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Casas em Portugal são das mais sobrevalorizadas, segundo relatório da Comissão Europeia

Casas em Portugal são das mais sobrevalorizadas, segundo relatório da Comissão Europeia
Casas em Portugal são das mais sobrevalorizadas, segundo relatório da Comissão Europeia Direitos de autor  Armando Franca/Copyright 2024 The AP. All rights reserved
Direitos de autor Armando Franca/Copyright 2024 The AP. All rights reserved
De Ana Filipa Palma & Euronews
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Um novo relatório da Comissão Europeia, publicado na terça-feira, mostra que o valor das casas em Portugal é dos mais altos da Europa com o turismo e a crise no setor da construção como principais fatores.

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O relatório da Comissão Europeia, "Habitação na União Europeia: evolução do mercado, fatores subjacentes e políticas", publicado na terça-feira, mostra que os preços das casas, nos últimos dez anos, tiveram uma subida drástica em toda a União Europeia e Portugal está na lista dos países onde as casas são mais sobrevalorizadas.

As taxas de juros mais altas, a procura por habitação por parte de famílias mais ricas e investidores; a urbanização; a migração e mudanças nas estruturas familiares; o aumento de arrendamentos de curta duração; a falta de construção nova e a escassez de mão de obra na área da construção contribuem para o atual estado da habitação na União Europeia.

Entre 2014 e 2024, os preços das habitações na UE aumentaram, em média, 50 %, "mas na Hungria, Lituânia, Chequia, Portugal, Estónia, Bulgária e Polónia, o crescimento nominal dos preços das habitações excedeu 200 %", revela o relatório.

Os investigadores estimam que a valorização dos preços das casas acima do valor real médio é mais significativa em Portugal. “Estima-se que os preços estejam sobrevalorizados em cerca de 35 % em Portugal, sendo este o único país onde se estima que a sobrevalorização tenha aumentado significativamente em 2024.”

Turismo e arrendamento de curta duração

Há diversas razões que justificam o preço inflacionado das casas em Portugal e há fatores mais proeminentes do que outros. Segundo o relatório da Comissão Europeia, o turismo e o arrendamento de curta duração são alguns deles.

"O aumento dos arrendamentos de curta duração em áreas turísticas está intimamente relacionado com o aumento dos preços das casas e das rendas", concluem os investigadores.

O aumento das plataformas de partilha de casas, como o Airbnb, perturbou o mercado imobiliário tradicional, uma vez que contribui para a diminuição da oferta no mercado de arrendamentos de longa duração.

“Há cada vez mais evidências empíricas que sugerem que o aumento do turismo em geral e o aumento das plataformas de partilha de casas em particular contribuíram para um aumento das rendas e dos preços da habitação em algumas localizações privilegiadas, como os centros históricos das cidades”, conclui o estudo.

Portugal é o país da UE onde o turismo teve o “maior impacto nos preços das habitações”, afirma o relatório.

Um manifestante usa um ventilador portátil para ajudar a combater o calor durante um protesto contra a crise imobiliária que afeta Portugal, em Lisboa,28 junho 2025
Um manifestante usa um ventilador portátil para ajudar a combater o calor durante um protesto contra a crise imobiliária que afeta Portugal, em Lisboa,28 junho 2025 Armando Franca/Copyright 2025 The AP. All rights reserved

Este é um problema também em países como a Espanha, em que a turistificação é um problema nas grandes cidades, como Barcelona, e já foram tomadas medidas.

Investimentos institucionais

Em Portugal , a taxa do parque habitacional público é uma das mais baixas da Europa, representando cerca de 2% do total, de acordo com os últimos dados do estudo feito pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa – “O Estado da Nação e as Políticas Públicas 2025”.

Esta realidade aliada a outro fator expresso no relatório da Comissão Europeia ajuda a explicar a crise no setor. “Em algumas áreas urbanas, parte do parque habitacional é propriedade de empresas, e o longo período de taxas de juros baixas contribuiu para o aumento da procura por parte de investidores institucionais.”

O relatório afirma que investidores institucionais, como seguradoras e fundos de pensões, “desempenharam um papel importante no aumento dos preços imobiliários na última década, particularmente nas capitais globais”.

Em Portugal, os fundos de pensão têm “uma exposição significativa”.

Também a emissão de licenças de construção é um problema para o aumento do parque habitacional público e, em países como Portugal, Croácia, Espanha e Grécia, caiu drasticamente após a crise financeira global. Nestes países, "as licenças de construção estão próximas de mínimos históricos."

A burocracia morosa para o licenciamento de construção pode explicar também a falta de habitação. “ Na maioria dos países da UE, existem prazos fixos para a emissão da licença, que variam entre 3 semanas na Lituânia e 31 semanas em Portugal.”

Para além disso, “o processo de licenciamento em alguns países é sobrecarregado por requisitos de documentação complexos, o que pode criar atrasos desnecessários e encargos administrativos”. Uma revisão desses requisitos, com vista à sua simplificação — como a redução do número ou da complexidade dos documentos exigidos, quando apropriado — poderia contribuir para uma maior eficiência”, conclui o estudo.

Imóveis devolutos

A quantidade incalculável de imóveis devolutos também está na ordem do dia quando o tema em discussão é a habitação em Portugal e também o relatório europeu vai ao encontro desta questão. "A questão dos imóveis devolutos representa um desafio significativo em toda a UE, estimando-se que aproximadamente um em cada seis imóveis esteja devoluto em toda a Europa."

E mais uma vez, Portugal aparece no topo da lista de países em que há mais imóveis devolutas, a par com a Bulgária, Roménia, Malta, Chipre e Hungria.

A análise pelos investigadores europeus sugere que a elevada percentagem de imóveis devolutos em algumas grandes cidades contribui bastante para a escassez de habitação.

Vista dos edifícios em Lisboa, segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023.
Vista dos edifícios em Lisboa, segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023. Armando Franca/Copyright 2023 The AP. All rights reserved

Portugal e a crise da habitação

Este tem sido um tema constante na política portuguesa e uma crítica aos últimos governos com manifestações a acontecerem frequentemente pelo aumento das rendas e pela inexistência de habitação acessível.

Entre as medidas apresentadas, destaca-se um novo incentivo fiscal dirigido à construção, há muito reivindicado pelo setor: uma redução do IVA para 6% para construção até 648 mil euros. A taxa de IVA de 6% vai aplicar-se também a arrendamentos até ao valor de 2300 euros. Ou seja, à construção para arrendar até este valor.

Sobre este limite dos 2.300 euros no arrendamento, o primeiro-ministro esclareceu que na base desta decisão estão "áreas de maior pressão", como Lisboa, Porto e outros concelhos onde os montantes médios são superiores a este.

A maioria das medidas é de âmbito fiscal, pelo que está dependente da aprovação do Parlamento, mas há também várias alterações no setor do arrendamento.

Em junho, a Comissão Europeia tinha alertado para o facto de que os governos portugueses não estão a ser eficazes na resposta à crise no setor da habitação e recomendou medidas concretas, nomeadamente o controlo de rendas ou a imposição de limites ao alojamento local.

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