Contagem decrescente nos Países Baixos

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De  Hans von der Brelie
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No final de 2020, o país tem de emitir menos 1/4 da quantidade de CO2 em relação aos valores de 1990

A enorme central elétrica construída junto ao porto de Amesterdão está desligada desde o final do ano passado. A decisão de encerrar a central cinco anos antes da data inicialmente acordada com o governo é consequência de um caso pioneiro nos tribunais. A organização de sustentabilidade Urgenda forçou os Países Baixos a acelerar as medidas de proteção climática: não num futuro distante, mas neste momento. No final de 2020, o país tem de emitir menos 1/4 da quantidade de dióxido de carbono (CO2) em relação aos valores de 1990.

O Unreported Europe viajou pela Holanda para saber se este objetivo vai ser concretizado. 

Energias renováveis

Apenas cerca de 7% do consumo de energia do país é sustentada em energias renováveis - muito longe dos 20%, a meta estabelecida pela União Europeia para este ano.

Marjan Minnesma é diretora da Urgenda, a fundação criada para impulsionar a transição energética e ecológica do país. Em 2013, cerca de 900 pessoas juntara-se à fundação para processar o governo. E ganharam.

**Euronews (Hans Von Der Brelie) - **O tempo está a passar. O que foi feito até agora?

Marjan Minnesma: Pouco. Há mais de um ano, o governo deu subsídios adicionais, dois mil milhões de euros para painéis solares e grandes projetos de parques eólicos. Subsídios adicionais para medidas de isolamento e bombas de calor e meddias deste género. (...) Prometeram, para outubro, uma nova lei que irá reduzir em 25% a capacidade de todas as centrais eléctricas alimentadas a carvão.(...)Dissemos ao governo que se estivessem três meses atrasados estava tudo bem, não queremos um novo confronto. Mas se não fizerem o suficiente ou se não estiverem a apontar para próximo ano, então certamente voltaremos ao tribunal.

**Euronews: **Qual é a sua motivação pessoal?

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MARJAN MINNESMAEuronews

Marjan Minnesma: "A grande mudança veio quando tive filhos. Percebi que eles ainda podem estar vivos em 2100. Sabemos o que está a acontecer com as alterações climáticas. Se continuarmos como estamos, esta vai deixar de ser uma terra onde se pode viver muito bem e haverá milhares de milhões de pessoas que não poderão ficar onde vivem neste momento e teremos uma confusão total". 

E sei que todas as soluções estão em cima da 

mesa - o que me deixa muito irritada: ninguém quer agir". 

Depois do veredito do tribunal, os legisladores decidiram adotar uma longa lista de propostas apresentada por Minnesma e pelos colegas de campanha, como a aceleração da mobilidade elétrica. A partir de 2030, a venda de carros novos movidos a combustíveis fósseis será proibida.

A fundação fez pressão para o governo atualizar a rede de estações de carregamento do país. Agora, onde quer que esteja, Minnesma não tem qualquer problema em encontrar um local para carregar o carro eléctrico.

Revolução energética

Hoje vai reunir-se com Nicol Schermer, um dos mestres da revolução energética sustentável da ilha de Texel, o local onde são testados os principais projetos da fundação. 

Antes de se dedicar a técnicas solares sofisticadas e de vanguarda, Nicol Schermer trabalhava na jardinagem. Enquanto especialista em viveiros de plantas, exportou os conhecimentos para zonas de crises climáticas no Médio Oriente. 

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NICOL SCHERMEREuronews

Nicol Schermer:"O que faço é fantástico. Aqui estou eu, a plantar uma árvore. Já estive no Iraque para criar um viveiro. Lá, vi a energia produzida pela luz solar e a quantidade de eletricidade que produzia. Foi um "abre olhos", uma ideia que trouxe para os Países Baixos. E agora, o círculo está completo".

A tradição dos Países Baixos de andar de bicicleta ajudou a construir uma imagem de um país que tem como grande prioridade a proteção da natureza. 

No entanto, tem uma grande dependência da energia fóssil. Os partidos de extrema-direita, mas também o conhecido jornalista e analista político Syp Wynia, lamentam a escolha do governo de reduzir as energias fósseis - e culpam os grupos de pressão pró ambiente.

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Syp WyniaEuronews

Syp Wynia: "Neste país, o parlamento deve decidir. E na política climática deste país, lamento dizê-lo, mas o parlamento não tem muito a dizer. Dentro de alguns meses, teremos os preparativos para as eleições e já podem ver que os principais partidos estão a pôr de lado os principais elementos da política climática porque não é eficaz e é muito cara. As pessoas estão mais interessadas na economia do que nas alterações climáticas".

Mas as sondagens de opinião mostram que três em cada quatro holandeses consideram as alterações climáticas como "um problema muito grave". Sobre esta questão, a Euronews falou com Sandor Gaastra, diretor-geral do ministério da Economia. É considerado o "Senhor Clima" do governo, a pessoa que tenta acelerar as políticas de proteção climática do país.

Euronews: Tem um prazo, até ao final deste ano, para baixar as emissões de CO2. O que vai ser feito?

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Sandor Gaastra:Euronews

**Sandor Gaastra: "**A medida mais importante é limitar a capacidade das centrais elétricas a carvão nos Países Baixos. Esta será a principal medida para atingir o objetivo até ao final deste ano. O que significa que vão ter de reduzir a produção em dois terços. Também tomámos medidas para acelerar a sustentabilidade das casas e dos escritórios. Acrescentámos mais 150 milhões de euros em subsídios disponíveis para as famílias e empresas".

Agricultura industrializada

A agricultura industrializada também é um grande problema para as políticas holandesas de proteção do clima. Há alguma hipótese de combinar a produção animal em grande escala com métodos amigos do ambiente? Sim, diz Maurits Groen, gestor das explorações de frangos Kipster e um dos queixosos da fundação Urgenda.

Euronews: E como é que reduzem as emissões?

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Maurits GroenEuronews

Maurits Groen: "Não produzimos os alimentos para as galinhas, por isso, não utilizamos nenhuma terra agrícola - utilizamos apenas os chamados resíduos do consumo humano, isto é uma coisa muito importante. Por outro lado, produzimos toda a energia de que precisamos para gerir a fábrica a partir do telhado: temos cerca de 1.100 painéis solares, até produzimos mais do que consumimos". 

O terceiro aspeto é a embalagem, uma vez que é produzida a partir de resíduos de amido da indústria da batata.

Bert Pappot e o filho não estão zangados. E isto é importante salientar, porque a maioria dos suinicultores dos Países Baixos estão zangados: com o governo, que os força a reduzir as emissões de CO2 e azoto e com a UE, culpada por tornar a política agrícola comum mais ecológica à custa dos criadores intensivos de animais. 

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Bert Pappot:Euronews

Mas Pappot concorda com a ideia de reduzir a agro-indústria holandesa.

Bert Pappot: "Os agricultores têm demasiados porcos para manter os custos de produção baixos. Nem toda a gente consegue sair deste círculo vicioso. No passado tínhamos 450 porcas reprodutoras, hoje temos apenas 25. -No passado produzíamos demasiados porcos sem conseguirmos um bom preço. Nunca mais faremos isso". 

Estruturas de fornecimento de energia

Sendo um país fortemente industrializado, um dos principais desafios para os Países Baixos é uma revisão completa das estruturas de fornecimento de energia. Enquanto algumas indústrias preparam uma conversão para o hidrogénio, o reciclador de resíduos Omrin opta pelo biogás de fabrico caseiro. 

Actualmente, a indústria europeia utiliza apenas 12% de materiais reciclados. O Acordo Verde proposto pela Comissão Europeia quer aumentar este número. A Omrin, que acaba de ganhar o prémio de "empresa mais sustentável do país, mostra o caminho.

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Jelmar HelmhoutEuronews

Jelmar Helmhout (porta-voz da Omrin): "Ganhámos o prémio porque aqui, na prática, somos capazes de separar os resíduos orgânicos dos resíduos e desta forma retirar gás. E, além disso, somos capazes de separar os plásticos dos resíduos e somos capazes de fazer novas matérias-primas e novos produtos a partir deles. E com a separação dos resíduos orgânicos e dos resíduos plásticos, somos também capazes de reduzir o CO2".

O caso da fundação Urgenda desencadeou outras ações legais em todo o mundo. Será que o clima será salvo pelo Estado de direito? 

Na mesma altura em que os juízes dos Países Baixos obrigaram o governo a acelerar a proteção do clima, uízes alemães rejeitaram um caso semelhante. Muitos casos climáticos noutros locais estão pendentes. A batalha legal continua.

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