Guerra em Israel favorece a Rússia mas os EUA têm músculo financeiro para combater em ambas as frentes
O apoio dos Estados Unidos tem sido fundamental para a Ucrânia na guerra contra a Rússia. Só em ajuda militar, Washington já contribuiu com mais de 46 mil milhões de dólares, ou seja, mais do que os próximos dez doadores juntos.
Volodymyr Zelenskyy insiste que é preciso mais, e a Casa Branca garante que o apoio é incondicional, mas a guerra entre Israel e o Hamas ameaça relegar a Ucrânia para segundo plano na agenda internacional.
Natasha Lindsteadt, professora de Política na Universidade de Essex, considera que “a Rússia tem muito a ganhar” com a atual situação no Médio Oriente, uma vez que “os EUA ficarão um pouco mais distraídos e há um pouco de cansaço, tanto na Europa como nos Estados Unidos, relativamente à ajuda à Ucrânia”.
Eleições norte-americanas complicam a vida à Ucrânia
De acordo com a analista política, a situação complica-se ainda mais se tivermos em conta a complexa política interna norte-americana:
“Os republicanos, particularmente os republicanos de direita, não querem continuar a ajudar a Ucrânia. Os ucranianos vão ter um problema real se os republicanos ganharem maiorias na Câmara e no Senado e se Donald Trump ganhar a presidência, porque eles deixaram bem claro que não querem continuar a apoiar a Ucrânia.”
O impasse é essencialmente político. Natasha Lindsteadt sublinha que em termos financeiros, os EUA têm orçamento suficiente para financiar as guerras de Ucrânia e Israel ao mesmo tempo:
“Os EUA têm um enorme orçamento militar de mais de 800 mil milhões de dólares. A ajuda à Ucrânia é uma parte muito, muito pequena desse orçamento. E a ajuda a Israel também é uma parte muito, muito pequena desse orçamento. Não creio que os EUA queiram envolver-se diretamente em nenhuma destas guerras, mas há definitivamente capacidade, em termos do seu orçamento, para apoiar ambas.”
EUA não podem permitir vitória russa
Apesar do apoio militar norte-americano estar condicionado pelas eleições do próximo ano, Natasha Lindsteadt considera que não podemos abandonar a Ucrânia:
“O mundo não se pode dar ao luxo de permitir que os russos ganhem. Se pararmos com a Ucrânia, quem sabe o que vai acontecer a seguir? A Rússia tem sido muito clara quanto ao facto de querer expandir a sua esfera de influência. Tem um historial de invasão de outros países, sobretudo quando o índice de aprovação de Putin é particularmente bom. Penso que, dada a proximidade da Rússia às portas da Europa, deve haver um receio genuíno de que a Rússia continue a violar os direitos dos países europeus, seja de forma indireta ou direta.”
Se no campo militar as vitórias têm escapado a Vladimir Putin, no campo político a influência do Kremlin não pára de crescer e começa a ser uma séria dor de cabeça em Bruxelas.