O maior inimigo da pesca é a sobrepesca

O maior inimigo da pesca é a sobrepesca
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Vários estudos mostram que a proteção de uma área aumenta a quantidade de peixes nas águas circundantes.

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O documentário “Seaspiracy” deu a conhecer ao público as práticas destrutivas da indústria da pesca, mas, foi acusado de dar respostas simples a questões complexas. 

Em termos simples, qual é o impacto da pesca de arrasto de fundo e da pesca acessória? Um estudo recente revelou que a pesca de arrasto de fundo liberta tanto CO2 como toda a indústria de aviação.

“O fundo do oceano é o maior depósito de carbono do mundo. Se quisermos travar o aquecimento global, devemos deixar intacto o leito marinho rico em carbono. No entanto, todos os dias, praticamos a pesca de arrasto no fundo do mar, esgotamos a biodiversidade e libertamos carbono milenar, o que agrava as alterações climáticas”, sublinhouTrisha Atwood, coautora do estudo.

Como impedir a pesca de arrasto de fundo?

Os países com vastas águas nacionais onde se pratica o arrasto de fundo poderiam eliminar 90% do risco de perturbação do carbono, protegendo apenas 4% das suas águas.

“Neste estudo, somos pioneiros em relação a uma nova forma de identificar os locais que ao serem fortemente protegidos vão permitir o aumento da produção de alimentos e a proteção da vida marinha, reduzindo ao mesmo tempo as emissões de carbono. A humanidade e a economia podem tirar partido de um oceano mais saudável e podemos obter esses benefícios rapidamente se os países trabalharem em conjunto para proteger pelo menos 30% do oceano até 2030”, sublinhou Enric Sala, da National Geographic Society.

Áreas-chave para proteção marinha

Através de um algoritmo, os investigadores chegaram à conclusão que a proteção de menos de 30% do oceano levaria a uma melhoria da biodiversidade.

“A ciência é clara. A pesca destrutiva é a maior ameaça à vida marinha e as alterações climáticas estão a acelerar drasticamente. O interesse dos cidadãos europeus reside esmagadoramente na proteção da biodiversidade e no combate às alterações climáticas e não na proteção de interesses adquiridos na indústria da pesca. Está na altura de implementar medidas para proteger os habitats do fundo do mar, desde o círculo ártico até o Mediterrâneo”, afirmou Charles Clover, Diretor Executivo da Blue Marine Foundation.

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Leilão de peixe fresco nos Países BaixosLOIC VENANCE/AFP

A captura acessória

A captura acessória integra toda a vida marinha capturada de forma acidental pelas redes de pesca. Este fenómeno acontece porque as redes são tão grandes e tão pesadas que arrastam tudo pelo caminho. A maioria das espécies capturadas são deitadas fora.

Quatro instituições (a Blue Marine Foundation, a Client Earth, a Marine Conservation Society e a WWF) analisaram os danos causados ao Banco Dogger pela pesca de arrasto de fundo e pela pesca industrial. A área situada a cem quilómetros da costa leste da Inglaterra sofreu danos de tal modo profundos que deveria servir de guia para reforçar a conservação das Áreas Marinhas Protegidas da Europa.

A região armazena a maior quantidade de carbono azul nas águas britânicas, aproximadamente 5,1 milhões de toneladas de carbono no fundo do mar (o equivalente a 31 mil voos de ida e volta entre Londres e Sydney).

Segundo um estudo do Reino Unido, da Holanda e da Alemanha, a pesca de arrasto de fundo no Banco Dogger levou à prevalência dos invertebrados de vida curta, em detrimento de espécies ameaçadas de extinção como a raia e o alabote do Atlântico. Os três países anunciaram a intenção de declarar os 18765 quilómetros quadrados do Banco Dogger como área marinha protegida.

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Pescador numa embarcação de pescaLOIC VENANCE/AFP

"O pior inimigo da pesca é a sobrepesca”

“Há quem diga que a exclusão da pesca em certas áreas prejudica os interesses pesqueiros. Mas o pior inimigo da pesca é a sobrepesca, não são as áreas protegidas”, sublinhou Enric Sala.

Vários estudos mostram que a proteção de uma área aumenta a quantidade de peixes nas águas circundantes.

A proibição do arrasto de fundo em áreas específicas como o Banco Dogger permitiria proteger mais de 80% dos habitats de espécies marinhas ameaçadas de extinção e aumentar as capturas de pesca em mais de 8 milhões de toneladas métricas.

O mais importante, a medida ajudaria a manter o armazenamento de carbono atual e futuro, de modo a evitar o risco de colapso total do clima.

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