As implicações do possível colapso do acordo dos cereais

Os países importadores também podem contar com a China, EUA, Canadá ou Índia
Os países importadores também podem contar com a China, EUA, Canadá ou Índia Direitos de autor Anatoli Stepanov/AFP
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A Rússia voltou a colocar em causa o acordo dos cereais, pressionando o levantamento de sanções. África assiste à volatilidade de preços em alta

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"Há vários bens alimentares cujos preços subiram em flecha. Francamente, tudo isto é um pouco complicado para os países africanos". A afirmação é deClement Aka, residente em Abidjan, Costa do Marfim.

A invasão da Ucrânia, muitas vezes apelidada de "celeiro do mundo", lançou o pânico no mercado de venda de cereais. Apesar de terem estabilizado, os preços continuam elevados. Demasiado, para os países que dependem das importações para subsistir.

Sébastien Abis, investigador do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS), explica que "as principais zonas de compra, a nível mundial, são o Médio Oriente, o Norte de África, a África subsariana e o Sudeste Asiático. Estas quatro regiões representam dois terços, mesmo 70% das importações mundiais de trigo por ano. A Argélia ou a Nigéria dispõem de lucros do petróleo que lhes permite comprarem trigo a valores um pouco mais elevados. Mas a Tunísia, o Mali ou o Sudão, para evocar países que são atualmente instáveis, têm dificuldades em pagar mais pelo trigo no mercado internacional".

É um equilíbrio muito delicado e com pouca margem de manobra: tudo depende da passagem segura dos barcos com cereais ucranianos no Mar Negro. Já por duas vezes, o frágil acordo que garante a circulação ameaçou cair.

Marion Jansen, diretora do Departamento de Comércio e Agricultura da OCDE, salienta que "sempre que há um debate sobre a renovação ou não do acordo, os preços voltam a tornar-se voláteis. A volatilidade é má para os consumidores, sobretudo para os países pobres e famílias pobres".

Agora a Rússia volta a dizer que não renova o compromisso, se o Ocidente não levantar sanções económicas até 18 de maio. Gennady Gatilov, embaixador russo na ONU, declarou precisamente que "o acordo foi prolongado até 18 de maio para incentivar a ONU a resolver cinco problemas sistemáticos que têm bloqueado as exportações agrícolas da Rússia".

A União Europeia também abriu corredores rodoviários e ferroviários. Aos agricultores dos países do leste europeu que dizem que o aumento exponencial da oferta os deixa em muito maus lençóis, uma das respostas é esta. "É uma autêntica segurança para a Ucrânia, e também uma segurança para certos países compradores, que a mercadoria possa passar pela Europa", aponta Sébastien Abis.

A Rússia e a Ucrânia têm um grande papel no mercado dos cereais, mas não são as únicas. Os países importadores também podem contar com a China, os Estados Unidos, o Canadá ou a Índia. "Se há algo de positivo que saiu desta crise, é que os outros produtores conseguem compensar grande parte do que acontece nos países individualmente", conclui Marion Jansen.

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