornalista, Ali Pourtabatabaei, que acompanhava o caso de envenenamento na cidade sagrada de Qom para o site Qomnews.

Quais são os sintomas?

O cenário repete-se em todos os lugares. As vítimas disseram sentir odores "desagradáveis" ou "desconhecidos" nas escolas. Depois apresentaram sintomas como dificuldade respiratória, tonturas, dores de cabeça, náuseas e falta de ar.

"Um cheiro muito mau espalhou-se de repente. Sentir-me enjoada e caí ao chão”, disse uma estudante a uma estação de televisão iraniana.

Algumas das vítimas foram brevemente hospitalizadas, de acordo com as autoridades iranianas, que acrescentaram que não se registaram quaisquer casos graves ou de morte. No entanto, fontes dizem que pelo menos uma aluna morreu por envenenamento com gás.

A organização não-governamental "Centro para os Direitos Humanos no Irão” citou um jornalista e relatou a morte de uma menina de 11 anos em Qom em fevereiro. Além disso, de acordo com a mesma fonte, as autoridades locais pressionaram a família da criança para que a enterrassem o mais rapidamente possível e não divulgassem o seu desaparecimento.

Ainda de acordo com as autoridades, os testes realizados para identificar as substâncias não permitiram que fossem determinadas com certeza.

Qual é a resposta das autoridades?

Teerão anunciou na semana passada as primeiras detenções no âmbito da investigação a esta vaga de envenenamentos que tem causado forte comoção no país.

As detenções ocorrem numa altura em que os pais dos alunos se mobilizaram para exigir às autoridades que atuem.

O Ministério do Interior do Irão disse, em comunicado, que os serviços de segurança e de inteligência identificaram e prenderam "várias pessoas" suspeitas de preparar substâncias perigosas em pelo menos seis províncias do país.

O comunicado refere ainda que três dessas pessoas tinham antecedentes criminais "incluindo o envolvimento nos recentes motins", termo utilizado pelas autoridades para descrever as manifestações que se seguiram à morte de Mahsa Amini.

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De acordo com o ministério, um elemento estava “a introduzir substâncias na escola através da sua filha”, enviando fotos das alunas após os envenenamentos para “meios de comunicação hostis” para “criar medo entre as pessoas e forçar o encerramento das escolas.”

O líder supremo do Irão, Ali Khamenei, já tinha pedido uma "punição severa" para os responsáveis pelos "crimes imperdoáveis."

Disse que "não haveria amnistia para os responsáveis pelos crimes", alertando que seria "a primeira vez que a mais alta autoridade do Irão se pronunciaria sobre o assunto."

O caso tem impacto fora das fronteiras do Irão?

Nos últimos dias, a comunidade internacional debruçou-se sobre o caso. Os EUA pediram na segunda-feira "uma investigação confiável e independente.”

"Se esses envenenamentos estiverem relacionados com participação em manifestações, isso enquadra-se perfeitamente no mandato da Missão Independente de Investigação das Nações Unidas", que foi criada em novembro para investigar abusos dos direitos humanos no Irão, disse a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.

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Na semana passada, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos também pediu "uma investigação transparente" e conclusões públicas.

"Os relatos de meninas envenenadas no Irão são chocantes", disse a ministra alemã dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, na sexta-feira.

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