Publicado à pressa para enquadrar a história dos seus negócios judiciais, o livro tornou-se um poderoso instrumento político para o antigo chefe de Estado.
O novo livro de Nicolas Sarkozy, "Diário de um Prisioneiro" (Journal d'un prisonnier, original) publicado esta quarta-feira, já está em primeiro lugar nas vendas de pré-encomenda na Amazon.
Em Paris, em frente à livraria "Lamartine", no chique 16.º arrondissement, centenas de apoiantes de Nicolas Sarkozy esperaram durante horas pela primeira sessão de autógrafos, que foi marcada pela intervenção de ativistas do Femen e pelo encerramento de uma rua inteira.
Por detrás deste sucesso imediato, esconde-se uma estratégia cuidadosamente orquestrada pelo antigo presidente: controlar a sua narrativa, reinvestir na arena política e tirar partido de uma situação sem precedentes na história da República, a de um presidente na prisão.
Nicolas Sarkozy, condenado em setembro a cinco anos de prisão no caso da Líbia - uma pena acompanhada de inelegibilidade que contesta no recurso, previsto para março próximo - contou apenas com vinte dias de prisão.
O antigo presidente utiliza este testemunho como alavanca política: mensagens à direita, reflexões estratégicas sobre a reconstrução dos republicanos e uma suposta normalização do diálogo com a extrema-direita, revelando nomeadamente uma troca de telefonemas com Marine Le Pen a partir da sua cela.
Para Arnaud Benedetti, chefe de redação da Revue politique et parlementaire, o livro é muito mais do que uma simples narrativa de prisão: _"_a verdadeira questão é que se trata de uma obra híbrida [...] mas que, ao mesmo tempo, transmite uma série de mensagens políticas. É preciso dizer que, independentemente das condenações, as suas palavras continuam a ter um peso político no debate público", diz.
Uma estratégia editorial forjada à pressa
Para Philippe Moreau-Chevrolet, professor de comunicação política na Sciences Po Paris, o objetivo era recuperar imediatamente a vantagem na batalha da narrativa, numa altura em que a perceção da opinião pública continua volátil.
"Tínhamos de publicar este livro em tempo recorde, porque a ideia era enquadrar o debate o mais rapidamente possível, para evitar que as pessoas inventassem a sua própria história", argumenta.
Isto implicou um controlo total da imagem: mobilização de apoios antes da prisão, encenação de símbolos como o "Conde de Monte Cristo" levado para a cela e comunicação ofensiva assim que foi libertado.
Um produto editorial "assustadoramente eficaz"
No mercado editorial francês, os livros escritos por políticos vendem geralmente muito mal, mas Nicolas Sarkozy é uma exceção.
"Nicolas Sarkozy é um político que nunca deixa ninguém indiferente, aconteça o que acontecer. Apesar dos seus adversários, mantém um público fiel que aprecia a sua personalidade. Por isso, temos de reconhecer que o seu carácter, a sua história e a sua forma bastante direta de se exprimir fazem dele uma personalidade que pode ser um sucesso editorial", explica Arnaud Benedetti.
Mas o enorme interesse por este livro, publicado na quarta-feira, deve-se também ao seu carácter quase inédito: nunca antes um presidente francês, ou da União Europeia, tinha descrito uma prisão a partir do seu interior.
O público está a responder a uma forma de curiosidade: "há uma forma de voyeurismo [...] para ver um pouco pelo buraco da fechadura como seria a vida de um Presidente da República na prisão_",_ observa Moreau-Chevrolet.
Arnaud Benedetti insiste também no carácter comercial deste livro: _"_estão aqui os ingredientes de um sucesso editorial [...] a situação é tão atípica que só pode suscitar curiosidade e até interesse. O produto é, se assim posso dizer, do ponto de vista do marketing, extremamente eficaz."
O autor salienta ainda que Nicolas Sarkozy dispõe de um capital literário raro entre os políticos.
Para Moreau-Chevrolet, a prioridade de Nicolas Sarkozy continua a ser judicial: "o seu objetivo número 1 é ganhar a batalha mediática em torno do processo."
Embora considere a estratégia "muito ofensiva", a sua eficácia é incerta: "é eficaz ou não? Só o tempo o dirá."
Mas, como recorda Arnaud Benedetti: "um sucesso editorial não garante de modo algum um sucesso político."