O exército israelita revelou que a investigação preliminar mostrou que o bombardeamento da igreja da Sagrada Família na Cidade de Gaza, que matou três pessoas e fez vários feridos, foi causado por avaria nos mecanismos das munições e da artilharia.
As fotografias que documentam o incidente mostram o telhado da igreja a arder perto da cruz principal, para além da destruição da fachada de pedra e das janelas estilhaçadas.
Na sua declaração, o exército israelita sublinhou que a investigação não identificou qualquer erro humano, mas atribuiu o incidente na única igreja católica de Gaza a uma avaria técnica nos mecanismos das munições e da artilharia.
Apesar do incidente, o exército não indicou quaisquer sanções para os soldados envolvidos, à semelhança de casos anteriores em que trabalhadores humanitários foram mortos em resultado de erros militares.
"A pedido de representantes do Patriarcado de Jerusalém, a IDF, através da Coordenação das Atividades Governamentais nos Territórios (COGAT), facilitaram a entrada de ajuda humanitária na Igreja da Sagrada Família, incluindo alimentos, equipamento médico e medicamentos", refere o comunicado.
Nos últimos dias, lê-se na mesma nota, "a IDF coordenou a entrada de uma delegação em representação dos Patriarcados Grego e Latino, acompanhada por clérigos cristãos, para visitar a Igreja Latina na Faixa de Gaza. Também coordenou a retirada dos feridos no incidente para receberem o tratamento médico necessário".
O exército sublinhou que os ataques militares visam "apenas alvos de natureza militar", garantindo que "trabalha para minimizar os danos causados a civis e a infraestruturas civis, incluindo locais de culto", lamentando igualmente "qualquer dano causado a civis".
O exército declarou que tinha estudado o incidente para tirar lições e ajustar as regras de uso de artilharia, especialmente quando se trata de alvos situados perto de locais sensíveis. No entanto, as razões do erro técnico permanecem pouco claras.
O incidente provocou uma onda de condenação por parte da Igreja Católica e de vários aliados ocidentais de Israel, que criticaram o que descreveram como "negligência grosseira" na gestão das forças do exército dentro de Gaza.
Numa declaração muito firme, o Patriarcado Latino de Jerusalém condenou o ataque, descrevendo-o como uma "ação flagrante contra um alvo de civis e casas de culto", sublinhando que se tratava de "uma violação direta da santidade dos lugares cristãos e uma violação flagrante das normas humanitárias mais básicas".
A declaração referia ainda que a igreja, localizada no coração de Gaza, estava a acolher crianças, mulheres e famílias deslocadas no momento do bombardeamento.
Declarações de condenação
O Presidente dos EUA, Donald Trump, expressou a sua profunda consternação pelo incidente durante uma chamada telefónica com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, descrevendo o ataque como um "erro grave e inaceitável", de acordo com uma porta-voz da Casa Branca. Durante a chamada, Trump sublinhou a necessidade de uma declaração oficial de Israel explicando as circunstâncias do que aconteceu.
Por seu lado, o primeiro-ministro israelita expressou "profundo pesar por um projétil ter caído sobre a igreja", salientando que "cada vida inocente perdida é uma tragédia", sem apresentar um pedido de desculpas direto ou anunciar a abertura de uma nova investigação independente.
Em Paris, o Presidente francês Emmanuel Macron condenou veementemente o ataque, sublinhando que a igreja da Sagrada Família está "historicamente sob proteção especial da França", apelando à responsabilização dos culpados e à prevenção da repetição de tais violações.
O Papa Leão XIV apelou também ao fim da "brutalidade da guerra" em Gaza, depois de a terceira grande igreja ter sido alvo de ataques em menos de um ano.
No mesmo contexto, o Jerusalem Post refere que fontes militares israelitas afirmam que os procedimentos de disparo se tornaram mais intensos e impulsivos desde que o Major-General Yaniv Assor assumiu o comando da região sul do exército, em comparação com o período anterior, que registou menos incidentes controversos.
A Igreja da Sagrada Família é a terceira grande casa de culto cristã a ser bombardeada desde o início da guerra, depois da Igreja Ortodoxa de São Porfírio e da Igreja Batista, numa série de ataques que danificaram as infraestruturas religiosas cristãs de Gaza e reavivaram as preocupações internacionais sobre o declínio dos padrões de contenção dos militares israelitas, especialmente em operações perto de instalações civis.