Fórum Económico de Bruxelas: Aonde vai a Europa?

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De  Bryan Carter
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Nesta edição de Real Economy, vamos ao Fórum Económico de Bruxelas e perguntamos a alguns grandes decisores as opiniões sobre o futuro da Europa no campo da Economia.

Com a guerra na Ucrânia, os efeitos das alterações climáticas a agravarem-se, a escassez de recursos e a concorrência mundial para os adquirir, a Europa enfrenta uma multiplicidade de desafios.

Mas nas suas últimas previsões económicas, a Comissão Europeia prevê um abrandamento contínuo da taxa de inflação da UE, de 9,2% em 2022 para 6,4% este ano e 2,8% no próximo ano.

E, depois de cair de 3,5% em 2022 para 0,8% este ano, o crescimento do PIB na UE deverá voltar a acelerar e atingir 1,6% em 2024.

Em declarações à Euronews no Fórum Económico de Bruxelas (BEF), o principal evento económico anual da Comissão Europeia, o comissário europeu para a Economia disse à Euronews que estes números geram um sentimento de optimismo cauteloso.

"A situação é melhor do que o esperado", disse Paolo Gentiloni à Euronews. "Se olharmos para trás, há alguns meses, estávamos a estimar uma situação muito pior, com algumas preocupações em relação ao fornecimento de energia, chegando mesmo a pensar em possíveis apagões. E muita preocupação com a possibilidade de uma recessão e de falências".

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Paolo GentiloniEuronews

O BEF coincidiu com a decisão do Banco Central Europeu de aumentar novamente as  taxas de juro directoras, numa tentativa de conter a inflação. O Comissário Gentiloni afirmou não estar preocupado com o potencial impacto no crescimento.

No entanto, um outro desenvolvimento recente poderá ser motivo de preocupação para o emprego na UE e mesmo desencadear nova legislação: A inteligência artificial.

"Precisamos de um conjunto de regras. E nós, União Europeia, somos os mestres das regras. Por isso, estou bastante confiante de que teremos boas regras também no que respeita à inteligência artificial", acrescentou Gentiloni.

A transição ecológica e digital da Europa

A digitalização, juntamente com as terríveis consequências da crise climática, são dois dos principais motores que impulsionam a transição económica da Europa. Para os Estados-membros, isto significa maiores investimentos na educação e na formação.

"Este é provavelmente um dos principais desafios que temos pela frente: como garantir que estamos a liderar estas transições, a dupla transformação digital e ecológica, e que estamos a liderá-las do ponto de vista tecnológico", explicou Nadia Calviño, vice-primeira-ministra e ministra da Economia e da Transformação Digital de Espanha.

"Os setores que estão a revelar-se mais dinâmicos na criação de emprego estão ligados às novas tecnologias, às tecnologias da informação, à ciência, à investigação e à saúde. Isto mostra que a transformação estrutural da economia espanhola está em curso."

"Estamos a investir cerca de 4 mil milhões de euros de fundos do NextGenerationEU para apoiar um programa muito ambicioso de competências digitais para garantir que as nossas escolas, as nossas universidades, mas também os idosos, tenham acesso a essas competências que vão ser essenciais", acrescentou Calviño.

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Nadia CalviñoEuronews

Combater as desigualdades sociais na Europa: Fiscalidade e despesa pública

Apesar de uma taxa de desemprego de apenas 6% na União Europeia, um quinto da população da UE continua em risco de pobreza ou exclusão social.

A crise do custo de vida e o aumento das desigualdades estão a alimentar a agitação social e a desconfiança na política.

Gabriel Zucman, professor de Economia na Universidade da Califórnia, em Berkeley, disse à Euronews que a Europa precisa de repensar as suas fontes de receitas públicas e começar a tributar os ricos.

"Quase todos os grupos sociais da UE, e dentro de cada Estado-membro, pagam muitos impostos. Porque temos um modelo social que se baseia em níveis significativos de tributação. Isto é verdade para quase todos os grupos sociais, com uma grande exceção, que são os verdadeiramente ricos", explicou.

"Atualmente, há necessidade de receitas públicas no contexto de dívidas públicas elevadas e de taxas de juro crescentes. Devemos começar por cobrar receitas aos grupos da população que pagam significativamente menos impostos do que o resto de nós. E isso significa hoje, em 2023, significa os muito ricos", acrescentou.

Este é um apelo partilhado pelos sindicatos europeus, que defendem que novas fontes de receitas públicas são uma forma de aumentar a justiça social. Outra forma é através da despesa pública.

"As regras precisam de mudar", disse Liina Carr, secretária confederal da Confederação Europeia dos Sindicatos. "Pensamos que manter esse nível rígido de 3% de défice não é, de facto, conducente a despesas públicas e investimentos, porque continua a limitar o que os governos podem fazer."

"Também se debateu a possibilidade de alguns investimentos serem excluídos das regras da dívida e do défice, como o investimento na ecologização, na digitalização, na saúde e na educação. O tipo de investimentos que realmente sustentam a economia e garantem que as economias se mantêm fortes", disse ainda.

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Liina CarrEuronews

Este debate ganhou força na UE, especialmente após a Lei Americana de Redução da Inflação de 2022.

Com uma dotação maciça de 369 mil milhões de dólares (334 mil milhões de euros) para promover as tecnologias limpas nos EUA, a Europa receia ser marginalizada na transição ecológica.

Mas, segundo o presidente da Siemens, Jim Hagemann Snabe, a lei americana de redução da inflação pode ser uma oportunidade para as ambições industriais da Europa.

"Para mim, a Lei de Redução da Inflação é um catalisador de soluções sustentáveis. E, nesse sentido, é positivo. A Europa foi a primeira a ter esta ideia com o Pacto Ecológico e agora está a dar um passo em frente", explicou Hagemann Snabe.

"Penso que o mundo se encontra num ponto de inflexão em que dispomos das tecnologias, sabemos como reconstruir os sistemas energéticos para que sejam renováveis, como reinventar os sistemas de transporte, como tornar os edifícios neutros em termos de carbono".

"Isto é um catalisador para que as empresas invistam mais, invistam mais rapidamente e criem a escala de que necessitamos para podermos criar e concretizar um futuro mais sustentável", concluiu.

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A corrida mundial aos recursos

No entanto, a transição ecológica e digital da Europa depende de matérias-primas essenciais, como o lítio, o cobalto e os elementos de terras raras, das quais a UE produz muito pouco. A China, por outro lado, é responsável por 86% do fornecimento de terras raras.

Numa altura em que as tensões geopolíticas aumentam, esta realidade está a moldar as relações comerciais da Europa, de acordo com o Vice-Presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis.

"Foi por isso que apresentámos a estratégia para as matérias-primas na UE, a fim de impulsionar a produção interna e ter também fornecimentos externos", revelou Dombrovskis.

"O objetivo para 2030 é conseguir que 10% da extração e da exploração mineira sejam feitas internamente na UE. O que significa que 90% ainda terá de vir de fora da UE".

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"É por isso que essas parcerias com outros países serão muito importantes. Fazemo-lo através de capítulos sobre matérias-primas nos nossos acordos comerciais. Estamos a desenvolver parcerias bilaterais com diferentes países no domínio das matérias-primas", acrescentou.

A invasão da Ucrânia pela Rússia recorda-nos a importância de reduzir a dependência do fornecimento de energia.

No entanto, à medida que a crise climática se intensifica, alinhar este objetivo com a gestão sustentável de recursos escassos continuará a ser um grande desafio nos próximos anos.

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