Com 50,2% dos votos expressos, o partido pró-europeu venceu as eleições legislativas e deverá manter a maioria na assembleia. Uma vitória que aproxima o país da UE.
"O povo moldavo pronunciou-se. Os resultados das eleições de domingo são claros: os moldavos estão unidos no seu desejo de paz, de democracia e de Europa, e na sua coragem para os defender", afirmou a Presidente da Moldávia, Maia Sandu, que viu o seu partido vencer as eleições legislativas de domingo, 28 de setembro.
"Esta não é apenas a vitória de um partido, mas a vitória da Moldávia. A via europeia é a nossa via para o futuro", escreveu na sua conta X.
No entanto, a vitória não foi nada fácil para o partido político pró-europeu Parti Action et Vérité (PAS). No poder desde 2021, obteve 50,2% dos votos após a contagem de todos os boletins de voto. De acordo com as primeiras projecções, o PAS poderá conservar a sua maioria absoluta no Parlamento, com 55 dos 101 lugares, contra 63 na assembleia cessante.
O principal rival do PAS, e reputado como próximo de Moscovo, o Bloco Patriótico pró-russo, obteve 24,17% dos votos expressos. Seguiu-se o Movimento Alternativo Nacional (MAS), pró-europeu, mas anti-sandu, que apelou ao voto contra o PAS e obteve 7,96% dos votos.
"Mostrámos ao mundo inteiro que somos corajosos e dignos, que não nos deixámos intimidar", declarou Maia Sandu na sua conferência de imprensa.
Igor Grosu, líder do PAS, saudou a "maioria parlamentar pró-europeia" alcançada. " Deram-nos esta confiança e esta oportunidade", afirmou, referindo-se a "uma batalha extraordinariamente difícil".
"Europa, democracia e liberdade".
Apesar das tentativas de interferência e pressão, a escolha do povo moldavo foi afirmada com força. A França apoia a Moldávia no seu projeto europeu e na sua luta pela liberdade e soberania", escreveu Emmanuel Macron.
"Nada pode deter um povo que escolhe a democracia e a liberdade. Nem mesmo as tentativas desesperadas de ingerência estrangeira. A França saúda em fraternidade a escolha soberana do povo moldavo de confirmar a sua vontade de se virar para a Europa", assegurou Jean-Noël Barrot, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros.
Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, também felicitou a Moldávia. "Nenhuma tentativa de semear o medo ou a divisão foi capaz de abalar a vossa determinação. Fizeram claramente a vossa escolha: Europa, democracia, liberdade", afirmou, acrescentando que a porta da União Europeia estava aberta: "Estaremos convosco a cada passo do caminho".
António Costa, Presidente do Conselho Europeu, destacou a mensagem do povo moldavo, que descreveu como "clara e inequívoca". "Escolheram a democracia, as reformas e um futuro europeu, apesar da pressão e da interferência da Rússia".
A chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, também se congratulou com o facto de o futuro da Moldávia estar a ser escrito com a Europa. " Apesar dos esforços consideráveis da Rússia para espalhar a desinformação e comprar votos, nenhuma força pode parar um povo determinado a viver em liberdade", escreveu.
Os resultados das eleições são também uma mensagem de esperança para a Ucrânia, que está em guerra com a Rússia há mais de três anos. " Estas eleições mostraram que as actividades desestabilizadoras da Rússia estão a falhar, enquanto a Moldávia na Europa está a ganhar", escreveu Volodymyr Zelensky no Telegram.
"As atividades subversivas da Rússia, a desinformação constante, nada disto funcionou. É importante que a Moldávia tenha sido capaz de se defender eficazmente contra as ameaças, com a ajuda de todos aqueles que a apoiaram", escreveu ainda o presidente ucraniano.
Moscovo denuncia irregularidades
Ao longo da campanha, as eleições foram marcadas por acusações de interferência de Moscovo, que sempre negou ter desempenhado qualquer papel.
Na sexta-feira, o partido pró-russo Coração da Moldova foi proibido de exercer a sua atividade durante doze meses e obrigado a retirar-se da corrida às legislativas. A proibição foi pedida pelo Ministério da Justiça na sequência de buscas efectuadas a membros do partido no início do mês, que conduziram a acusações de compra de votos, financiamento ilegal e branqueamento de capitais.
Poucos dias antes, as autoridades moldavas efetuaram 250 buscas e detiveram mais de 70 pessoas no âmbito de uma investigação sobre um alegado plano apoiado pela Rússia para incitar "motins em massa" e desestabilizar o país no período que antecedeu as eleições.
Igor Dodon, colíder do Bloco Patriótico, a aliança pró-russa, fez o mesmo apelo no domingo. Dodon declarou que tinha apresentado documentos à Comissão Eleitoral Central que poderiam apontar para irregularidades no escrutínio. "O PAS está a manter-se no poder graças aos votos da diáspora", afirmou, referindo-se ao grande número de moldavos que vivem na Europa.
O líder pró-russo pediu aos seus apoiantes que se juntassem para se manifestarem contra os resultados. A manifestação, que atraiu cerca de uma centena de pessoas, durou apenas 20 minutos, segundo os jornalistas moldavos.
Moscovo, por seu lado, afirma que centenas de milhares de moldavos que vivem na Rússia foram impedidos de votar. Segundo o Kremlin, apenas duas assembleias de voto foram instaladas do outro lado da fronteira. Segundo Igor Dodon, mais de 200.000 pessoas que vivem na Transnístria, uma região separatista pró-russa, foram privadas do direito de voto.
Maia Sandu rejeita estas acusações. "Fizemos o nosso melhor para criar as condições que permitissem aos habitantes da região da Transnístria que participaram efetivamente no processo eleitoral [...] vir votar, e eles puderam fazê-lo", declarou.
A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, que enviou uma missão de observação à Moldávia, afirmou que as eleições foram competitivas, apesar de algumas irregularidades. As eleições demonstraram "um elevado nível de empenhamento na democracia num contexto de ameaças híbridas sem precedentes [por parte] da Rússia", afirmou Paula Cardoso, co-coordenadora da missão da OSCE.