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MOTELX fecha edição mais feminina de sempre com prémio para filme franco-polaco

Maria Wróbel como Nawojka em "Que ma volonté soit faite"
Maria Wróbel como Nawojka em "Que ma volonté soit faite" Direitos de autor  WTFilms
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De Ricardo Figueira
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Além de atribuir o prémio principal ao filme "Que Ma Volonté Soit Faite" da realizadora franco-polaca Julia Kowalski, com uma forte carga feminista, o festival de terror lisboeta atribuiu também, pela primeira vez, um prémio destinado às "mulheres notáveis no terror".

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Sem artificialismos, sem recorrer ao susto fácil nem aos clichês que se tornaram uma constante no panorama do terror dos últimos anos: assim é Que Ma Volonté Soit Faite (título internacional: Her Will Be Done), o drama que nos chega de França com sabores da Polónia, os dois países - o de nascimento/residência e o de origem familiar - da realizadora Julia Kowalski, que assina aqui a sua segunda longa-metragem e retoma os temas da muito aclamada e premiada média-metragem J'ai Vu le Visage du Diable.

O filme acaba de receber, no festival lisboeta MOTELX, o prémio Meliès d'Argent, principal prémio do festival no que toca às "longas", dando acesso à competição pelo Meliès d'Or que será atribuído no Festival de Sitges em outubro para o melhor filme de terror europeu.

É, antes de mais, um filme sobre o coming of age, a transição da adolescência para a idade adulta e todas as dúvidas e inseguranças que a acompanham.

Nawojka (Maria Wróbel) é o elemento mais jovem de uma família polaca que toma conta de uma quinta com animais na França rural e profunda. No seio de uma família conservadora e profundamente religiosa vai, a pouco e pouco, descobrindo os desejos próprios de uma rapariga da sua idade: "uma futura mulher que procura o seu desejo e o seu lugar no mundo, que pensa que os seus desejos fazem dela um monstro, enquanto faz uma trajetória de emancipação", nas palavras da realizadora. Mas todo o seu mundo sofre um abanão quando chega Sandra (Roxane Mesquida), uma mulher emancipada e sem tabus que todos na aldeia querem ver escorraçada: "uma bruxa aos olhos dos outros, porque é livre. Uma mulher livre faz medo", conta a Kowalski à Euronews.

Filme franco-polaco vence "Meliès d'Argent" do MOTELX
Filme franco-polaco vence "Meliès d'Argent" do MOTELX MOTELX

Para Kowalski, Nawojka e Sandra acabam por ser as duas faces de uma só: "uma que sente o despertar do desejo, outra que já fez esse percurso".

A dupla cultura é outro dos temas centrais do filme, algo que a realizadora sabe bem o que é. Filha de pais polacos chegados a França pouco antes de ela nascer, sempre viveu essa dupla cultura, que "por um lado é uma riqueza, mas por outro a faz sentir estrangeira em ambos os países", como conta. Até porque essa experiência pessoal ajudou a moldar a sua visão do mundo: "o mais importante, para fazer bons filmes, é ter uma visão pessoal do mundo".

Que Ma Volonté Soit Faite tem estreia comercial em França marcada para 19 de novembro.

MOTELX homenageia mulheres no cinema de terror

À semelhança da história do filme premiado, também o MOTELX vive o seu coming of age, acabando de encerrar a 19ª edição e afirmando-se como um ponto de passagem incontornável no panorama dos festivais europeus dedicados ao terror e ao fantástico: "Envelhecemos elegantemente, como um bom vinho", nas palavras de João Monteiro, um dos diretores do festival.

Uma maturidade que se reflete na forte afluência de público ao cinema São Jorge durante os sete dias que dura o festival. Monteiro, que juntamente com Pedro Souto dirige o evento desde a primeira hora, salienta que "é extraordinário ter cerca de 20 mil espetadores num festival que dura apenas sete dias e só inclui um fim de semana".

Sessão de encerramento do MOTELX no domingo
Sessão de encerramento do MOTELX no domingo MOTELX

Para João Monteiro, é uma feliz coincidência que o prémio cimeiro tenha ido para um filme realizado por uma mulher e com uma temática feminista, até porque esta foi uma edição em que o festival fez questão de homenagear as mulheres que contribuem para o cinema de terror em todo o mundo, ao instituir o Prémio Noémia Delgado para Mulheres Notáveis no Terror, entregue neste primeiro ano à produtora norte-americana Gale Anne Hurd, produtora executiva da série The Walking Dead e parceira do então marido James Cameron na produção de sucessos estrondosos como Aliens - O Recontro Final ou toda a série O Exterminador Implacável (Terminator).

Gale Anne Hurd
Gale Anne Hurd AP Photo

Convidada de honra nesta edição, Hurd apresentou o director's cut de Aliens e deu uma masterclass. A atribuição do prémio a Hurd é, aliás, o momento que João Monteiro destaca desta edição do festival: "Sendo o mundo do cinema de género ainda muito dominado pelos homens e raras as mulheres que fazem parte dele, quisemos com este prémio homenagear as pioneiras e quisemos que a primeira pessoa a recebê-lo fosse, de facto, uma pioneira", diz.

Noémia Delgado (1933-2016) foi pioneira do género em Portugal ao realizar, nomeadamente, a série de telefilmes Contos Fantásticos para a RTP entre 1979 e 1981.

Cinema português em destaque

O MOTELX é também um local onde o cada vez menos raro cinema português de género tem sempre um lugar garantido, com a entrega do Prémio MOTELX à melhor curta-metragem portuguesa de terror, o prémio mais importante para curtas-metragens em Portugal, com uma dotação de 5 mil euros.

O Compositor, filme da dupla Afonso Lucas e Rodrigo Motty, venceu a edição deste ano.

O filme retrata a obsessão doentia de um reputado pianista e compositor por um jovem aluno. Uma temática que não é nova no cinema, mas que a dupla de realizadores soube retratar, nas palavras do júri, com uma “realização ousada e ritmada, onde impera uma estética arrojada” – acrescentando ainda que este é um filme “onde as relações humanas e de poder guiam as personagens pelos caminhos da obsessão, subjugação e submissão, onde o sofrimento do outro preenche o vazio próprio”. 

Para João Monteiro, o mais surpreendente foi a juventude da dupla de realizadores: "Quando os vi, tive uma surpresa, porque não imaginava que fossem tão jovens", diz. "O MOTELX é um espaço importante para os realizadores portugueses compreenderem que podem continuar a fazer este tipo de filmes e a apresentar guiões a concurso", acrescenta o codiretor. O festival inclui dois concursos de guiões, um prémio de melhor guião de terror português vencido por Quem Mata no Camarido? (Seis Betos e Meia), de António Xavier Rodrigues, e outro patrocinado por uma empresa de jogo em linha que oferece até 40 mil euros para a realização de uma curta-metragem, ganho por Maurício Valentino Borges com O Clube de Tricô das Quartas.

No campo do cinema português de género, destaque também para o Meliès d'Argent de curtas-metragens para Amarelo Banana, do realizador português Alexandre Sousa, e para as antestreias das "longas" A Pianista, de Nuno Bernardo, e Sombras, de Jorge Cramez e com Victória Guerra no papel principal, este último em competição.

Finalmente, o Prémio do Público foi para Dragonfly, de Andrew Williams.

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