As mudanças climáticas estão associadas ao aumento do risco de incêndio, ainda que se trate de uma associação complexa. Como é a Europa se vai adaptar a esse risco? A euronews esteve em Portugal para ver o que está a ser feito no terreno, onde os incêndios de 2017 se tornaram um trauma para o mundo rural português após a morte de mais de 100 pessoas pelo fogo em menos de seis meses.
Estivemos em Pedrógão Grande, no interior do país, onde o rasto de destruição deixado pelos fogos continua bem visível. Após os incêndios, o presidente da Associação de Moradores da Ferraria de São João lançou um projeto para criar uma zona de proteção em torno da povoação.
"Estivemos rodeados pelo fogo durante cinco horas para proteger as casas e a aldeia. Os incêndios estão relacionados com as alterações climáticas. São ocorrências que estão aumentar e que se vão repetir no futuro. Foi uma das principais razões pelas quais decidimos agir. Se queremos continuar a viver num sítio como este, temos de estar preparados", sublinhou Pedro Pedrosa.
O sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais
Com o aumento das temperaturas, os períodos de risco são cada vez maiores. A prevenção dos incêndios representa um trabalho enorme.
Atualmente, a lei portuguesa obriga ao corte de ervas, arbustos e árvores em torno das habitações nas zonas rurais. O problema é que 97% da propriedade é privada e muitas terras estão abandonadas.
Para responder aos problemas no terreno, Portugal implementou o novo Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais (SGIFR).
A prevenção passa pela limpeza e pelo pastoreio
Uma parte do trabalho de prevenção dos fogos passa pela limpeza das terras, mas as duas comissões técnicas independentes, criadas em 2017, afirmam que, em paralelo, é fundamental desenvolver a silvopastorícia e dar condições para colocar as pessoas a cuidar da terra.
Está em curso, por exemplo, um projeto-piloto para fomentar o pastoreio, como parte de um novo modelo de economia rural capaz de desempenhar um papel na prevenção dos fogos. As cabras contribuem para a limpeza das terras.
O método dos fogos controlados
Outra das estratégias usadas em Portugal é o recurso ao fogo controlado. "O fogo é um bom trabalhador mas no verão é um mau patrão, por isso temos de usá-lo sabiamente durante o inverno", sublinhou Tiago Oliveira, chefe da Estrutura de Missão para o Sistema Integrado de Fogos Rurais.
O fogo controlado durante o inverno é uma medida de prevenção para evitar incêndios de maiores dimensões durante o verão.
"Temos de aproveitar todas as oportunidades durante o inverno, a primavera e o outono, para fazer o trabalho de prevenção. Limpar as terras graças aos rebanhos, de forma mecânica ou através do fogo controlado", acrescentou o responsável português.
O mês de janeiro mais quente de que há registo
Na Europa, o mês de janeiro foi o mais quente de que há registo, com temperaturas 3,1 graus acima das do período de referência 1981-2010. A nível global, a temperatura da superfície da terra esteve anormalmente alta em janeiro, na Europa, passando pela Rússia até ao Japão.
Em Moscovo, o termómetro marcou 9,4 graus acima da média e há áreas onde se chegou aos 12 graus acima da média para o mês de janeiro.
Existe, no entanto, uma variação sazonal significativa na temperatura invernal. Por exemplo, o Alasca registou temperaturas 4,7 graus abaixo da média para o mês de janeiro.
Os incêndios na Austrália
A Austrália foi palco de incêndios de grandes proporções em janeiros marcados pela seca e por vagas de calor. As imagens de satélite mostram o território, antes e depois dos incêndios.