"O ResidentBat tem como alvo os smartphones Android e permite o acesso a dados extremamente sensíveis", segundo os Repórteres sem Fronteiras.
A ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF) afirma ter descoberto, em colaboração com a organização da Europa de Leste RESIDENT.NGO, "um instrumento de vigilância até agora desconhecido, utilizado pelo Comité de Segurança do Estado da Bielorrússia (KGB) contra, entre outros, profissionais da comunicação social".
Este spyware, inicialmente identificado como 'ResidentBat', tem como alvo os smartphones Android e "permite o acesso a dados extremamente sensíveis", explica a RSF.
A ONG salienta ainda que "ao contrário do conhecido spyware utilizado contra jornalistas, como o Pegasus, o ResidentBat não explora vulnerabilidades digitais. É instalado depois de as forças de segurança terem obtido acesso físico ao dispositivo. Uma vez instalado, o ResidentBat permite o acesso a registos de chamadas, gravações de microfone, capturas de ecrã, mensagens SMS, mensagens de aplicações de mensagens encriptadas, bem como ficheiros armazenados localmente".
Como é que o spyware foi detetado?
No comunicado de imprensa, a RSF conta como o ResidentBat foi detetado no smartphone de um jornalista que tinha sido interrogado pelo KGB.
"Antes de ser interrogado nas instalações do KGB, o jornalista foi convidado a deixar o seu telemóvel num cacifo. Durante o interrogatório, teve de mostrar o conteúdo do aparelho e desbloqueou o telemóvel na presença de um agente. Posteriormente, o aparelho foi novamente colocado no cacifo".
O jornalista e a RSF acreditam que as forças de segurança "observaram a introdução do código PIN, recuperaram o telemóvel durante o interrogatório e instalaram o software espião".
"Alguns dias mais tarde, o software antivírus assinalou a presença de componentes suspeitos no aparelho. O jornalista contactou então a RESIDENT.NGO, que conduziu uma investigação digital em colaboração com o Laboratório de Segurança Digital da RSF", continua o comunicado.
Repressão dos jornalistas na Bielorrússia
A RSF recorda que o jornalismo independente é fortemente reprimido na Bielorrússia. "Os jornalistas enfrentam a censura, a intimidação, a violência e a detenção arbitrária", denuncia a ONG.
"Até à data, 32 jornalistas estão presos e os relatos de tortura multiplicam-se. Muitos fugiram do país desde 2020 e trabalham a partir do exílio. Aqueles que continuam a reportar dentro da Bielorrússia fazem-no frequentemente de forma anónima e com grande risco para a sua segurança. A utilização de spyware é parte integrante desta repressão sistemática. A Bielorrússia ocupa atualmente o 166º lugar entre 180 países e territórios no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa 2025 da RSF", acrescenta.