Presidente ucraniano fez visita oficial à Polónia. As reuniões com os governantes foram dedicadas à segurança, à cooperação económica e à memória histórica.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy fez uma visita oficial à Polónia na sexta-feira, onde se encontrou com o presidente polaco Karol Navrocki pela primeira vez desde que este tomou posse.
As conversações entre os dirigentes centraram-se em três domínios fundamentais das relações bilaterais: segurança, economia e questões históricas.
A segurança como base da parceria
As questões de segurança foram as que mereceram maior atenção. Karol Nawrocki sublinhou que a visita de Volodymyr Zelenskyy tem um significado que ultrapassa a dimensão bilateral: chamou a atenção para o seu contexto regional e para o sinal claro que envia à Rússia.
"A visita de hoje é uma boa notícia para a Polónia, para Kiev e para toda a nossa região, e uma má notícia para Moscovo e para a Federação Russa", afirmou. Volodymyr Zelenskyy sublinhou a unidade dos países da Europa Central e Oriental face à agressão russa e a necessidade de uma estreita cooperação militar e política.
Salientou ainda a importância da coordenação na defesa da Europa e na segurança das nações da região.
"É muito importante para nós cooperar e apoiarmo-nos mutuamente e coordenar os nossos esforços para defender a Europa e as nossas nações. Estes são os nossos objetivos mais importantes", sublinhou.
Um elemento importante das conversações foi a cooperação tecnológica. Esta incluiu sistemas de drones e anti-drones e o programa SAFE. Zelenskyy declarou a disponibilidade da Ucrânia para implementar projetos conjuntos e convidou as empresas polacas a participar na reconstrução do país.
O presidente ucraniano referiu-se igualmente à decisão da União Europeia de mobilizar apoio financeiro para Kiev. Como sublinhou, o pacote de 90 mil milhões de euros destina-se a garantir a estabilidade financeira do país no meio da guerra em curso.
"É evidente que a Rússia deve pagar pela guerra que começou", afirmou, acrescentando que os fundos podem ser utilizados para a defesa, caso a agressão continue.
Os MiG-29 e as tensões entre o presidente e o governo
A conferência de imprensa também abordou a possível transferência de caças MiG-29 para a Ucrânia em troca de sistemas de drones e anti-drones ucranianos. Nawrocki salientou que se geraram muitos mal-entendidos em torno desta questão.
"Estamos a seguir uma tempestade completamente desnecessária. O público tem sido mal informado. As decisões relativas aos MiGs não são da minha competência", afirmou, sublinhando que a questão é da competência do governo e que o seu papel é zelar pela segurança dos soldados polacos.
Ao mesmo tempo, salientou que a possível troca de equipamento militar faz parte da lógica da parceria estratégica entre a Polónia e a Ucrânia.
Volodymyr Zelenskyy chamou também a atenção para a dimensão prática de uma solução deste tipo. Sublinhou a experiência dos pilotos ucranianos na operação dos MiG-29 e o facto de que seria necessário muito mais tempo para os treinar a pilotar F-16.
"Estes aviões são muito bons e já os podemos utilizar para defender os nossos céus. Se isto puder ser resolvido, obrigado", disse.
A questão dos MiGs expôs recentemente as tensões entre o presidente e o governo polacos: Karol Nawrocki declarou que não tinha sido informado dos planos relativos a esta questão. A versão oposta foi apresentada pelo vice-primeiro-ministro Władysław Kosiniak-Kamysz.
Os EUA como chave para a paz
Num contexto mais alargado, Nawrocki sublinhou o papel dos Estados Unidos no processo de paz. Na sua opinião, só Washington é capaz de exercer uma pressão eficaz sobre Moscovo.
"Donald Trump é o único líder do mundo que está disposto a forçar Vladimir Putin a assinar a paz", afirmou, observando que, sem o envolvimento dos EUA, será difícil chegar a um acordo duradouro, mantendo a segurança da região.
Durante a conferência de imprensa, o presidente polaco referiu-se também ao estado de espírito da população.
Os polacos têm a impressão de que os nossos esforços e a nossa assistência multifacetada à Ucrânia não foram devidamente compreendidos e apreciados", afirmou.
Zelenskyy respondeu diplomaticamente, assegurando a gratidão da Ucrânia e recordando a importância da assistência polaca nos primeiros dias da guerra.
"Muito obrigado à Polónia pelo apoio tangível à Ucrânia e aos ucranianos desde o início da invasão", afirmou.
Energia e GNL: Polónia como centro regional
O segundo pilar das conversações foi a cooperação económica, com especial destaque para a energia. Karol Nawrocki salientou o papel crescente da Polónia como centro energético e logístico para a Ucrânia.
"No que se refere às questões económicas, abordámos a questão do terminal de GNL (...) a disponibilidade da Polónia e da Ucrânia para que a Polónia se torne um centro energético para toda a Europa Central e Oriental" - afirmou o presidente polaco, referindo que cerca de 15% da energia enviada pelo terminal de GNL em Swinoujscie vai atualmente para a Ucrânia.
Parceria apesar dos temas difíceis
O tema mais sensível das conversações continuou a ser o das questões históricas, em especial a exumação das vítimas do massacre de Volhynia.
Karol Nawrocki sublinhou a necessidade de passar das declarações a ações concretas.
"Penso que é do nosso interesse comum enterrar as vítimas do genocídio de Volhynia, para as honrar. Isto decorre da essência dos valores cristãos, que também unem a Polónia e a Ucrânia", afirmou.
Volodymyr Zelenskyy assegurou que o processo já tinha começado. Sublinhou o envolvimento de representantes de ambos os Institutos de Memória Nacional e a preparação de um calendário detalhado de atividades.
"A parte polaca quer acelerar o processo. A parte ucraniana está pronta para o fazer", declarou.
Nawrocki salientou que as conversações incluíram 26 propostas apresentadas pela parte polaca. Manifestou-se confiante de que as barreiras formais e administrativas serão eliminadas pela parte ucraniana.
Na opinião do polaco, a resolução da questão de Volhynia é também de importância geopolítica.
Sublinhou que a Rússia utiliza a história para dividir os seus vizinhos e que uma ação conjunta de Varsóvia e de Kiev poderia privar o Kremlin deste instrumento.
"Esta é a questão mais sensível atualmente entre os nossos países. Acredito que a nossa reunião de hoje irá simplesmente resolvê-la", concluiu.
o primeiro encontro entre Volodymyr Zelenskyy e Karol Navrocki mostrou que, apesar dos temas difíceis, os dois países estão a esforçar-se por aprofundar a sua parceria, escreveu o líder polaco numa publicação no X.
Durante a passagem pela Polónia, o presidente ucraniano reuniu-se ainda com o primeiro-ministro Donald Tusk.
"Hoje a Ucrânia está a lutar para defender a sua independência e a nossa independência seria ameaçada se a Ucrânia caísse. Somos aliados. A Ucrânia está a lutar na linha da frente e nós apoiamo-la com todas as nossas forças", afirmou o chefe do governo polaco, Donald Tusk, durante a reunião com Zelenskyy em Varsóvia.
"Por vezes, os ucranianos têm a sensação de que, connosco, o ambiente se tornou menos pró-ucraniano. Sim, isso é verdade. Temos muitas explicações a dar, mas precisamos de ter muita paciência e pensar sensatamente num futuro comum baseado na amizade e no respeito", afirmou ainda Donald Tusk.