Os combustíveis sintéticos podem parar a discussão sobre as metas da União Europeia?

Trânsito perto de Frankfurt, Alemanha.
Trânsito perto de Frankfurt, Alemanha. Direitos de autor REUTERS/Kai Pfaffenbach
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De  Rosie Frost
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Em fevereiro, o Parlamento Europeu votou a aprovação de uma nova lei que proíbe a venda de automóveis a gasolina e diesel a partir de 2035

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A nova regra de Bruxelas, que faz parte do esforço para combater as alterações climáticas dentro do bloco, irá acelerar a transição dos estados-membros para veículos elétricos.

Os automóveis são atualmente responsáveis por cerca de 15% de todas as emissões de CO2 na União Europeia (UE). A legislação exige que os fabricantes reduzam as emissões de carbono dos automóveis novos em 100%. Na prática, isto significa que a partir de 2035 não poderão ser vendidos novos veículos convencionais movidos a combustíveis fósseis.

A votação irá para o Conselho Europeu antes que a proibição de veículos a gasolina e diesel seja oficializada. Mas alguns países têm dúvidas sobre esta mudança, e tentam adiar a decisão.

Quais foram os países que formaram uma aliança contra a proibição?

Liderado pela Alemanha, o grupo de países que inclui a Itália, Polónia, Bulgária e Chéquia formou uma aliança para travar a nova legislação. Mas a França está pronta a "lutar" pelas metas europeias, de acordo com o Ministro da Economia Bruno Le Maire. 

Foram necessários dois anos para finalizar as medidas que agora só precisam de um selo formal de aprovação dos ministros para se tornarem lei.

"Estamos prontos a lutar por ela porque [atrasá-la] é um erro ambiental e também um erro económico", disse Le Maire à France Info.

Uma votação final do Conselho Europeu, prevista para 7 de março, foi adiada por se acreditar que não receberia a maioria necessária para obter o aval.

Um porta-voz da Suécia, que detém a atual presidência do Conselho da UE, disse que a votação teria lugar "a seu tempo".

A UE está pronta para mudar para veículos elétricos?

A Itália é o lar de grandes marcas de automóveis como Fiat, Alfa Romeo e Ferrari, que dependem fortemente dos veículos com motor de combustão. Cerca de 270.000 pessoas trabalham direta ou indiretamente na indústria automóvel do país.

O ministro italiano dos Transportes Matteo Salvini chamou à nova lei "suicídio" económico para a UE, e  falou em "fundamentalismo ideológico" que iria beneficiar a China e prejudicar a indústria automóvel europeia.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros do país, Antonio Tajan, também procurou suavizar a legislação, apelando a uma redução de 90% nas emissões de carbono em vez de 100 por cento.

A Itália acredita que a escolha da eletricidade não deve ser a única forma de alcançar zero emissões na fase de transição".

Outros advertem que nem a indústria europeia nem os cidadãos estão prontos para uma mudança tão dramática.

O Grupo do Partido Popular Europeu diz que a lei pode levar a que as pessoas conduzam carros com motores de combustão mais antigos após as novas vendas serem proibidas, porque não podem pagar uma substituição elétrica.

As afirmações de que os carros elétricos são mais baratos foram tornadas "nulas e sem efeito" pelo aumento do custo da energia, argumenta o deputado alemão Jens Gieseke, do Partido Popular Europeu. Os opositores da legislação também dizem que as baterias de automóveis estão a ser produzidas no estrangeiro e não na UE.

A Alemanha boicota proibição dos motores de combustão

Na Alemanha encontram-se alguns dos maiores fabricantes de automóveis do mundo, incluindo o Grupo Volkswagen e a BMW. O país é uma das principais vozes no apelo para que a UE permita motores de combustão que utilizem combustíveis neutros para o clima ou combustíveis sintéticos, depois de 2035.

O secretário de estado dos transportes, Michael Theurer, disse que a Comissão deveria apresentar "uma proposta [sobre] como os combustíveis sintéticos podem ser utilizados, ou como podem ser organizados os motores de combustão que funcionam com combustíveis neutros para o clima". Acrescentou que os veículos elétricos são o "caminho a seguir", mas acredita que outras tecnologias com emissões zero também deveriam ser apoiadas.

Uma nova categoria para carros que funcionam com combustíveis sintéticos

Um movimento que parece ter como objetivo resolver a disputa com a Alemanha, sugere a criação de uma nova categoria de automóveis na UE que só podem funcionar com combustíveis sintéticos neutros para o clima. No entanto, seria necessário instalar tecnologia que os impedisse de funcionar se fosse utilizada gasolina ou gasóleo.

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Isto poderia causar problemas uma vez que exigiria o desenvolvimento de novos motores - algo com que os fabricantes de automóveis dificilmente ficariam satisfeitos.

E estes combustíveis ainda não são produzidos a uma escala suficientemente grande para serem práticos. Todos os projetos de combustíveis sintéticos planeados a nível mundial cobririam apenas 10% da procura atual na Alemanha para a aviação, indústria química e navegação, de acordo com um estudo do Instituto de Investigação Climática de Potsdam.

"Uma vitória para o nosso planeta e para as nossas populações"

Karima Delli, presidente da Comissão dos Transportes, disse que a decisão dos eurodeputados em fevereiro foi "uma votação histórica para a transição ecológica". "Deixaremos, ou quase deixaremos de ter carros a gasolina ou a gasóleo nas nossas estradas em 2050". Delli acrescentou que a legislação seria uma "vitória para o nosso planeta e para as nossas populações".

Por seu lado, o Vice-Presidente da UE, Frans Timmermans, avisou os eurodeputados sobre os planos da China, que está a colocar 80 novos modelos de carros elétricos no mercado internacional. "Estes são carros que serão cada vez mais acessíveis, e nós precisamos de competir com isso. Não queremos desistir desta indústria essencial ", disse Timmermans.

Muitas empresas automóveis europeias já estão a preparar-se para a nova lei, tornando-se competitivas no mercado dos veículos elétricos.

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