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Extrema-direita austríaca progride nas sondagens: uma dor de cabeça para Bruxelas

Pessoas participam numa manifestação contra as restrições impostas pelo coronavírus em Viena, Áustria, a 8 de janeiro de 2022\.
Pessoas participam numa manifestação contra as restrições impostas pelo coronavírus em Viena, Áustria, a 8 de janeiro de 2022\. Direitos de autor  AP Photo/Lisa Leutner
Direitos de autor AP Photo/Lisa Leutner
De Daniel Harper
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A popularidade da extrema-direita aumenta na Áustria. Uma dor de cabeça para Bruxelas.

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Apesar de ter perdido credibilidade após o escândalo de Ibiza de 2019, o Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ) está a recuperar a popularidade perdida e progrediu nas intenções de voto.

De acordo com sondagens recentes, a formação de extrema-direita é tão popular como no período em que esteve no poder pela última vez, durante o governo de coligação com o Partido Popular Austríaco (OVP) em 2017. Em 2020, o FPÖ tinha 11% das intenções de voto. Atualmente, é o partido mais popular e um dos principais candidatos à chancelaria da Áustria nas eleições de 2024.

Durante as eleições regionais de janeiro, o FPÖ ficou em segundo lugar no maior estado do país, a Baixa Áustria, obrigando o ÖVP a aceitar uma coligação. Algumas semanas mais tarde, entrou no governo regional de Salzburgo, o estado mais rico fora de Viena.

"A pandemia, a guerra russa contra a Ucrânia, as atuais inseguranças económicas e os números da imigração proporcionaram um solo fértil para o regresso do partido", disse à euronews Manès Weisskircher, cientista político da TU Dresden.

"Além disso, os sociais-democratas, atualmente o maior partido da oposição no parlamento austríaco, tiveram um mau desempenho nos últimos anos, que ficaram marcados por lutas intra-partidárias em vez de uma campanha de oposição eficaz", acrescentou o especialista.

Pandemia ajudou extrema-direita

O FPÖ voltou a afirmar-se como o partido verdadeiramente "livre" diante da sua base de apoio, durante a pandemia, quando o governo austríaco começou a restringir as liberdades pessoais através de confinamentos ou campanhas de vacinação, por exemplo.

Nessa altura, o partido ainda não tinha recuperado do escândalo de Ibiza de 2019, quando o então vice-chanceler da Áustria e líder do partido FPÖ, Heinz-Christian Strache, foi filmado a obter favores políticos de contactos comerciais russos. Strache assinou um acordo de parceria com o Partido Rússia Unida de Putin em 2016.

Nessa altura, a canção dos Venga Boys "We're going to Ibiza" atingiu o primeiro lugar nas classificações musicais austríacas.

Strache demitiu-se e a coligação governamental foi dissolvida pouco depois, colocando Sebastian Kurz, do OVP, no lugar de chanceler da Áustria.

Mas a crise sanitária mundial deu-lhe uma primeira oportunidade de regressar. Todos os fins-de-semana havia marchas contra o confinamento, contra a vacinação e a favor da liberdade no centro da cidade, com bandeiras austríacas a serem agitadas fervorosamente.

O atual líder do FPÖ, Herbert Kickl, chegou mesmo a denunciar os rumores de que tinha sido secretamente vacinado contra o novo coronavírus em 2021.

A guerra na Ucrânia não ajudou o partido no poder, penalizado pela subida dos preços.

As sanções contra a Rússia puseram à prova a "neutralidade" austríaca.

Depois de meses de investigação sobre corrupção, Kurz demitiu-se do cargo de chanceler, dois anos após ter dissolvido o governo de coligação, deixando o ÖVP a braços com uma má reputação e com um ambiente de especulação pública, o que acabou por favorecer o FPÖ.

Cartazes polémicos

As ações do FPÖ geram polémica. Durante o período que antecedeu as eleições para a Câmara Municipal de Viena, em outubro de 2020, o cartaz do candidato do FPÖ, Dominik Nepp, pendurado na vertical, mostrava na metade inferior, uma mulher branca a gritar, enquanto um homem de pele escura e de aspeto ameaçador a ameaçava com uma faca.

A metade superior do cartaz mostrava Dominik Nepp ao lado da mulher com um ar satisfeito, com  o texto seguinte: "Com ele, Viena estará novamente segura", e os outros candidatos "vão-nos colocar em perigo".

Houve exemplos similares em relação aos muçulmanos e aos imigrantes em geral. O próprio Nepp referiu-se ao coronavírus como o "vírus dos requerentes de asilo".

Recentemente, membros do FPÖ deslocaram-se a Cabul, a capital do Afeganistão controlada pelos talibãs, onde as mulheres estão proibidas de frequentar o ensino superior, para dar "a imagem real" do país. O verdadeiro objetivo da viagem era garantir a libertação de um extremista de direita e fundador de um partido político, agora dissolvido por estar ligado ao nacional-socialismo.

Em julho, membros do FPÖ foram encontrados entre várias centenas de outros manifestantes de extrema-direita, numa marcha que proclamava o "poder étnico branco" e o objetivo de "proteger o povo austríaco".

Partido tenta seduzir "pessoas que se sentem confusas"

Situado ao longo da rota migratória dos Balcãs, o país receber o quarto maior número de pedidos de asilo da União Europeia em 2022. Para um país com pouco menos de nove milhões de habitantes, a migração gera um debate constante desde há muito tempo.

"Eles apelam às pessoas que se sentem confusas face à complexidade dos desafios que enfrentamos, incluindo o coronavírus, a Ucrânia e os desafios económicos, e essas pessoas sentem-se muito inseguras", disse à euronews Martin Kohanec, professor do Departamento de Políticas Públicas da Universidade da Europa Central, em Viena.

De acordo com o especialista austríaco, os migrantes são os alvos "fáceis" dos partidos de direita cuja estatégia é apresentar os vários desafios, incluindo a imigração, como ameaças.

Alexander Pollak, porta-voz da organização de direitos humanos SOS Mitmensch, afirmou que o FPÖ está a levar a cabo uma "campanha racista a longo prazo" contra os muçulmanos.

O impacto da subida da extrema-direita para a UE

Em março, o Presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy discursou em direto no Parlamento austríaco. Quando começou a agradecer à Áustria o seu apoio à Ucrânia, os 29 deputados do FPÖ presentes no hemiciclo, incluindo o líder Herbert Kickl, abandonaram a sala, deixando cartazes onde se lia "paz" e "neutralidade".

Kickl e os membros do partido têm manifestado a sua oposição às sanções da UE e a sua admiração por líderes como o primeiro-ministro húngaro Victor Orbán. Kickl espera poder usar o poder de veto da Áustria para bloquear as sanções contra a Rússia, caso seja eleito.

Na Itália, na Polónia, na Hungria e na Eslováquia, há governos populistas no poder. Na Alemanha, a popularidade do partido de extrema-direita alemão AfD está a aumentar, mais uma razão de preocupação para Bruxelas.

Ao lado de outros partidos de direita, como o AfD alemão, a Liga italiana e o Rassemblement National francês, o FPÖ faz parte do Grupo Identidade e Democracia do Parlamento Europeu, o que torna no grupo minoritário de direita mais forte na instituição da UE.

Não é claro se o FPÖ conseguirá manter a atual dinâmica antes das eleições do outono de 2023, mas com as lutas internas que assolam os partidos centristas, o caminho para o poder poderá ficar facilitado.

Alexander Van der Bellen, presidente da Áustria, já disse que não nomeará como chanceler Herbert Kickl, caso a extrema-direita vença as legislativas de 2024, porque se trata de “um partido antieuropeu" que "não condena" a guerra da Rússia na Ucrânia.

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