Kouyoumtsidis visitou a Antiga Olímpia pela primeira vez, semanas após do seu triunfo em Zagreb. À Euronews falou do sucesso e da batalha que travou para recuperar após o colapso psicológico que se seguiu aos Jogos Olímpicos: "pensei em desistir".
Na Grécia, a luta livre foi outrora designada como "o desporto dos campeões olímpicos", uma vez que, entre o final da década de 1960 e o final da década de 1980, foi o desporto que mais medalhas olímpicas trouxe ao país: o ouro de Stelios Migiakis em Moscovo em 1980, a prata e o bronze de Petros Galaktopoulos em Munique em 1972 e no México em 1968, respetivamente, a prata de Dimitris Thanopoulos em Los Angeles em 1984, o bronze de George Hadjioannidis em Moscovo em 1980, o bronze de Bampi Cholidis em Los Angeles em 1984 e em Seul em 1988.
Mas, mesmo assim, nesses 20 anos de ouro da luta livre, a Grécia nunca tinha conseguido produzir um campeão mundial de luta livre, um desporto que está ligado à história do país e aos Jogos Olímpicos da Antiguidade.
No entanto, esta "maldição" foi quebrada. Em setembro, nos Campeonatos do Mundo de Zagreb, George Kouyoumtsidis ganhou o ouro na categoria de 79 kg em estilo livre.
Com vitórias sucessivas na competição e com a vitória final sobre o americano Levi David Haynes por 3-2 na final, subiu ao degrau mais alto do pódio mundial. Em sua honra, o hino nacional grego foi tocado na capital croata.
Semanas dias depois, o campeão, nascido e criado em Stavroupoli, Salónica, visitou pela primeira vez o recinto sagrado da antiga Olímpia e a Euronews esteve lá para registar os momentos.
"Estou emocionado por estar na Antiga Olímpia, o lugar onde o meu desporto realmente começou e estou muito feliz por algo que não sabia no início, mas que aprendi mais tarde: que sou o primeiro campeão mundial grego", disse Kouyoumtsidis partir do local sagrado da Academia Olímpica Internacional, a poucos metros do palácio do antigo estádio olímpico. "A paisagem aqui é linda", afirmou.
O atleta esteve no berço dos Jogos Olímpicos e foi premiado pela Associação Pan-helénica da Imprensa Desportiva pelo seu recente sucesso e por toda a sua carreira atlética, no âmbito do 12º Congresso Internacional do Desporto, realizado nas instalações da Academia Olímpica Internacional.
"No ano passado, pensei seriamente em desistir"
Hoje com apenas 24 anos, George Kouyoumtsidis esteve à beira de desistir da luta livre há um ano por não ter conseguido atingir o seu grande objetivo, os Jogos Olímpicos.
Chegou a Paris depois de ter vencido rês medalhas de ouro consecutivas no Campeonato Europeu de Juniores e uma no Campeonato Europeu Masculino. Ele próprio disse nas suas declarações na altura que o seu objetivo era ser medalhado de ouro nos Jogos Olímpicos mas, possivelmente, tudo isto acrescentou um stress adicional ao jovem atleta que, no final, acabou derrotado na sua primeira prova no evento. A desilusão foi grande.
"Depois dos Jogos Olímpicos, fiquei muito em baixo mentalmente, porque estava sentado sozinho e a pensar que não tinha mais nada para melhorar fisicamente. Isso afetou-me muito. Depois percebi que o meu erro era a abordagem psicológica que tinha em relação ao desporto e aos jogos. Mudei isso. Consegui mudar isso na minha mente e comecei a gostar do que faço. Acho que esse foi o ponto-chave que mudou a minha psicologia e foi assim que consegui sobressair a este nível este ano, um ano depois", revela Giorgos Kougioumtsidis à Euronews. E acrescenta: "Tive pensamentos de desistir, mas consegui levantar-me".
"Encarei a derrota como um azar, não como um fracasso".
Aos 24 anos, o atual campeão do mundo explica como conseguiu mudar a sua psicologia negativa.
"Tive muito apoio da minha família. Mas também eu próprio, com pessoas que aprecio, que respeito muito, que tenho como meus mentores. Ajudaram-me, falaram comigo e conseguiram basicamente trazer-me de volta ao desporto. Encarar a minha derrota não como um fracasso, mas como um infortúnio", explicou, explicando que pretende levar a nova forma de pensar para os próximos Jogos Olímpicos.
"É assim que quero olhar para os Jogos Olímpicos de Paris agora, não como um fracasso, mas como um infortúnio. E convenci-me a tirar apenas os aspetos positivos da derrota, a aprender com os meus erros. Este ano, trabalhei muito neste domínio, tanto a nível mental como físico, e consegui estar em excelente forma e ganhar esta medalha de ouro mundial".
O grande objetivo agora é Los Angeles em 2028. "Como os Mundiais têm mais competições, nos próximos três anos vou ganhar experiência e ir para os Jogos Olímpicos com uma psicologia diferente, de modo a que a minha psicologia seja a de ir a competições simples, como se fosse aos Jogos Pan-helénicos, para não ficar nervoso", explica.
"Se conseguir fazer isso, desfrutarei de todos os momentos e de toda a minha presença no local, uma experiência inesquecível, pelo que não levarei tanto a peito se algo correr mal e eu perder, como aconteceu no ano passado em Paris."
"Desejem-me saúde, deixem o resto comigo"
O lutador de 24 anos é também estudante na Universidade de Aristóteles.
"No ano passado deixei um pouco de lado a parte dos estudos, mas não vou desistir. Sei que pratico um desporto exigente e solitário, mas vale a pena o esforço, os momentos de vitória, os gritos, a multidão a aplaudir é algo que fica na mente de forma indelével. Os sacrifícios são necessários, mas quando são recompensados, não há melhor sensação", afirma o novo campeão do mundo.
George Kouyoumtsidis agradeceu as mensagens de apoio de motivação.
"Estou a tentar e acredito que vou deixar-vos orgulhosos em Los Angeles. Vocês só podem desejar que eu tenha saúde, nada mais, deixem o resto comigo e espero conseguir".