Investigada desde 2021, a ministra da Cultura vai ser levada a tribunal no âmbito do caso Renault. Esta notícia poderá pôr em causa a potencial candidatura de Rachida Dati a Presidente da Câmara de Paris.
Os juízes franceses ordenaram na terça-feira que a ministra da Cultura, Rachida Dati, e o ex-CEO da Renault-Nissan, Carlos Ghosn, sejam remetidos para os tribunais criminais por alegada corrupção e tráfico de influências, noticiou a AFP.
A ministra de Emmanuel Macron, amplamente cotada para se candidatar à presidência da Câmara de Paris em março de 2026, é suspeita de ter recebido 900.000 euros em honorários entre 2010 e 2012 em troca de lobbying em nome do grupo Renault-Nissan, quando era deputada do Parlamento Europeu.
O estatuto de eleita de Rachida Dati não a impede de exercer a sua profissão de advogada e ela sempre afirmou que se tratava de serviços de consultoria cobertos por um contrato de honorários, mas os magistrados suspeitam que ela não tenha efetivamente feito qualquer trabalho.
A aliança automóvel Renault-Nissan contratou Rachida Dati como consultora depois de esta ter deixado o cargo de ministra da Justiça, em 2009, para se candidatar às eleições europeias.
Em novembro de 2024, a Procuradoria Nacional das Finanças (PNF) solicitou que Rachida Dati e o antigo patrão da Renault-Nissan, Carlos Ghosn, fossem julgados no âmbito da sua investigação de corrupção, iniciada em 2019.
Rachida Dati terá defendido os interesses do construtor francês no Parlamento Europeu, o que, segundo os magistrados, se reflectiu nas votações.
Os dois arguidos contestam as acusações.
Carlos Ghosn, que tem nacionalidade francesa, libanesa e brasileira, não sai do Líbano desde 2019 devido a um aviso vermelho da Interpol emitido pelo Japão.
Investigado por "peculato" e "ocultação de rendimentos" pelas autoridades japonesas, fugiu do país, escondendo-se numa mala.
O Eliseu continua atento à presunção de inocência dos ministros
Ex-sarkozista e crítico de Emmanuel Macron, Dati foi surpreendentemente nomeado Ministro da Cultura em janeiro de 2024, no âmbito de uma remodelação. Desde então, vários meios de comunicação social revelaram a existência de um "pacto" entre o Chefe de Estado e a figura de destaque dos Républicains, tendo em vista as eleições autárquicas de Paris, o que foi desmentido pelos intervenientes.
No seu cargo, Dati posicionou-se como defensora da cultura "popular" e acessível. Defende igualmente o projeto de fusão do sector público de radiodifusão, uma reforma criticada por um grande número de actores do sector.
Segundo o Le Figaro e a RTL, citando uma fonte do Palácio do Eliseu, o Presidente da República "tomou nota" do envio da sua ministra a julgamento, argumentando que, nesta fase, não se trata de uma condenação e que Rachida Dati "continua o seu trabalho no governo".
Uma demissão excluída pela própria ministra, que declarou no cenário de LCI, na terça-feira à noite, que não iria "desistir de nada".