"Em vez de restaurar a central hidroelétrica de Kakhovskaya", perito sugere "uma investigação intensiva e acções que ajudem as pessoas a adaptar-se à nova realidade e a satisfazer as necessidades através de outros meios mais modernos."
Passou pouco mais de um mês desde a explosão na central hidroelétrica de Kakhovka (HPP). Durante a invasão russa da Ucrânia, na noite de 6 de junho, a barragem foi destruída e dezenas de povoações foram inundadas.
Dezenas de pessoas morreram e a catástrofe mudou milhares de vidas para sempre. O ambiente e a agricultura sofreram muitos danos. Este ecossistema foi criado artificialmente há 70 anos. Mas agora já não existe.
"(...) Basicamente, todo o ecossistema da albufeira foi destruído e há uma pré-condição específica para reavivar o ecossistema do rio, mais caudaloso. No entanto, isso está associado a uma mudança catastrófica para todas as espécies nativas, com uma nova espécie que se vai estabelecer ali, e que está mais adaptada ao rio, não à albufeira. E isso é uma catástrofe para as pessoas que estão habituadas a ambientes diferentes", explicava Yevgeny Simonov, perito do Grupo de Trabalho sobre as Consequências Ambientais da Guerra na Ucrânia.
O reservatório de Kakhovka perdeu cerca de 70% do seu volume. Pode e deve ser restaurado?
Yevgeny Simonov acredita que, de facto, existe agora ainda mais água na área, porque não se evapora da superfície do reservatório. É tudo uma questão de reconstruir os seus sistemas e utilizar a água de forma mais eficiente.
"A ideia de que alguém virá recuperar esta albufeira ineficiente parece-me, enquanto ecologista, muito estranha no século XXI, porque se tratava de uma estrutura técnica muito ineficaz que, basicamente, gerava água de muito má qualidade e com muita poluição, evaporava mais água do que fornecia, produtivamente, à agricultura, (...) mais de dois quilómetros cúbicos por ano, em média, o que é muito. E ocupava 2.000 e tal quilómetros quadrados de terra que poderiam ser utilizados para muitos outros fins ecológicos e económicos, de forma muito mais produtiva. Por isso, enquanto ecologista, não apoiaria nem aconselharia a recuperação da albufeira, mas apoiaria uma investigação e ações muito intensivas para ajudar as pessoas a adaptarem-se a uma nova realidade e a suprir as necessidades por outros meios mais modernos, mais ecológicos e mais sustentáveis a longo prazo", adianta o cientista.
Estas escolhas são difíceis de fazer, e ainda mais difíceis de implementar numa situação de guerra. Requerem investigação e desenvolvimento de formas melhores e alternativas de utilização sustentável dos solos. E, neste momento, os esforços centram-se sobretudo na prestação de ajuda de emergência às populações locais. No entanto, este é o caminho que Eugene Simonov acredita ser o correto:
_"A ideia de renascimento, após a guerra, deve passar por pensar em como fazer as coisas melhor. Não se deve pensar-se em como voltar à situação anterior à guerra, porque isso pode ser a pior coisa a fazer. Na verdade, não é algo único, não é endémico dessa área. É uma ideia geral sobre a forma como se pensa na recuperação. Queremos modernização e uma vida ecologicamente mais sustentável após a recuperação. Caso contrário, estamos em apuros",_referia Eugene Simonov.