Os europeus estão prontos para adotar uma versão digital do euro?

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De  Fanny GauretRebekah Daunt
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Como é que os cidadãos vão beneficiar de uma moeda digital e qual é a melhor abordagem para a implementação? A Euronews falou com especialistas sobre o assunto.

Depois das moedas e das notas, a Comissão Europeia propõe o euro digital, uma versão virtual da moeda emitida pelo Banco Central Europeu, que poderá ser utilizada gratuitamente na zona euro, juntamente com o numerário. 

Em Bruxelas, a jornalista Fanny Gauret falou com Mairead McGuinness, a comissária responsável pela pasta dosServiços Financeiros, Estabilidade Financeira e União do Mercado de Capitais.

Fanny Gauret : Porque é que precisamos de um euro digital?

Mairead McGuinness: É uma ótima pergunta, porque se trata de um conceito muito recente. As pessoas questionam-se. Em relação ao dinheio,  as pessoas veem-no, compreendem, mas eu posso não ter dinheiro no bolso. Por isso, quero ter a alternativa, a opção de ter uma versão digital do dinheiro. As pessoas já não estão a usar tanto o dinheiro como antes e a Covid acelerou essa tendência. Portanto, trata-se essencialmente de uma questão de escolha. Vou usar este dinheiro, que hoje não está numa carteira, mas que normalmente está? Ou vou usar uma versão digital do dinheiro?

Fanny Gauret: Quais serão as vantagens para os cidadãos europeus de utilizar um euro digital?

Mairead McGuinness: Eu tenho dinheiro em euros nesta carteira. Mas eu penso: "não quero gastar os meus 50 euros porque os guardo para outra coisa. Por isso, posso decidir usar a carteira digital. Atualmente, as pessoas pagam em dinheiro, mas cada vez mais utilizam cartões ou o telemóvel. E nós queremos ter a opção do equivalente em dinheiro em formato digital. E agora propusemos legislação, mas isto é apenas o início de um processo.

Fanny Gauret: Qual é a diferença em relação a um pagamento com cartão, por exemplo?

Mairead McGuinness: É diferente porque é dinheiro do Banco Central, enquanto os outros pagamentos são dinheiro privado. Sabe-se qual é o seu valor. Queremos transpor esse método para a era digital, porque cada vez mais estamos a utilizar pagamentos digitais.

O Banco Central Europeu efetuou uma consulta pública sobre o euro digital. As principais preocupações são, em primeiro lugar, a privacidade e depois a segurança (18%), a facilidade de utilização em toda a zona euro (11%), a ausência de taxas adicionais (9%) e a facilidade de utilização quando não há Internet.

Mairead McGuinness: É possível que pergunte: "Quem está a vigiar os meus gastos se estiver a utilizar os meus euros digitais?". O BCE não está interessado na forma como gasta o seu dinheiro, mas quer dar-lhe a opção de ter uma versão digital do dinheiro. Assim, é possível utilizar um pagamento em euros digitais sem rede. Se utilizar a sua carteira digital offline, é uma transação privada. Claro que, se estiver a fazer uma transação de comércio eletrónico, o seu banco saberá que está a utilizar os seus euros digitais. Mas quero que tenhamos estas conversas para que possamos responder a às perguntas das pessoas e tranquilizá-las se estiverem preocupadas

**Fanny Gauret:**Atualmente, cerca de 120 bancos centrais de todo o mundo estão a trabalhar em versões digitais da sua moeda nacional. A proposta da Comissão Europeia relativa ao euro digital, apresentada a 28 de junho, visa estabelecer o quadro jurídico. Quais são os próximos passos e quando é que o euro digital estará disponível?

Mairead McGuinness: Não vou ser eu a decidir. A legislação visa colocar, por assim dizer, a democracia em torno de um euro digital, e esse processo cabe ao Parlamento Europeu e ao Conselho. Portanto, o BCE decidirá se e quando o euro digital será lançado e ainda não há data prevista.

O dinheiro vai desaparecer?

Com a digitalização dos pagamentos, os bancos centrais estão preocupados com a possibilidade de perderem a âncora do numerário no seu sistema financeiro. Um equivalente digital do numerário ajudaria a apoiar a soberania e a estabilidade deste sistema. No Museu do Banco Nacional da Bélgica, é possívelobservar a evolução dos métodos de pagamento. Foi lá, que Fanny Gauret perguntou à economista Maria Demertzisse odinheiro vai "desaparecer".

Maria Demertzis: É interessante a evolução do dinheiro. Após a pandemia, pensámos que a maioria dos pagamentos era feita digitalmente. Mas, na verdade, se olharmos para os números - estes são números do BCE - 42% do valor de todas as transações na área do euro em 2022 foram feitas em numerário. 42% não é bem metade, mas está muito perto Penso que a direção a seguir é uma redução do numerário para mais pagamentos digitais, mas não creio que desapareça totalmente.

Fanny Gauret: Como é que o euro digital será moldado?

Maria Demertzis: Quando se trata dos nossos pagamentos do dia a dia, que não vão ser muito diferentes, será provavelmente através de uma aplicação. Será mediado por intermediários financeiros, como os bancos, e será pago nas lojas. E dado que, pelo menos no início, o BCE só começará com pequenos montantes, não poderemos ter mais de 3000 ou 4000  eurosno banco, não fará, de facto, grande diferença para o consumidor. Se quisermos que o euro digital se assemelhe o mais possível ao dinheiro, temos de fazer um esforço para o tornar o mais anónimo possível. Neste caso, o BCE diz-nos que o anonimato será garantido para os pagamentos de pequeno montante. Mas quando se começa a pagar montantes mais elevados, o anonimato deixa de existir. 

Apesar das preocupações com a proteção de dados, o euro digital representa uma oportunidade de negócio, em especial para as FinTechs, (empresas que utilizam tecnologia para gerar soluções inovadoras no mercado financeiro). Jan Boehm, presidente da European FinTech Association, considera que atualmente, o panorama europeu dos pagamentos está muito fragmentado, e destaca que há uma série de empresas americanas que fornecem sistemas de pagamento com cartão e as pessoas utilizam o Paypal, por exemplo, para pagamentos entre pares".  Boehm sublinha que tambem neste setor, o papel das Fintechs é o de inovar, e provocar  disrupção para uma maior transparência, "o que deverá resultar em melhores produtos para os clientes e também em taxas mais baixas".

Atualmente, cerca de 120 bancos centrais de todo o mundo estão a trabalhar em versões digitais da sua moeda nacional. A proposta da Comissão Europeia relativa ao euro digital, apresentada a 28 de junho, visa estabelecer o quadro jurídico. Uma proposta conjunta para garantir a preservação do dinheiro.

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