Um terço dos pouco mais de 30 mil habitantes de Monfalcone, no nordeste de Itália, é imigrante. A autarca, de extrema-direita e candidata ao Parlamento Europeu, proibiu as orações de sexta-feira num centro muçulmano da localidade e criou insatisfação junto da comunidade imigrante.
Monfalcone, localidade portuária no Adriático, no nordeste de Itália, detém o recorde de imigração do país, o que tem criado tensões entre os habitantes locais, a comunidade imigrante e os políticos.
Um terço dos pouco mais de 30 mil habitantes é imigrante, a maioria proveniente do Bangladesh. Dois em cada três recém-nascidos são filhos de imigrantes.
Sob a liderança da presidente da câmara Anna Cisint, que pertence ao partido Liga, de extrema-direita, liderado pelo vice-primeiro-ministro de Itália, Matteo Salvini, foram implementadas medidas controversas, incluindo a proibição das orações de sexta-feira num centro cultural muçulmano da localidade.
"O risco que enfrentamos aqui é o mesmo risco que enfrentamos em toda a Europa. Os factos demonstram-no”, afirma Cisint, reeleita em 2022 com base numa agenda anti-Islão.
Boa parte da população parece aprovar a visão da autarca, que, no entanto, tem criado apreensão junto dos imigrantes, em especial os muçulmanos, muitos dos quais vivem há mais de 20 anos em Monfalcone.
A localidade ultrapassou recentemente os 30 mil habitantes e o crescimento da população é atribuído em grande medida ao extenso estaleiro naval pertencente à gigante Fincantieri, controlada pelo Estado: a empresa tem desenvolvido uma política de contratação de mão-de-obra nas últimas duas décadas que levou a um enorme afluxo de trabalhadores estrangeiros.
Sojun, a mulher Sokta e os dois filhos do casal são originários do Bangladesh.
"Consegui um emprego logo que cheguei. Gosto de Monfalcone como se fosse a minha segunda casa”, confessa Sojun, que trabalha no estaleiro da Fincantieri, na construção de navios de cruzeiro, juntamente com mais de oito mil pessoas, a maioria das quais do Bagladesh.
Sojun e a família dizem estar adaptados a Monfalcone.
"Gosto de Itália porque quero ter uma boa vida e quero dar aos meus filhos um bom futuro aqui”, refere Sokta, mulher de Sojun.
A mão-de-obra imigrante, mais barata, ultrapassa de longe a italiana, especialmente durante os períodos de pico na construção de navios de cruzeiro.
Uma das primeiras medidas de Cisint foi a remoção dos bancos da praça principal, alegadamente porque eram utilizados sobretudo por imigrantes.
Cisint tentou limitar o número de crianças estrangeiras nas escolas e eliminou o críquete, popular entre os bangladeshianos, do festival desportivo da localidade.
No verão passado, como reporta o The Guardian, proibiu as mulheres muçulmanas de usarem burkinis na praia.