Estado de direito na Polónia promete ensombrar cimeira em Bruxelas

O inesperado aumento global dos preços da energia será um dos pratos fortes da cimeira europeia de dois dias que arranca esta quinta-feira em Bruxelas.
Vários países pedem medidas especiais para fazer frente à crise, que não distingue famílias nem empresas.
Alguns Estados-membros, sob a batuta de Espanha, defendem soluções como a compra conjunta de gás, tal como Bruxelas fez, por exemplo, com a compra de vacinas contra a Covid-19. Mas outros consideram que se trata de coisas distintas.
"Tecnicamente, é certo que é complicado porque não são os Estados que compram, são as empresas. Mas a criação de um coletivo que ofereça uma certa garantia de compra para todos e que represente um volume suficiente para os países que vendem gás é uma boa ideia. Talvez não cubra tudo, mas pode ajudar a criar uma reserva mínima disponível para todos", sublinhou, em entrevista à Euronews, a ministra espanhola com a pasta da Transição Ecológica, Teresa Ribera.
A Alemanha e os Países Baixos, que a acreditam que a crise terminará na primavera, preferem que sejam os mercados a autorregular-se.
França, por outro lado, entende que a energia nuclear pode ser parte da solução, enquanto a Polónia e a Hungria fazem pressão para reduzir as ambições verdes.
Algo que a Comissão Europeia não está disposta a aceitar, considerando a ameaça das alterações climáticas.
"A transição para a energia verde é não só vital para o nosso planeta, como também é crucial para a nossa economia e para a resiliência face a choques de preços energéticos", lembrou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Nesta cimeira, adivinha-se outro ponto de fricção, mais profundo, relacionado com o Estado de Direito na Polónia.
O executivo insiste que a Constituição polaca tem primazia sobre o direito comunitário, desafiando Bruxelas. Os eurodeputados exigem ação da Comissão Europeia.
"Agora que assistimos a um debate cada vez mais dividido e tóxico sobre o Estado de direito na Europa, é vital que o Conselho Europeu assuma finalmente a sua responsabilidade a este respeito e dê o ímpeto e as orientações que normalmente gosta de dar", referiu a eurodeputada holandesa do Grupo do Partido Popular Europeu, Esther de Lange.
No entanto, a chanceler alemã, Angela Merkel, pediu mais diálogo e alertou contra a suspensão dos fundos europeus destinados à Polónia e Hungria.
Uma decisão clara sobre o assunto é improvável esta semana.