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Irlanda reconhece Palestina para "manter viva a esperança", diz primeiro-ministro irlandês

Irlanda reconhece Palestina para "manter viva a esperança", diz primeiro-ministro irlandês
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De  Shona Murray
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A Euronews falou com o primeiro-ministro irlandês, Simon Harris, sobre a recente decisão do país de reconhecer o Estado da Palestina.

Euronews: “Diga-nos, porquê o reconhecimento da Palestina?"

Simon Harris: “Muito francamente, porque temos de manter viva a esperança e o sonho de uma solução de dois Estados, numa altura em que, infelizmente, outros estão a trabalhar para a minar. Acreditamos, e a Irlanda acredita há muitos anos, que a forma de trazer paz e estabilidade ao Médio Oriente é o reconhecimento de uma solução de dois Estados. É muito difícil conseguir uma solução de dois Estados sem reconhecer a existência de dois Estados. A Irlanda teria preferido que isso fizesse parte de um processo de paz. Era a intenção inicial do nosso programa de governo. Mas não podemos esperar para sempre e já passaram muitas décadas, desde os Acordos de Oslo. Agora, mais do que nunca, temos de defender abertamente a importância de uma solução que envolva dois Estados, porque, em última análise, é isso que proporcionará ao povo de Israel, ao povo da Palestina e a toda a região a estabilidade e a paz que tanto os israelitas como os palestinianos merecem. Trabalhámos intensamente com os nossos homólogos europeus. Avançámos em sintonia com a Noruega e com a Espanha. Espero que nas próximas semanas outros países europeus também reconheçam a Palestina”.

Euronews: “Quando diz que outros estão a tentar minar este processo, de quem está a falar?”

Simon Harris: “Não creio que o governo de Netanyahu esteja, de alguma forma, empenhado em conseguir uma solução de dois Estados. Ouvimos muita retórica e comentários sonbre isso. Tem havido um consenso generalizado, ao longo de muitos e muitos anos, sobre a necessidade de uma solução de dois Estados. Penso que nas últimas semanas, nos últimos meses, temos assistido a muitos esforços para acabar com essa esperança. Tomámos a decisão de reconhecer a Palestina por ser a decisão mais adequada. Mas estou muito consciente de que a decisão foi tomada numa altura em que há uma catástrofe humanitária inconcebível a desenrolar-se em tempo real em Gaza, uma escala de catástrofe humanitária que penso que ainda nem sequer compreendemos. Por isso, é muito importante dar poder às vozes moderadas, tanto na Palestina como em Israel, porque há muita retórica, há muita deturpação intencional do que a Irlanda e outros estão a fazer ao reconhecer a Palestina. Não se trata do Hamas. Abominamos o Hamas. É uma organização terrorista. Não oferecem nada ao povo palestiniano em termos de futuro. São um perigo e uma ameaça para os israelitas e para o povo palestiniano. O que aconteceu no dia 7 de outubro foi um massacre terrorista desprezível e repugnante. Todos os reféns deveriam ser libertados incondicionalmente. Mas os irlandeses sabem melhor do que a maioria das pessoas o que é ter uma organização terrorista que, de muitas maneiras, sequestra a nossa identidade. O Hamas não é a Palestina, e nós sabemos distinguir as duas coisas”.

Euronews: “Mas, os israelitas dizem que essa decisão reconforta o Hamas, porque surge em resposta, é o que eles dizem, ao ataque de 7 de outubro".

Simon Harris: “E nós, obviamente, não aceitamos isso de todo. Creio que reconhecemos plenamente o Estado de Israel. Reconhecemos o seu direito a viver em paz e segurança, e é perfeitamente aceitável dizê-lo e dizer também que existe um Estado da Palestina e que reconhecemos a sua necessidade de viver em paz e segurança. Temos de tentar quebrar os ciclos geracionais de ressentimento, de ódio, de retaliação, de morte, de miséria e de medo. E a forma de o fazer é reconhecer muito claramente que é necessário um processo de paz político, que tem de reconhecer a existência de dois Estados. Dizemos aos nossos amigos em Israel, ao povo israelita que não pode ser definido pelas decisões da liderança do seu governo, que queremos que possam viver em paz e segurança. E creio que há muitas pessoas em Israel e na Palestina, muitos pais em ambos os Estados, que querem que os seus filhos possam crescer, num país e numa região, seguros e protegidos. E é isso que estamos a tentar ajudar a concretizar, so dizermos, juntamente com outros países, que acreditamos que há uma forma política de fazer avançar esta questão, e essa é uma solução de dois Estados".

Euronews : “Qual é a sua reação ao facto de alguns países da UE e os aliados da Irlanda, os Estados Unidos, criticarem o Tribunal Internacional de Justiça e o Tribunal Penal Internacional por algumas das críticas e pelos processos contra Israel e o Hamas?"

Simon Harris : “Reconheço o direito de qualquer país a expressar as suas opiniões sobre qualquer assunto. De uma perspetiva irlandesa, penso que é muito importante respeitarmos a independência destas estruturas judiciais internacionais. Penso que servem bem o mundo. Considero que são importantes. E não quero fazer qualquer tipo de comentário sobre a independência das decisões que eles tomam e que, de facto, têm de tomar nos próximos dias, semanas e meses.Euronews: “Mas não mostra que existem divisões profundas na União Europeia e potencialmente enfraquece a europa no palco global, onde fomos capazes de mostrar uma posição coesa durante muito tempo sobre a situação em Gaza?"

Simon Harris: “Penso que é realmente lamentável. Quero dizer, compreendo o contexto e compreendo as perspetivas que os diferentes países trazem para a mesa, mesmo que discorde fundamentalmente de algumas delas. Mas penso que tivemos um momento importante em abril, quando, no Conselho Europeu, o primeiro Conselho Europeu a que tive a honra de assistir, como Taoiseach, chegámos a conclusões que apelavam a um cessar-fogo imediato e que se afastaram de frases como “pausa humanitária”. Por isso, acredito agora que a posição irlandesa, que visa um cessar-fogo imediato, assegurar que a ajuda humanitária possa fluir e iniciar um processo político, está a tornar-se rapidamente a opinião dominante na Europa. Mas também temos de ser honestos, tem havido uma variedade de opiniões nas mesas europeias sobre este assunto".

Euronews: “Mas acredita que a UE fez o suficiente para defender o direito internacional? A UE é um sistema baseado em regras. E vemos, por exemplo, funcionários da União Europeia a pedir à Comissão que faça mais para criticar o que está a acontecer em Gaza, tal como criticam o que está a acontecer na Rússia e na Ucrânia”.

Simon Harris: “Acredito que se pode e deve fazer mais, e exprimo-o em todas as oportunidades possíveis com os homólogos europeus, com a presidente da Comissão, no Conselho Europeu. E refiro-me em particular aos acordos de associação entre a União Europeia e Israel, que têm cláusulas sobre direitos humanos. E estas não foram introduzidas para tornar o documento mais extenso ou preencher espaço. Têm um efeito real, são palavras reais e significativas. E fazem parte de um acordo entre Israel e a União Europeia. Para ser franco, não percebo por que razão não se procedeu à revisão do acordo, pedindo simplesmente que este fosse revisto do ponto de vista dos direitos humanos. Penso que é lamentável, e continuarei a defender todos os dias, em nome da Irlanda, que isso aconteça. O meu antecessor e Primeiro-Ministro de Espanha, Pedro Sanchez, assinou uma carta com esse objetivo. E essa carta continua a ser a posição da Irlanda atualmente".

Euronews : “Mas é claro que alguns Estados-Membros diriam que, de uma perspetiva histórica, não se sentem confortáveis a criticar Israel, em particular a Alemanha, obviamente".

Simon Harris: “Por isso, penso que temos de ter muito cuidado para não dizermos que o que está em causa é o direito internacional e os direitos humanos, e essa é a perspetiva irlandesa. E muitas vezes é deturpada, acidental ou intencionalmente. Não se trata de ser pró-israelita ou pró-palestiniano. Trata-se de ser a favor do direito internacional. Tem a ver com ser a favor dos direitos humanos. Trata-se de ser a favor da paz. E penso que o que está a acontecer em Gaza é inaceitável. E haverá um momento no futuro em que os vossos filhos, netos e bisnetos perguntarão: “O que é que vocês fizeram? O que é que vocês fizeram? Fizeram o suficiente? E isso deveria manter cada um de nós acordado à noite, porque há crianças em Gaza, em Rafah, que vão dormir à noite sem saber se vão acordar. Se acreditamos na paz, se acreditamos num cessar-fogo - eu acredito nisso profundamente, e são essas as conclusões do Conselho Europeu de abril - temos de nos desafiar e fazer a nós próprios uma pergunta muito simples: estamos a fazer tudo o que podemos para criar o ambiente que permita esse cessar-fogo?".

Euronews : “Quem são os seus parceiros neste Estado palestiniano? Porque, obviamente, falou do facto de que é muito importante estar do lado certo da história para dar vida à solução dos dois Estados. Mas que implicações práticas é que isto vai ter?"

Simon Harris: ”Penso que o significado prático e jurídico desta decisão é o facto de a representação da Palestina aqui na Irlanda, em vez de ser apenas uma representação, poder candidatar-se, na devida altura, a tornar-se uma embaixada. De igual modo, a nossa própria representação em Ramallah pode fazer o mesmo. Mas o que está em causa é mais do que isso. Trata-se de liderança política e moral. Trata-se de dizer a outros países da União Europeia, que eu sei que estão a considerar esta possibilidade, que vocês também o podem fazer. Eu estava muito ansioso por que avançássemos a par e passo com outros países. Penso que os três países que tomaram esta semana a iniciativa de reconhecer o Estado da Palestina - Espanha, Noruega e Irlanda - têm um longo historial em termos de empenho na paz no Médio Oriente. por isso trata-se de um grupo importante de países”.

Euronews: “Mas, imaginemos que o Hamas viesse a formar um novo governo no seio da Autoridade Palestiniana no futuro, se houvesse eleições, porque algumas pessoas apoiam o Hamas".

Simon Harris: “Sim. Eu oponho-me fundamentalmente ao Hamas. O Hamas é uma organização terrorista. Deveria responder pela atrocidade que cometeu no dia 7 de outubro. É difícil descrever a magnitude desse ato. Nunca devemos evitar este ponto quando falamos no reconhecimento da Palestina. O que eles fizeram ao povo de Israel foi desprezível e brutal. E a tomada de reféns até hoje é uma crueldade acrescida ao massacre e ao ataque terrorista que o povo de Israel sofreu e esses reféns devem ser libertados incondicionalmente. É necessário que se realizem eleições democráticas em todos os países onde acreditamos na democracia e, obviamente, o resultado das eleições democráticas decide os governos dos povos. Mas não há futuro para o povo palestiniano com o Hamas. Penso que o que estamos a tentar fazer aqui é dar poder às vozes moderadas. Temos isso no nosso próprio país. E penso que isto é importante para os telespetadores de fora da Irlanda compreenderem. Tivemos uma organização terrorista na Irlanda, que tentou, por vezes, apoderar-se da nossa bandeira e sugerir que falava em nome do povo, mas não o fez. Aquilo que nos permitiu ter paz foi um processo de paz, que conduziu à situação bem sucedida que temos hoje”.

Euronews : “Os israelitas moderados que aceitam que deve haver uma solução de dois Estados continuam a dizer que estão preocupados com o facto de que, se houver um Estado palestiniano, independentemente dos seus melhores esforços e da sua boa vontade, poderá haver um governo liderado pelo Hamas, o que ameaçaria a viabilidade da segurança de Israel”.

Simon Harris: “É precisamente por isso que precisamos de ter um processo de paz político. E é por isso que os países de todo o mundo, incluindo a Irlanda, devem estar prontos para ajudar nesse processo. Mas não podemos chegar a esse processo enquanto não houver uma cessação da violência. Por isso, a violência tem de acabar. É preciso pôr fim à catástrofe humanitária, a ajuda tem de fluir e, depois, é necessário levar a cabo um processo de paz político. E como parte desse processo político de paz, a segurança de Israel é absolutamente vital. E eu disse isso muito claramente, quando reconhecemos o Estado da Palestina esta semana. O povo de Israel tem o direito de viver em paz e segurança. O povo da Palestina tem o direito de viver em paz e segurança, e a comunidade global tem o direito de apoiar e ajudar a chegar a um processo de paz que garanta isso para ambos os Estados. Na Irlanda, temos visto os benefícios, ao longo de muitos anos, da participação e assistência globais, quer da União Europeia quer dos Estados Unidos, num processo de paz. E não tenho dúvidas de que a União Europeia, os EUA e outros países estariam prontos a ajudar nesse processo. Por isso, consideramos como extremamente importante a questão da segurança de Israel e do povo israelita. Mas o que está a acontecer agora tem de acabar. A ideia de que o que está a acontecer agora é sustentável ou que, de alguma forma, garante a segurança de Israel é uma visão extremamente desajustada. É um beco sem saída em todos os sentidos da palavra. Se quisermos alcançar a paz, temos de entrar num processo de paz político que reconheça a existência de dois Estados. Já houve muitos falsos amanheceres no passado. Mas, a partir deste cenário horrível, de um ataque terrorista horrível para Israel, de uma catástrofe humanitária horrível para o povo da Palestina, tem de se chegar a um momento em que possamos avançar para a paz. A única forma de conseguir a paz em qualquer região é através de um processo político".

Euronews: “Um dos grupos políticos no Parlamento Europeu é o PPE, do qual é membro, que não tem dado um apoio muito forte à Palestina. Na maioria das questões, vemos o PPE a deslocar-se para a direita, Ursula von der Leyen a dizer que poderia potencialmente negociar com os conservadores e reformistas, que tem grupos de extrema-direita no seu seio. Poderia alinhar-se com o grupo Identidade e Democracia que integra grupos de extrema-direita. Está preocupado com o rumo que o PPE poderá tomar no final destas eleições para o Parlamento Europeu?"

Simon Harris : ”Estou definitivamente preocupado com a ascensão da extrema-direita em toda a União Europeia. Preocupam-me os elementos que vemos em relação à extrema-direita aqui na Irlanda. E é por isso que acredito que é muito importante que os centristas saiam à rua e tentem ganhar o maior número de votos e convencer o maior número de pessoas, no período que antecede as eleições europeias, porque acredito que o centro precisa de se manter, agora mais do que nunca, tanto aqui na Irlanda, como na União Europeia. Não quero ver nenhuma viragem para a direita. E é por isso que estou a fazer campanha, aqui na Irlanda, para que sejam eleitos eurodeputados do Fine Gael e, da mesma forma, quero ver os colegas do PPE a fazerem o mesmo em toda a União Europeia, porque a forma de evitar qualquer desvio do centro é maximizar o número de pessoas que se elegem de partidos centristas".

Euronews : “Seria contra, se Ursula von der Leyen tivesse de fazer um acordo para se manter no cargo de presidente da Comissão Europeia, para que o PPE ocupe essa posição? Seria contra o facto de ela ter de trabalhar com o ECR e potencialmente com o ID?"

Simon Harris : “A Irlanda dará a conhecer a sua opinião após as eleições, quando virmos o resultado, porque temos sempre de respeitar os resultados democráticos de todas as eleições. Mas sei que, quando participo no Conselho Europeu, o maior bloco de primeiros-ministros é, de longe, o PPE, os primeiros-ministros. Penso que este facto nos dá um ponto de partida muito importante para as discussões, após as eleições de junho. Mas o Parlamento Europeu é importante. Não quero assistir a uma viragem à direita. Acredito que o centro é onde temos de estar. Mas também acredito, e felicito o PPE por algum do seu trabalho nesta matéria. E também temos algum trabalho a fazer aqui na Irlanda. O centro deve apresentar resultados. E quando olhamos para uma série de questões, penso que o centro permite que surja um vazio, particularmente em torno do discurso da migração, e esse vazio é preenchido e muitas vezes explorado por elementos da extrema-direita. Isso não é apropriado, não é correto, não é liderança. É muito importante que o PPE, a nível europeu, e eu próprio, enquanto líder do Fine Gael, membro do PPE na Irlanda, mostremos aos nossos cidadãos que compreendemos algumas das questões que colocam em torno de um sistema baseado em regras no que se refere à migração. E permitam-me que diga o seguinte, para evitar distorções: a migração e a imigração são uma coisa boa. Este país beneficiou imenso com a imigração. É o caso do nosso serviço de saúde e de tantos aspetos da nossa economia. Mas, os nossos cidadãos também nos dizem: “Podem demostrar-nos que os sistemas são eficientes e eficazes, que se baiseam em regras? É necessário que todos os políticos centristas, primeiros-ministros como eu, mostrem ao público que compreendemos isso e que estamos a cumprir. Penso que essa é a melhor maneira de contrariar uma viragem para os extremos".

Euronews: “Mas o problema é que o PPE parece estar a caminhar nessa direção, no que diz respeito ao processo de potencial externalização do tratamento dos imigrantes, por exemplo. É algo que, de certa forma, é comparável ao que os britânicos estão a fazer com o Ruanda. Concorda com isso?"

Simon Harris : “Não concordo. Tudo o que o PPE fizer e quiser apresentar, e tudo o que a Irlanda apoiar tem de estar em conformidade com os direitos humanos, com a convenção europeia dos direitos humanos. E nós somos muito claros em relação a isso. Cabe à Grã-Bretanha decidir a sua política de migração, mas penso que está muito longe de algumas das ideias que estão a ser discutidas na Europa".

Euronews : “Porque é que acha que as pessoas estão a virar-se para a direita? Porque é que acha que não acreditam na Europa social do passado, onde se defendia ou pelo menos havia a ideia de defender os direitos dos trabalhadores?"

Simon Harris: "Em primeiro lugar, vamos ver se estão mesmo a virar-se para a direita, esse é o primeiro ponto. As sondagens de opinião vão e vêm, mas, na verdade, as sondagens de opinião aqui na Irlanda, neste momento, em termos das eleições europeias, sugerem que o centro pode, de facto, aguentar-se muito melhor do que o esperado. vamos ver. Temos um caminho a percorrer, as campanhas são importantes e as eleições também. De um modo geral, estamos a viver tempos extraordinariamente difíceis. Há desafios enormes a nível externo, na Ucrânia, no Médio Oriente, a crise migratória, a crise inflacionista. Penso que os políticos centristas, incluindo eu próprio, devem desafiar-se a fazer melhor. A meçhor forma de lidar com a emergência climática não é dar lições às pessoas, é suscitar a adesão das pessoas. A emergência climática não é uma escolha entre os agricultores e o planeta. Temos de ser capazes de fazer as duas coisas”.

Euronews: “Considera lamentável que o PPE se tenha afastado de coisas como a lei da restauração da natureza e a lei da biodiversidade? Ursula von der Leyen foi a campeã do Pacto Ecológico e, em três ou quatro anos, há um retrocesso, talvez porque ela queira trabalhar com a extrema-direita".

Simon Harris : “Não me cabe a mim falar pela Presidente von der Leyen, mas não creio que essa seja uma descrição justa do que ela está a fazer. Os meus eurodeputados do Fine Gael votaram a favor da lei de restauração da natureza. Fomos capazes de mostrar a nossa independência de pensamento quando se trata de fazer o que é correto para o planeta, é importante quando o processo é seguido, e isto foi aprovado pelo Parlamento Europeu. Isso é importante, isso conta. Isso é democracia. Por isso, não estou satisfeito por ver uma situação em que as coisas ficam bloqueadas algures em Bruxelas e têm de ser revistas, e nesta fase terão de ser revistas após as eleições europeias. Mas estou convencido do grande empenho da Presidente von der Leyen em relação ao Pacto Ecológico. Penso que ela investiu muita energia, tempo e liderança nesse projeto. Mas, mais uma vez, é importante que vejamos a questão a nível interno na Irlanda. É importante mostrar aos agricultores e ao setor agroalimentar dos quais a Europa depende, que eles podem continuar a existir e a prosperar e, ao mesmo tempo, fazer face à emergência climática. O argumento de que ou se faz uma coisa ou outra, penso eu, é o que de facto ajuda a alimentar o extremismo. Temos de fazer as duas coisas. Temos de ajudar os agricultores na transição. Temos de os apoiar, de os ouvir, de trabalhar com eles, e temos de salvar o planeta porque há uma emergência climática".

Euronews : “Uma última pergunta sobre a Ucrânia, porque geograficamente a Irlanda está muito longe, mas é obviamente um membro da União Europeia e do continente europeu. Nos últimos meses, a situação na Ucrânia, no Leste, em Avdivka, em Kharkiv, chegou a um ponto particularmente mau devido à falta de armas e à falta de consistência no que diz respeito ao apoio militar. O que é que a Irlanda poderia fazer a esse respeito? Porque, quero dizer, há um reconhecimento de que esta é provavelmente uma guerra longa e a Europa precisa de apoiar a Ucrânia. Pode não ter o apoio dos Estados Unidos. Fale-me um pouco sobre a forma como vê essa situação. Apoiaria, por exemplo, algo como obrigações de defesa?”

Simon Harris : “Não tenho a certeza de que as obrigações de defesa sejam o caminho a seguir. E há muitos países, incluindo os que prestam assistência militar à Ucrânia, que não têm a certeza em relação às obrigações. Por isso, os meus comentários são independentes do debate mais alargado sobre as obrigações. O que a Irlanda vai continuar a fazer é prestar uma série de assistência humanitária à Ucrânia, que também é muito importante, e assistência prática em relação à desminagem e à cibersegurança. E estamos a trabalhar com a Ucrânia em ambas as questões. Tive três conversas com o Presidente Zelensky desde que me tornei chefe de governo. falei com o Primeiro-Ministro da Ucrânia. Vou chefiar a delegação irlandesa à cimeira de paz na Suíça no próximo mês, que considero ser um momento importante. E estou também a trabalhar no sentido de apelar ao maior número possível de países, em especial aos países do Sul global com os quais a Irlanda tem relações, para que enviem uma representação, porque penso que a cimeira de paz é uma oportunidade importante para o mundo, ou a maior parte do mundo, falar a uma só voz sobre os próximos passos. A situação na Ucrânia, porém, é extraordinariamente preocupante. Sei-o através de conversas com homólogos europeus e há questão da defesa aérea. É uma questão real. É grave e urgente. E sei que há vários países europeus que estão a ver o que mais pode ser feito para ajudar a Ucrânia num sentido prático".

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