Liberdade artística está sob "ameaça política" na Flandres?

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De  Isabel Marques da SilvaElena Cavallone
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O governo regional da Flandres, liderado por um partido nacionalista de direita, pretende cortar 60 por cento dos fundos para os projetos culturais. Mas o corte não toca a todos, porque serão canalizadas mais verbas para a defesa do património cultural tradicional flamengo.

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Quando Bert Verbeke decidiu ser ator não esperava ter de protagonizar, também, o papel de ativista na vida real, mas sente que é seu dever porque considera que recentes decisões de financiamento público são ameaças à liberdade de expressão artística.

O seu mais recente projeto é um musical sobre a Primeira Guerra Mundial e foi apresentado a grupos de estudantes na região belga da Flandres. O investimento foi de 120 mil euros, cobertos em dois terços por fundos públicos.

O governo regional da Flandres, liderado por um partido nacionalista de direita, pretende cortar 60 por cento dos fundos para os projetos culturais.

"Este espetáculo não poderia ter sido criado sem financiamento público. Não seria mostrado neste teatro para 250 alunos, que podem vê-lo por um preço muito reduzido e acederem a importantes lições de vida", diz o ator.

Cortes "politicamente" seletivos?

Mas o corte não toca a todos, porque serão canalizadas mais verbas para a defesa do património cultural tradicional flamengo. Um exemplo é o museu ao ar livre em Bojirk, que mostra as tradições do espaço rural no século XIX.

Anne Morelli, historiadora especialista em propaganda, diz que esta é uma estratégia para usar a cultura como arma política.

"A estratégia do governo é cortar os fundos dos agentes culturais mais subversivos, digamos assim, e canalizar esses fundos para os agentes culturais que estão alinhados com a política do governo. Alguns exemplos são aqueles que glorificam a identidade, a raça, que promovem o folclore e as raízes nacionais", disse a investigadora na Universidade Livre de Bruxelas, em entrevista à euronews.

O presidente do governo regional da Flandres, Jean Jambon, alegou que ajudas pontuais a certos agentes culturais não podem ser consideradas "automaticamente" como "subsídios estruturais". 

“A prioridade será dada com base no potencial do projeto para atingir uma audiência internacional. Escolhas mais seletivas para esses subsídios também significarão melhor suporte para os escolhidos”, disse Jambon.

Outros casos europeus

A instrumentalização política da cultura também floresce noutros Estados-membros da União EEuropeia, segundo críticas de movimentos artísticos na Hungria e na Polónia.

A historiadora Anne Morelli considera que o executivo europeu deveria interessar-se por esses casos: "Penso que a União Europeia poderia ter um papel de ajuda aos agentes culturais que, por razões ideológicas, estão a ser excluídos dos subsídios estatais nos seus países".

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