As autoridades libanesas entregaram dezenas de cidadãos sírios, incluindo antigos oficiais do exército, à nova administração de Damasco, depois de terem sido apanhados a entrar ilegalmente no Líbano.
A embaixada da Síria no Líbano suspendeu os serviços consulares um dia depois de dois familiares do presidente deposto Bashar al-Assad terem sido detidos no aeroporto de Beirute, alegadamente com passaportes falsos.
A embaixada anunciou na sua página do Facebook que o trabalho consular foi suspenso "até novo aviso" por ordem do Ministério dos Negócios Estrangeiros sírio.
O anúncio não indicava o motivo da suspensão.
Mas dois oficiais de segurança libaneses, que falaram sob condição de anonimato, afirmaram que a suspensão foi ordenada porque os passaportes pertencentes aos familiares de Assad teriam sido falsificados na embaixada.
Entretanto, as autoridades libanesas entregaram dezenas de cidadãos sírios, incluindo antigos oficiais do exército, à nova administração em Damasco, depois de terem sido apanhados a entrar ilegalmente no Líbano, segundo um observatório de guerra e funcionários libaneses.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido, informou que 70 sírios foram entregues por uma delegação de segurança libanesa às forças do novo governo sírio, liderado pelo antigo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS).
Três funcionários judiciais libaneses, em anonimato, confirmaram o relatório.
Os países da região apressaram-se a estabelecer laços com os novos governantes da Síria.
Delegações da Líbia e do Bahrein chegaram a Damasco no sábado em visitas oficiais.
O líder do HTS, Ahmad al-Sharaa, tem conseguido, dentro e fora da Síria, acalmar os receios, de que o seu grupo desencadeie um castigo coletivo contra as comunidades que apoiaram o regime de Assad ou tente impor uma lei islâmica rigorosa às minorias religiosas do país.
No entanto, nos últimos dias, registaram-se confrontos entre as forças de segurança lideradas pelo HTS e grupos armados pró-Assad.
As novas forças de segurança do país lançaram uma série de rusgas contra funcionários ligados a al-Assad e montaram postos de controlo em zonas com populações da minoria religiosa alauíta, à qual pertence o antigo presidente.
No nordeste da Síria, têm-se registado tensões e confrontos entre as forças lideradas pelos curdos e os grupos armados apoiados pela Turquia.
Muitos curdos têm encarado com ansiedade a nova ordem em Damasco, que parece ter reforçado a posição da Turquia na Síria.
Ancara considera que as Forças Democráticas Sírias lideradas pelos curdos, um dos principais aliados dos Estados Unidos na luta contra o grupo Estado Islâmico, são filiais do seu inimigo declarado, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que classifica como organização terrorista.
O Departamento de Estado norte-americano disse no sábado que o Secretário de Estado Antony Blinken tinha falado com o Ministro dos Negócios Estrangeiros turco Hakan Fidan para "discutir os últimos desenvolvimentos na Síria".
"O secretário Blinken sublinhou a necessidade de apoiar um processo político liderado e detido pela Síria, que defenda os direitos humanos e dê prioridade a um governo inclusivo e representativo", refere o comunicado.