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De engenheira a Nobel da Paz: quem é María Corina Machado?

María Corina Machado, foto de arquivo
María Corina Machado, foto de arquivo Direitos de autor  Copyright 2024 The Associated Press. All rights reserved
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De Jesús Maturana
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A política venezuelana María Corina Machado foi galardoada com o Prémio Nobel da Paz de 2025, um reconhecimento internacional pela sua luta pela democracia e pelos direitos humanos na Venezuela, consolidando-a como uma das figuras mais influentes da América Latina. Como tem sido a sua vida?

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María Corina Machado Parisca nasceu a 7 de outubro de 1967 em Caracas, no seio de uma família abastada ligada à indústria siderúrgica venezuelana. A sua família tem raízes na elite empresarial do país, o que marcou a sua educação em instituições privadas de prestígio. Formou-se como engenheira industrial na Universidade Católica Andrés Bello em 1989 e posteriormente especializou-se em Finanças no Instituto de Estudos Superiores.

Antes de dedicar-se à política, desenvolveu uma carreira empresarial. A sua formação técnica e experiência no setor privado moldaram a sua visão liberal da economia e defesa do livre mercado, princípios que mais tarde seriam fundamentais no seu discurso político.

Vida pessoal e família

Machado esteve casada com o empresário Ricardo Sosa Branger entre 1990 e 2001, casamento do qual nasceram três filhos: Ana Corina, Ricardo e Henrique. Há cerca de uma década mantém uma relação discreta com o advogado Gerardo Fernández, embora tenha mantido a sua vida pessoal afastada do foco mediático, concentrando-se na sua atividade política.

Os três filhos vivem atualmente fora da Venezuela por razões de segurança, uma situação que reflete as tensões políticas e os riscos que a família enfrenta devido ao seu ativismo opositor. Apesar da distância, Machado expressou publicamente o forte vínculo que mantém com os filhos.

O ativismo inicial: Súmate

O ponto de inflexão na vida de María Corina surgiu durante a crise política de 2002, quando a Venezuela vivia uma profunda polarização sob o Governo de Hugo Chávez. Nesse ano fundou a Súmate, uma organização civil que se tornou um ator-chave na defesa do direito ao voto e na promoção de mecanismos de participação cidadã, especialmente o referendo revogatório.

A Súmate organizou a recolha de assinaturas para o referendo revogatório contra Hugo Chávez em 2004, um processo que gerou enorme controvérsia e colocou Machado no centro do debate político nacional. O Governo chavista acusou-a de receber financiamento estrangeiro e conspirar contra o Estado, acusações que ela sempre negou. Esta experiência tornou-a uma figura polarizadora e visível da oposição.

Carreira parlamentar

Em setembro de 2010, foi eleita deputada à Assembleia Nacional com o maior número e margem de votos de qualquer representante nessa contenda. O seu desempenho no parlamento foi marcado por discursos contundentes e confrontos diretos com representantes do chavismo, o que lhe valeu reconhecimento como uma das vozes mais combativas da oposição.

Durante o seu mandato como deputada, Machado denunciou sistematicamente violações de direitos humanos, corrupção governamental e o deterioro das instituições democráticas. O seu estilo confrontacional e a recusa em negociar com o Governo diferenciaram-na de outros líderes opositores mais moderados.

Vente Venezuela e liderança opositora

Em 2013 fundou o Vente Venezuela, um partido político de orientação liberal que se tornou a sua principal plataforma política. Desde então, consolidou a sua posição como uma das principais referências da oposição venezuelana, especialmente entre os setores mais radicais que rejeitam qualquer diálogo com o regime de Nicolás Maduro.

A sua liderança caracteriza-se por um discurso de princípios inquebráveis, defesa da liberdade económica e política, e um rejeição absoluta ao modelo socialista. Esta postura gerou tanto admiração fervorosa como críticas pela sua inflexibilidade.

A inabilitação e as eleições de 2024

O regime de Maduro inabilitou-a politicamente em 2023, impedindo-a de se candidatar nas eleições presidenciais de 2024. Apesar desta proibição, Machado venceu as primárias da oposição com um apoio avassalador, tornando-se a figura indiscutível do movimento anti-chavista.

Face à impossibilidade legal de ser candidata, apoia a candidatura de Edmundo González Urrutia, mantendo o seu papel como líder moral e estratega da campanha opositora. A sua capacidade de mobilizar milhões de venezuelanos, incluindo a diáspora, demonstrou a sua influência política para além de qualquer cargo formal.

Uma figura polarizadora e, ao mesmo tempo, galardoada com o Nobel da Paz

María Corina Machado é uma figura profundamente polarizadora na Venezuela. Para os seus seguidores, representa a resistência incorruptível frente à ditadura, uma líder corajosa disposta a sacrificar tudo pela democracia. Os seus críticos, por outro lado, apontam-na como uma representante da elite económica desconectada das necessidades populares e acusam-na de promover posições políticas extremas.

O que é indiscutível é a sua capacidade para manter acesa a chama opositora em momentos de profundo desânimo, a sua resistência frente à perseguição governamental e a sua determinação inquebrável. O Prémio Nobel da Paz de 2025 reconhece precisamente essa trajetória de luta pacífica pela democracia em condições extraordinariamente adversas.

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