De janeiro a maio, quase 49 mil migrantes chegaram a Itália por mar, e o número continua a subir. A nossa repórter Monica Pinna viajou até à Tunísia para lhe contar as histórias daqueles que estão a fugir de lá
A Tunísia tem sido tradicionalmente utilizada como rota de trânsito pelos migrantes. Mas as recentes explosões de conflitos e a crescente insegurança na Líbia fizeram aumentar o número de migrantes subsarianos que chegam ao país.
O governo reagiu com uma ação repressiva contra os imigrantes ilegais. Em fevereiro, o presidente Kais Saied fez um discurso em que dizia que os migrantes subsarianos ameaçavam a identidade do país.
As palavras do chefe de Estado desencadearam uma onda xenófoba contra os estrangeiros, o que tornou a vida quase impossível para a maioria dos migrantes:
"Perdi o meu emprego. Perdi a minha casa. Todos os cidadãos da Tunísia começaram a expulsar-nos", contou um migrante sul-sudanês que vive na Tunísia desde 2016.
"Estamos a morrer aqui. Precisamos de um sítio seguro. Não nos interessa se esse lugar é em África ou em qualquer outro local. Queremos ir embora", disse outro refugiado sul-sudanês.
Estes refugiados fazem parte de um grupo de cerca de 150 que acampam há meses em frente à Agência da ONU para as Migrações, a OIM. Pedem evacuação urgente para um país terceiro.
Estima-se que existam cerca de 21 mil subsarianos na Tunísia, incluindo migrantes, requerentes de asilo e refugiados. Alguns já regressaram aos seus países através de repatriamentos voluntários.
Os especialistas dizem que o que está a acontecer na Tunísia está a aumentar as tragédias que continuam a ocorrer no mar Mediterrâneo e que estão a chocar toda a Europa.
"Após o discurso do presidente, muitos decidiram acelerar a sua partida. Fugiram sem se preocuparem muito com as consequências", explica Romdhane Ben Amor, porta-voz do Fórum Tunisino para a Justiça Social e Económica.
Desde o final do ano passado, a Tunísia tornou-se o primeiro país de embarque dos migrantes que viajam para a Europa. A UE e a Itália reagiram dando à Tunísia mais ajuda financeira e técnica para o controlo das fronteiras.
Os grupos de defesa dos direitos humanos afirmam que a Tunísia não é um país seguro para os migrantes. Acusam Bruxelas e Roma de estarem a tentar conter a migração ilegal para a Europa a qualquer custo.
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