O Japão garante que os níveis radioativos das águas de Fukushima vertidas no Pacífico estão "abaixo dos limites legais". A AIEA e a ONU estão a supervisionar o processo, mas os protestos crescem em vários países.
A Tokyo Electric Power (TEPCO), a operadora da acidentada fábrica de Fukushima, garantiu que os níveis radioativos em águas marinhas derivados da descarga que começou na quinta-feira se encontram "abaixo" do limite legal.
"Estamos a fazer análises da água diluída no mar e podemos confirmar que o nível de radioatividade emanado por trítio se encontra abaixo dos 1.500 becqueréis por litro", garantiu o porta-voz da TEPCO, acrescentando que as análises diárias serão prosseguidas durante um mês inteiro e, em seguida, com uma frequência menor.
Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), afirmou: "Foi muito encorajador ver os primeiros resultados confirmarem o que tínhamos previsto, que é que os radionuclídeos que ainda estão presentes na água estarão em níveis extremamente baixos, na verdade níveis muito mais baixos do que tínhamos inicialmente assumido."
Segundo as autoridades japonesas, o esvaziamento dos reservatórios é necessário para o desmantelamento da central, que sofreu um grave acidente devido ao sismo e tsunami de 2011. Mas os seus argumentos não convencem.
Forte constestação
O derramamento causou grande agitação nos países vizinhos. A China classificou a decisão do Japão como um "ato egoísta" e proibiu a importação de marisco e outros produtos aquáticos provenientes do Japão.
As Ilhas Salomão, aliadas da China no Pacífico, reagiram também contra a descarga de água no mar. O primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare, publicou uma "declaração firme contra a decisão do Japão". "A descarga de água, que começou na quinta-feira, tem um impacto sobre nossas populações, oceanos, economia e meios de subsistência", disse.
Outros Estados da Ásia-Pacífico com melhores relações com o Japão, como a Coreia do Sul, Taiwan, Austrália, Fiji e Ilhas Cook, manifestaram a sua confiança na segurança do processo iniciado em Fukushima.
Em Fiji, uma manifestação da oposição fijiana reuniu na sexta-feira em Suva algumas centenas de pessoas que mantinham cartazes solicitando nomeadamente "um mar sem nuclear".
Oportunidade para a China
Quaisquer que sejam os dados científicos sobre o assunto, a descarga de águas "tritiadas" de Fukushima pode oferecer uma abertura diplomática entre Pequim e os países do Pacífico, disse Mihai Sora, um ex-diplomata australiano e membro do Lowy Institute de Sydney.
O Japão "fez muita diplomacia para convencer o maior número possível de líderes do Pacífico", diz, mas "quase universalmente, essa decisão será impopular entre as comunidades do Pacífico".
A questão é muito sensível numa região onde os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a França conduziram as suas experiências atómicas durante décadas no século XX.
O governo japonês defende-se lembrando que a descarga de água com trítio é prática comum em centrais nucleares do mundo inteiro, particularmente na Coreia do Sul e China, os países que mais se têm exprimido contra as descargas nipónicas.
Descargas durante décadas
Em 2021, o executivo japonês decidiu recorrer à descarga controlada para o mar como forma de eliminar o líquido contaminado que se acumula nas instalações nucleares, onde se esgota o espaço para os grandes tanques que o armazenam, e o que é considerado um passo fundamental para o desmantelamento da central.
A água contaminada é tratada com o sistema ALPS, capaz de remover completamente 62 tipos de materiais radioativos, exceto o trítio e o carbono-14.
A TEPCO garante que o teor de trítio, um isótopo radioativo do hidrogénio, é inferior a 1500 becqueréis por litro, o que representa sete vezes menos do que o limite de 10000 Bq/l fixado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para a água potável.
O processo de descarga será supervisionado pelas autoridades nipónicas e pela Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) para garantir a conformidade com as normas de segurança.
O processo vai durar várias décadas, pois há mais de 1,3 milhões de toneladas armazenadas.