Turquia: Navegar na geopolítica sem rumo anunciado

Erdogan: Entre as ameaças à Grécia e o isolamento na NATO
Erdogan: Entre as ameaças à Grécia e o isolamento na NATO Direitos de autor Darko Vojinovic/AP
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De  Nuno Prudêncio
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A Turquia foi o único país da NATO que não cumpriu as sanções contra Moscovo. Erdogan quer tornar-se num mediador providencial, mas sem comprometer as relações com Putin

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Erdogan está à espera de Putin. No próximo dia 27 de abril, o presidente turco inaugura o primeiro reator nuclear no seu país construído integralmente pela Rússia e conta com a presença do homólogo

O Kremlin não confirma a visita, numa altura em que pende sobre o chefe de Estado russo um mandado de detenção do Tribunal Penal Internacional. Só que a Turquia não faz parte do Tratado de Roma, que criou o referido tribunal. E o convite está feito, pelo mesmo homem que desbloqueou a saída dos cereais ucranianos do Mar Negro.

Este pode ser um resumo de como Recep Tayyip Erdogan, agora em campanha, tem navegado pelas agitadas águas da geopolítica.

Ancara na rota Kiev-Moscovo

Não foi apenas a abertura de um corredor marítimo seguro que o presidente turco conseguiu, juntamente com a ONU. Mas não é um fator que se possa relativizar, quando a penúria alimentar ameaçava todo o globo. Entretanto, já saíram cerca de mil barcos com mais de 23 milhões de toneladas de cereais. A verdade é que Ancara também forneceu drones aos militares ucranianos.

Por outro lado, a Turquia foi o único país da NATO que não cumpriu as sanções contra Moscovo. Aliás, reforçou a cooperação energética - os russos deverão construir toda a central nuclear de Akkuyu -, e aumentou a compra àquele país de gás e petróleo, que refina para o vender à União Europeia e Estados Unidos, apontam analistas internacionais [do Center for Research on Energy and Clean Air in Finland].

Assim se converte Erdogan num mediador providencial, sem comprometer e até beneficiando das relações com Putin.

O rebelde da NATO

A Turquia está habituada a fazer um caminho à parte no seio Aliança Atlântica. Deixou a Finlândia entrar, mas faz prova de força frente à Suécia, que acusa de proteger terroristas. As eleições vão ditar para que lado pende a balança.

Em dezembro passado, Erdogan ameaçou diretamente atacar um parceiro da NATO. Alegando a militarização de ilhas gregas no leste do Mar Egeu, o presidente turco terá declarado em dezembro que "um míssil podia cair em Atenas". Vem de longe a disputa por esses territórios, pelo menos desde 1996, mas Ancara quer explorar petróleo por ali, onde Atenas tem como suas as águas territoriais, Mesmo habituados a décadas de tensão, o tom cresceu de tal forma, ainda por cima em período pré-eleitoral nos dois países, que se temeu a passagem das palavras aos atos. No entanto, o sismo no início de fevereiro veio alterar toda a ordem de prioridades.

"A geopolítica não é uma desculpa para o défice democrático"

Embora pareça uma questão esquecida, a Turquia continua a ser um país candidato à União Europeia. O relator do Parlamento Europeu sobre os avanços democráticos no país é Nacho Sanchéz Amor, um socialista espanhol.

Numa declaração publicada em dezembro, intitulada "A geopolítica não é uma desculpa para o défice democrático", Sanchéz Amor é bastante claro. Escreve que "no caso da Turquia, só é possível falar em falta de progresso", que o governo turco se carateriza pelo "autoritarismo" e que "ser uma potência regional não tem de conflituar com a defesa de valores democráticos".

"As pessoas esqueceram completamente esse assunto na Turquia. Para muita gente, para vários setores da sociedade, é óbvio que a adesão à UE é um sonho, já não é a realidade. Não vejo nenhum dos lados com muita vontade de juntar-se", salienta Arda Tunca.

No entanto, a União Europeia precisa da Turquia em domínios como as migrações. Há cerca de 4 milhões de refugiados no país. Bruxelas criou um mecanismo financeiro que já mobilizou 6 mil milhões de euros para que Ancara os impeça de chegar à Grécia e os acolha, mesmo que as condições humanitárias levantem questões. Erdogan tem-se aproximado do regime de Damasco e já declarou que gostaria de ver repatriados1 milhão de refugiados sírios.

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