Tragédia ao largo da Grécia: Barco terá recusado ajuda antes do naufrágio

Sobreviventes do naufrágio de quarta-feira ao largo da Grécia
Sobreviventes do naufrágio de quarta-feira ao largo da Grécia Direitos de autor AP Photos/Thanassis Stavrakis
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De  Francisco Marques
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Novos dados na investigação ao pesqueiro sobrelotado de migrantes que se virou no mar. Secretário-geral da ONU faz exigência à União Europeia

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A Guarda Costeira da Grécia intercetou o pesqueiro sobrelotado de migrantes na noite de terça-feira, pelas 23 horas, e chegou a lançar cordas para a embarcação para a amarrar e poder verificar as condições da embarcação, mas as cordas foram atiradas borda fora e a ajuda recusada.

De acordo com o testemunho de um oficial da guarda costeira, citado pelo jornal helénico Kathimerini, algumas pessoas a bordo do barco receavam de que se fossem recolhidos pelas autoridades gregas teriam de ficar na Grécia e não seguir viagem para Itália, por isso podem ter decidido recusar aquela ajuda.

O pânico que se viria a gerar a bordo nas horas seguintes, alterou o equilíbrio de peso dentro do barco e pode ter provocado o virar da embarcação sobrelotada.

Os relatos sugerem que mais de 500 pessoas estariam a bordo, muitas delas mulheres e crianças, viajavam no porão.

Nove suspeitos detidos

Fotos prévias ao naufrágio mostram o barco sobrelotado com centenas de pessoas no convés, sobretudo homens.

O naufrágio aconteceu no Mar Jónico, cerca de 75 quilómetros a sul da Grécia continental, em águas internacionais, mas de responsabilidade de vigilância pelas autoridades gregas.

Pelo menos 78 cadáveres foram recuperados das águas do Mediterrâneo, 104 pessoas foram salvas, mas centenas continuam em parte incerta e a ser alvo de buscas numa vasta área do Mediterrâneo central.

De entre os resgatados, nove pessoas que se presumem egípcias foram detidas, sob suspeita de trabalharem ou fazerem mesmo parte da rede de traficantes que organizou esta perigosa travessia.

Alguns dos detidos podem ser meros migrantes que teriam aceitado integrar a tripulação para reduzir o preço pago pela travessia.

Negócio de 2,5 milhões de euros

De acordo com os dados já recolhidos pelas autoridades gregas, os passageiros terão pago entre quatro mil e seis mil dólares (3.500 a 6 mil euros) pela travessia, que, tudo indica, ter começado no Egito, fez escala em Tobruk, na Líbia, e tinha como destino Itália.

Num cálculo estimado a 5 mil euros por pessoa, se fossem 500 a bordo, a travessia pode ter rendido 2,5 milhões de euros aos traficantes, a que se pode subtrair o valor do barco perdido no mar.

O valor das vidas humanas perdidas é incalculável e esta é mais uma tragédia que provocou a revolta de milhares de pessoas na Grécia.

Na quinta-feira, protestou-se em diversas cidades helénicas pelo direito ao asilo e contra a política de imigração europeia.

Guterres exige ação preventiva

O secretário-geral das Nações Unidas exigiu ação à União Europeia (UE) para travar este tipo de tragédias.

"Sejamos claros. Este não é um problema grego, é um problema europeu. É tempo de a Europa, em solidariedade, definir uma política migratória eficaz para que situações como esta não voltem a acontecer", afirmou António Guterres.

Olaf Sholz, o chanceler da Alemanha, um dos países mais desejados por quem faz as perigosas travessias clandestinas do Mediterrâneo, pediu um sistema de apoio comum e partilhado pelos Estados-membros da UE para evitar que as pessoas escolham arriscar a vida no Mediterrâneo.

As buscas por eventuais sobreviventes prosseguem numa vasta área em torno do local do naufrágio.


Familiares das vítimas têm procurado notícias
na cidade de Calamata, no sul da Grécia, para onde foram levados os sobreviventes resgatados.

Outras fontes • Kathimerini, AP, AFP

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